Juremir Machado da Silva

Cercar parques

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Cercar parques Foto: Eduardo Beleske/PMPA

Uma mão ajuda a outra e todas juntas privatizam melhor uma cidade. O prefeito de Porto Alegre, o simpático Sebastião Melo, que se converteu ao bolsonarismo para chegar ao poder, abraçou um modelo neoliberal de gestão e tem pressa em aplicá-lo na íntegra. A Redenção terá bares e seus clientes poderão conversar com passarinhos, na altura da copa de certas árvores, instalados num mezanino. A ideia é que sem consumo e comércio nada viceja. Nem poesia. Agora, em artigo publicado na mídia, Melo defende o cercamento de parques. Velha ideia.

Há uma palavra na moda: gentrificação. Sebastião Melo quer ser o agente mais notório da gentrificação em Porto Alegre. Na formulação mais gentil, significa transformar zonas degradadas em áreas nobres. Na mais realista, expulsar pobres de certos espaços para transformá-los em lugares refinados ao gosto das elites. Primeiro se aposta na degradação pelo abandono. Depois, na metamorfose privatizante. É o que o governo do Rio Grande do Sul quer fazer com a instalação de um condomínio de luxo nas docas: apartamentos colados à lâmina de água do Guaíba e com vista privilegiada para o seu pôr do sol. Quem pode ser contra a recuperação integral da orla? Ninguém. Para fazer isso é necessário doar um espaço público tão relevante a empreiteiras?

Especialistas do urbanismo garantem que não. E o cercamento dos parques? Sebastião Melo escreveu: “Hoje, não se pode legalmente contratar vigilância privada para os parques porque – abertos – são áreas de segurança pública. Por que então não cercar? Curitiba, São Paulo e Brasília têm exemplos bem-sucedidos nessa concepção”. Pode-se ajudar o prefeito: Paris também. Melo destaca, como base para a sua proposta de cercamento, o roubo de refletores, fios e equipamentos instalados na Redenção para as comemorações dos 250 anos de Porto Alegre. Se não há segurança, cerca. Ricos já vivem em condomínios fechados. O comércio está cada vez mais retrancado em shopping. Como Melo fará para evitar que os fios continuem sendo roubados nas ruas?

O perigo maior vem da última observação do prefeito Melo no seu artigo em defesa de parques com cercas: “Um cercamento planejado, com regras para ampla utilização, não há de ser mais prejudicial à cidade e aos moradores do que a escuridão”. Que regras seriam essas? Que planejamento seria esse? Alguma triagem? A escuridão já andou servindo de argumento para instalar bares em parque. Por que não o cercamento de cada quadra das ruas da cidade, pois segurança se sabe que não há?

Já imagino uma cerca em torno da Redenção feita pela prefeitura. Para evitar a breguice seria, obviamente, necessário fazer uma parceria público-privada. O que ganharia a empresa escolhida para executar a obra? Que tal o direito de explorar o parque cobrando entradas em algumas das suas áreas, ou em determinados dias, por dez, vinte ou trintas anos? Em outros lugares não funciona assim? É que não são tão modernos quanto nós. No Brasil, cerca tem um único objetivo: produzir gentrificação. Tudo isso e mais acontecerá. Porto Alegre ainda será uma Dubai. Os donos do pedaço ganharão dinheiro e dirão: “Viram como ficou melhor?” A ideia republicana de espaços públicos abertos, seguros, interessantes, livres e ao alcance de todos virou coisa de comunista anacrônico. Melo escondeu bem o jogo como deputado.

Caravana da Educação

Eduardo Leite cantou louvores ao seu governo no campo da Educação. A presidente do CPERS, o sindicato dos professores, Helenir Schurer, resolveu conferir in loco a situação das escolas gaúchas. Meteu o pé na estrada. O resultado dessa empreitada está em “Dossiê Caravana da Verdade”, um apanhado das misérias encontradas pelo caminho. O resumo da ópera é este; cinco semanas na estrada, quase 32 mil quilômetros percorridos, 430 escolas visitadas, 160 municípios, 42 núcleos do CPERS acionados, dez escolas com problemas estruturais graves encontradas, seis escolas com falta de pessoal, seis escolas adaptadas fora da sede original, etc. Em certos casos, o tempo passa e nada muda. Reina o prosaico “aguardando liberação de recursos”. Enquanto isso o governo concedeu 6% de reajuste ao funcionalismo, o que não dá nem metade da inflação. O CPERS queria aumento de 10%.

Tango no Instituto do Cérebro da PUCRS

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