Juremir Machado da Silva

Luva de pedreiro

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Luva de pedreiro Receba! | Foto: Instagram Iran Ferreira

Há muito tempo que eu descobri a fórmula do sucesso: S= (di+de)n. Sendo “s” sucesso, “di” (diferença ou diferencial) e “de” (descobrimento, desvelamento, desocultamento). Tudo isso na potência “n”. O sucesso máximo corresponde à maior potência possível de diferencial vezes descobrimento. Mas pode haver muito sucesso com um apenas um “d”. Por exemplo, muito diferencial. Ou muito desocultamento. Se um livro não faz sucesso, salvo injustiça, é por não fazer diferença nem descobrir (destapar, desocultar, tirar o véu) alguma coisa. E assim vai.

Anitta é campeã de fazer diferença. Desvelar é outra coisa: faz ver melhor o que está diante dos olhos e não se percebe. O melhor exemplo que conheço de desvelamento do cotidiano é uma piada de Luis Fernando Verissimo. A filha pede ao pai dinheiro para comprar um biquíni novo. O pai recusa dizendo que ela tem um ainda novo do verão anterior. Ela insiste dizendo “pai, eu cresci”. O pai cede: “Toma, vai comprar um biquíni maior”. Ela o corrige: “Maior, não, pai, menor”.

A internet é a mais incrível máquina de moer vaidades já inventada. Antes, o cara podia dizer que se não fazia sucesso era por falta de oportunidades para mostrar seu talento. Agora é só tentar. A maioria fracassa. Por quê? Por falta de diferencial ou de descobrimento. Velhos jornalistas sabem disso e nem arriscam ou fazem um pouquinho e largam. Sabem que o diferencial não está na técnica nem num bom coach. O diferencial está no conteúdo ou na forma. Um dos dois precisa ser absolutamente singular, inusitado, inesperado, mesmo simples. O diferencial é Luva de Pedreiro. O diferencial na potência máxima é Luva de Pedreiro comemorando com o seu bordão “receba”.

Diferenciais são profundos conhecimentos de um tema relevante e útil ou formas originais de falar desses conteúdos. Outro diferencial altamente eficaz no momento é o chamado, com a licença de Djamila Ribeiro, “lugar de fala”. A maioria dos que tentam a sorte na internet não têm “lugar de fala” interessante, nada desvelam nem produzem diferenças. Que pode um homem branco, sexagenário, heterossexual, de classe média, caseiro, abstêmio, moderado em tudo, ter a dizer?

A base da internet é “faça você mesmo”. A técnica, por mais complexa que seja, pode ser aprendida rapidamente. Já a diferença e o descobrimento não podem ser ensinados nem comprados. É talento.

Fica a dica: o que se quer compartilhar tem ou não luva de pedreiro? Tem algum efeito Anitta ou não? Se tiver, grite “receba” e espere o sucesso bater à porta, que ele virá. É sério! Receba e cole.

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Sociedade “midiocre”

A informação é uma estratégia do entretenimento. Por mais que os jornalistas acreditem no caráter utilitário das informações, multiplicando os “serviços” sobre meteorologia e trânsito, boa parte do público consome cada notícia como um divertimento tão fugaz quanto saber as fofocas sobre as celebridades. Por que seria útil para um morador de Cacimbinhas saber que um trem descarrilou na Índia provocando a morte de cinco pessoas? Por que alguém precisa saber a cada hora a temperatura que está fazendo ou que fará em seguida se isso não afetará realmente a sua vida ou pode ser conhecido com um simples toque na tela do celular?

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Depois que apareceram as imagens de corpos espalhados pelas ruas de Bucha, na Ucrânia, formaram-se dois campos pelo mundo: o dos que imediatamente denunciaram a barbárie russa; e o dos que prontamente condenaram mais uma farsa ucraniana. Agora, o primeiro grupo, contrário à guerra, torce, para não ser acusado de precipitação e russofobia, que o massacre seja verdadeiro, enquanto o segundo grupo, que justifica a invasão russa e considera guerras parte da vida, reza para que tudo não passe de fake news. O que são 410 mortos?!!!

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