Juremir Machado da Silva

Golpe midiático-civil-militar

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Golpe midiático-civil-militar
Há militares brasileiros marchando de passo errado. Todo 31 de março, rasgando livros de história, eles comemoram o golpe que as Forças Armadas brasileira deram em 1964, depondo o presidente João Goulart. Escrevi dois livros sobre o assunto: 1964, golpe midático-civil-militar (Sulina) e Jango, a vida e a morte no exílio (L&PM).

Releio o que escrevi e me emociono. Jango soube o que se preparava contra ele e contra o Brasil: “Queriam que resistisse? Como fazê-lo se sabia mais do que os outros, muito mais do que aqueles que o incitavam a promover a guerra civil. Sabia dos telegramas enviados da Embaixada dos Estados Unidos no Rio de Janeiro ao Departamento de Estado pouco antes do fim: ‘As seguintes decisões foram tomadas de modo a dar apoio militar e logístico às forças anti-Goulart. Navios petroleiros darão apoio à esquadra partindo da base de Aruba. Força naval de combate foi ativada para exercícios na costa sul do Brasil, destino inicial é o porto de Santos. Força naval composta por um porta-aviões, quatro destroieres e cruzadores de apoio. De Porto Rico serão embarcados 110 toneladas de munição, armas leves e gás lacrimogêneo para contenção e controle de massas’”.

Soube da “Operação Brother Sam”, que os americanos negariam cinicamente durante muitos anos, antes que lhe dessem um nome. Soube daquilo que os americanos sabiam e soube que o fato de eles saberem provava que nada lhe restava a fazer, criando um terrível paradoxo: os militares brasileiros nacionalistas estavam traindo a pátria e agindo a serviço dos interesses dos Estados Unidos. Soube deste devastador telegrama da CIA: ‘João Goulart deve ser removido com urgência. Os governadores de São Paulo e Minas Gerais finalmente chegaram a um acordo. A revolução será iniciada pelas tropas de Mourão Filho’.

Releio também estre trecho de 1964: “Os telegramas de Gordon a Kennedy, agora de domínio público, são um mapa da participação americana na implantação da ditadura militar no Brasil”. Num deles, lê-se: “O fundamental é organizar as forças políticas e militares para reduzir o seu poder e, em caso extremo, afastá-lo”.

Sempre sinto raiva ao reler este telegrama ao Departamento de Estado americano apresenta o desfecho: “Estamos adotando medidas para favorecer a resistência a Goulart. Ações secretas estão em curso para organizar passeatas a fim de criar um sentimento anticomunista no Congresso, nas Forças Armadas, na imprensa e nos grupos católicos”.

A imprensa apoiou o golpe, com exceção Última Hora.

O Globo nunca se envergonhará suficientemente destas manchetes: “Fugiu Goulart e a democracia está sendo restaurada”.

“A Revolução democrática antecedeu em um mês a revolução comunista”.

Em editorial de 2 de abril de 1964, o jornal de Roberto Marinho delirava: “Vive a Nação dias gloriosos”.

O Jornal do Brasil citaria um grande jurista disposto a apequenar-se: “Pontes de Miranda diz que Forças Armadas violaram a Constituição para poder salvá-la!”

O Estado de S. Paulo viu um épico no golpe: “Essa revolução eterna dos homens e das nações que decidiram viver livres alcançou uma vitória espetaculosa, dramática e comovedora no Brasil”.

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