Juremir Machado da Silva

Com quem irá a direita gaúcha?

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Com quem irá a direita gaúcha? Prefeito Sebastião Melo e o então governador Eduardo Leite. (Foto: Mateus Raugust/PMPA 05/07/2021)

Imaginemos o aparentemente óbvio: a eleição presidencial de 2022 vai para o segundo turno opondo Jair Bolsonaro e Lula. Como quem ficará a chamada direita gaúcha nesse duelo? Em 2018, ficou com Bolsonaro contra Fernando Haddad. Quem é essa direita gaúcha? PP, União Brasil, PTB, Novo, MDB, PSDB PL, etc. Fiquemos com quatro siglas de renome por razões diversas: PP, União Brasil, MDB e PSDB. PP e União Brasil são uma direita assumida. Portanto, só podem ficar com o capitão de malícias. O PP nem cogita outra possibilidade. O UB saltará do primeiro turno para o segundo transformado. É o partido de Onyx Lorenzoni.

No primeiro turno o União Brasil deve ter candidato próprio. O cacique da sigla, Luciano Bivar, que alugou o PSL para Bolsonaro em 2018, quer concorrer. Em outra eleição, ele conseguiu ser o último colocado. Tudo indica que pode ser imbatível nessa derradeira posição.

Mas como ficam o MDB e o PSDB? No último pleito, Sebastião Melo e Eduardo Leite, que seriam prefeito de Porto Alegre (MDB) e governador do Rio Grande do Sul (PSBD), abraçaram-se com Bolsonaro por antipetismo e lavajatismo, ignorando todo o passado de Bolsonaro como deputado do baixo clero e suas tiradas machistas, homofóbicas, racistas e de extrema direita. Parte do MDB vê-se como esquerda. Parte do PSDB acha-se de centro esquerda. Ambos são vistos pela esquerda como de direita.

Para onde irá essa direita que não se assume inteiramente como tal? Eduardo Leite, que corajosamente assumiu publicamente ser gay, vai se arrepender do arrependimento e escolher, “com ressalvas”, mais uma vez Bolsonaro? Sebastião Melo, que se bolsonarizou para melhor antagonizar o PT e atingir as suas metas de poder, vai dobrar a aposta? O MDB tem um estilo muito próprio de ser: no Nordeste, tende para Lula; no Sul, para Bolsonaro. O MDB nordestino é progressista? O MDB gaúcho é reacionário? Dentro de cada MDB há vários outros. É o partido boneca russa. Tudo bem. Faz parte do seu pluralismo frentista. Na hora do vamos ver, que é a defesa da democracia contra o pendor golpista de Bolsonaro, porém, o que fará o MDB do Rio Grande do Sul? E o PSDB?

Diga-me com quem andas e eu te direi quem és.

Pode-se andar com muita gente, não com todos.

Na França, a direita republicana não pode andar com Marine Le Pen e seu partido de extrema direita, que gostaria de jogar “fora das quatro linhas da Constituição”. A esquerda francesa, apesar de ver em Emmanuel Macron um neoliberal nefasto, foi com ele para barrar Marine.

E aqui? MDB e PSDB irão com Marine Le Pen ou com Lula?

Há quem diga cinicamente que para um tudo dependerá dos cargos.

A presença de Geraldo Alckmin, que deu o seu cavalo de pau, na chapa de Lula fará algum tucano pender para a esquerda? 

Em quem votará Fernando Henrique Cardoso como exemplo nacional? Em Bolsonaro, não. Em Lula? Ou exercerá seu direito não ir às urnas?

Houve um tempo em que o MDB gaúcho se orgulhava de ser o mais ético do país, o que era uma poderosa crítica ao MDB do restante do país. Hoje, segundo seus críticos, é o mais bolsonarista do Brasil.

Teremos cartas na mesa. Cedo ou tarde.

Linguagem neutra assombra conservadores

A extrema direita parece ter medo de qualquer coisa que remeta a sexo, sexualidade, gênero, orientação sexual, identidade de gênero, etc. É um pavor que só um Freud talvez pudesse explicar. Um combo de vereadores de Porto Alegre, envolvendo representantes de PSC, PP, PTB, PL, PSDB e Cidadania (que já foi comunista, mas endireitou faz tempo), conseguiu aprovar uma lei proibindo o uso da linguagem neutra nas escolas. Uma coisa é obrigar a usar linguagem neutra, o que ninguém faz, e outra bem diferente é impedir que se use. Essa turma, que engloba de saudosos da ditadura militar a neoliberais fanáticos, vê monstros para todo lado. É curioso ver neoliberal fixando norma sobre maneira de falar ou escrever. Já a ala militarista está no seu ninho.

Por trás dessa preocupação com a pureza da língua talvez se encontre apenas a velha conhecida homofobia. Pronomes neutros em escolas integram o imaginário de países atrasados como a Suécia.

Bolsonaro veta Lei Aldyr Blanc

Outro termo que horroriza a direita é cultura. É falar em cultura que vem logo o surto. O capitão de malícias Jair Bolsonaro vetou a nova lei Aldyr Blanc, que previa mais de R$ 3 bilhões para o setor cultural até 2027. Cultura faz pensar, contestar, ter ideias próprias. É algo muito perigoso para o conservadorismo. Como noutra época, de triste memória, quando alguém fala em cultura, o bolsonarismo saca suas armas, como a que o pastor Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação, carregava na pasta no lugar de um livro. Ou, como defende o secretário de fomento à cultura, André Porciúncula, o dinheiro disponível para o setor cultural deve ser usado para fomentar uma cultura do armamento.

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