Juremir Machado da Silva

Influenciadores sem influência

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Influenciadores sem influência Foto: Divulgação / Hemmings

Li que o Instagram perdeu 44% de engajamento de 2019 para cá. Facebook é considerada uma rede social ultrapassada, cheia de participações de óbito e de felicitações por aniversário, uma coisa mais ou menos como o rock, ao gosto dos idosos. O Twitter seria apenas o último reduto dos mal-amados. O novo bar da moda é o TikTok. Digo bar por entender que a lógica é a mesma dos bares. Depois de algum tempo, cansa. A galera quer novidades. Mudam os nomes, os cardápios não são muito diferentes, a decoração pode ser temática, tudo se joga nisso. De repente, surge um novo point e todo mundo corre para lá.

Umberto Eco disse que a Internet deu voz aos imbecis. Possivelmente seja um pouquinho diferente: deu voz aos que nada tem para dizer, desde que o digam com ódio ou com humor. O importante é a pegada ou fazer rir. Mais rápido, melhor, não dá tempo de perceber o vazio. É o que Jean Baudrillard chamava de democracia radical: a fama ao alcance de todos, inclusive dos que não se destacariam por alguma realização extraordinária, o que era próprio da sociedade elitista. Só se pode comentar essa situação. Lamentar não vale a pena. Já se fala em influenciadores digitais tradicionais em pane. São aqueles que começaram, por exemplo, no longínquo ano de 2020. Agora é TikTok.

Há pouco quem não estava no Instagram era anacrônico. Agora, quem ainda está perdeu a hora de mudar. No TikTok o assunto prevaleceria sobre a autoria, não importando se é uma celebridade ou não. Na Internet há algo que ainda depende da lógica da distinção e da força das marcas: o jornalismo. Um post num portal de marca (UOL, G1) tem muito mais chances de bombar do que o mesmo post num blog individual. De qualquer maneira, quem não é celebridade, quer ser. Quem é, quer continuar, de preferência faturando consigo mesmo. Trocando em miúdos, não passa de uma grande corrida ao ouro e à fama.

Influenciadores influenciam sem ter o que dizer. Dito assim entra na categoria dos ressentidos e dos que não conseguem influenciar. Os historiadores do futuro serão desafiados a garimpar as frases e as imagens mais famosas e influentes dos influenciadores de 2022. Talvez algum deles perceba o essencial: as pessoas só queriam se distrair, matar o tempo, rir e, se possível, ganhar dinheiro e se esbaldar. A vida era simples, como sempre fora, exceto no tempo em que outros influenciadores pretendiam que o importante era ter o que dizer e buscavam a profundidade que escapava ao entendimento da maioria.

Então, de repente, graças à ciência e à inteligência, a tecnologia simplificou tudo e todos foram (in)felizes para sempre.

Depois da revolução do TikTok haverá outras. Por séculos e séculos redes sociais matarão redes sociais. Até que uma onda nostálgica reinventará o Orkut. E o Fusca. No Brasil, surgirá um novo Itamar Franco, que chegará à presidência da República eleito. Também virá um novo Plano Real para combater a nova velha inflação.

Por fim aparecerá um influenciador capaz de mandar todo mundo silenciar. Então se ouvirá o vento e o farfalhar das folhas amassadas pelo andar do rato silvestre. Mas isso se dará pelo ano 3.044.

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