Juremir Machado da Silva

Eduardo Leite, política e sexualidade

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Eduardo Leite, política e sexualidade Foto: Gustavo Mansur / Palácio Piratini

Recebi o ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, em Terra Mátria, live que venho fazendo às sextas-feiras, 19 horas. Entrevistei Leite, ao lado de Taline Oppitz, muitas vezes. A cada entrevista eu me questionava: devo perguntar se ele é gay? Preponderava sempre a mesma decisão: é assunto da intimidade dele. Só ele pode tomar a iniciativa de falar. Contei isso a Eduardo Leite desta vez. Ele falou com naturalidade da sua orientação sexual, do tempo que precisou para se assumir como gay e depois para tornar pública essa condição. A questão central era: que peso isso terá na campanha atual ao governo do Estado? Mais: está o eleitor gaúcho preparado para votar num candidato gay? O preconceito será vencido?

Há quem afirme que o Rio Grande do Sul é um estado muito machista e homofóbico. Esses atributos pesariam contra um candidato gay. As pesquisas eleitorais estariam indicando o contrário? Se Leite colhe bons resultados, a liderança é de Onyx Lorenzoni, representante do bolsonarismo raiz. Se os dados estão sendo lançados, a prova dos nove será feita. Ponderado, Eduardo Leite destaca que é mais fácil se assumir como gay sendo branco, de classe média, filho de professores e governador de Estado. Todos esses elementos teriam ajudado a frear o preconceito. O mesmo se dará na solidão da indevassável cabine eleitoral? A sociedade, como o próprio Eduardo Leite, está mudando e ele espera ser julgado pelo que fez ou não como governador. 

A nossa conversa abordou assuntos delicados que cercam Eduardo Leite nos últimos tempos: a derrota para João Dória Júnior na prévia do PSDB e a insistência em ser candidato à presidência da República; a candidatura ao Piratini depois de ter dito várias vezes que não concorreria à reeleição; o apoio dado, ainda que com ressalvas, a Jair Bolsonaro em 2018; as críticas ao seu governo no campo da educação. As respostas foram tranquilas e firmes. Segundo Leite, Dória venceu a prévia com os votos dos que não o queriam como candidato à presidência da República, mas desejavam a sua renúncia para apostar na candidatura de Rodrigo Garcia ao governo de São Paulo. Uma vitória de Pirro? Nessa perspectiva, a prévia não teria escolhido para valer um candidato.

Sobre concorrer ao governo do Rio Grande do Sul depois de ter dito que era contra a reeleição, Leite tem uma explicação redondinha: não se trataria de reeleição na medida em que renunciou ao governo e, portanto, não está usando tempo de governador como candidato. Ele está em viagem pelo interior do Estado. Uma cidade depois da outra. Enquanto viaja, aguarda a decisão do MDB quanto à possibilidade de uma aliança. Por enquanto, o MDB mantém a candidatura do deputado Gabriel Souza ao Piratini. Leite considera que não cabe pressionar. No plano nacional, o ex-governador dispara contra Bolsonaro e contra Lula. Não se arrepende de ter votado no capitão. Para ele, o fundamental, naquela época, era barrar a volta do PT ao poder. Vale conferir.


Imagens e imaginário

Terra Mátria com Eduardo Leite na íntegra:


Tambor tribal

Adeus à casa de Caio Fernando Abreu

Diante da pressa dos seus demolidores, infelizmente não deu resultado a mobilização da comunidade cultural para impedir que viesse abaixo a casa do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu, no Menino Deus, em Porto Alegre. A demolição foi concluída na tarde de ontem. Caio foi um excelente contista com extrema sensibilidade para o “ar do tempo”. Encarnou como poucos o imaginário da sua geração. Ele e Clarice Lispector estão entre os escritores que têm frases suas mais citadas em redes sociais. Prova de sua atualidade.

Dottore Geraldo Da Ceamino

O Procurador do Ministério Público de Contas Geraldo da Camino, que também é poeta, doutorou-se em Ciências Jurídicas, em cotutela com dupla diplomação, pela UFRGS e pela Universidade de Florença. A tese já é livro: “República como responsabilidade” (editora Lumen Juris). Dottore Da Camino foi à Itália para a cerimônia de diplomação. Bravo!


Parêntese da semana

A edição da revista comandada por Luís Augusto Fischer aborda o tema que considero essencial por natureza: envelhecer. Aníbal Damasceno Ferreira, professor de cinema, conhecedor exímio de Machado de Assis e de Guimarães Rosa, amigo que Fischer e eu passamos anos e anos escutando, dizia que o homem nasce para se aposentar. Alguns não conseguem. A velhice muda de nome, mas continua inquietando.


Frase do Noites, o iluminista teve um lampejo ao ler sobre crimes de ódio nos últimos anos: “Quem semeia armas, colhe assassinatos”.


Escuta essa

Por que essa mesmo? Porque é linda, ora, bolas!  Gal Costa.

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