Juremir Machado da Silva

Martha Medeiros saiu do sério

Change Size Text
Martha Medeiros saiu do sério Ato promovido pelo MBL em 2015 protestava contra Dilma e celebrava Lava Jato (Foto: Reprodução Facebook MBL-RS)

Um amigo me mandou uma coluna de Martha Medeiros. Fazia tempo que eu não lia um texto dessa cronista gaúcha de sucesso nacional. Martha escreve bem, com leveza e sagacidade. Os assuntos, em geral, não são a minha praia. Ela trata de temas caros a uma camada social sofisticada e moderna à qual não pertenço. Digo isso com a tranquilidade de um sexagenário que aprendeu a respeitar a qualidade alheia mesmo quando se sente estranho ao imaginário em questão. Em termos mais esclarecedores, é muito Moinhos de Vento. Sou Bom Fim.

A coluna que me enviou o Leandro é dez. Martha Medeiros sai do sério e detona, com elegância e pertinência, a turma do Parcão que votou em Jair Bolsonaro por medo do comunismo e por influência da Lava Jato. Como foi possível que alguém preferisse votar no destrambelhado capitão Bolsonaro, conhecido por tiradas racistas e homofóbicas, admirador de ditadura e de torturadores, em vez de apostar no pacato, sóbrio e moderado professor Fernando Haddad, homem, além de tudo, com experiência de gestão. Martha botou a faca na bota: “Não entendo quando dizem que a próxima eleição será difícil. Mais fácil, impossível. Armas versus livros. Culto à alienação versus incentivo ao conhecimento. Facilitações exclusivas para militares e evangélicos versus uma política social que atenda todas as pessoas, de qualquer credo, cor e gênero, de esquerda ou direita”. Bolsonaro X Lula.

Foi isso? Foi bem mais do que isso. A cronista pegou os bolsonaristas raiz ou de ocasião pelo nariz: “A dificuldade chama-se Lula, dirão os que ainda usam o líder petista como desculpa por terem votado num oficial que foi expulso do exército por terrorismo e cujo ídolo é um torturador”. Sobra para todos os que recorreram a tais justificativas para fazer o que queriam: escolher o pior. O papo é reto: “Já alguns bem-informados, que sabiam direitinho o que o PT havia feito pelos mais pobres, também vieram com essa conversa mole de ‘desencanto’, a fim de disfarçarem sua identificação com o capitão machista”. A recomendação final é uma aula de realismo: “A escolha é fácil: voltemos aos governos que nos desiludem como todos desiludem em algum ponto, mas que não colocam a democracia em risco, nem usam nossa fé contra nós mesmos”. O texto de Martha Medeiros saiu em Zero Hora.

Lavou a alma de muita gente. Que lição para tanto jornalista reacionário que anda por aí defendendo o capitão de malícias. Sabe-se que na mídia sempre é possível assumir posições de direita, mas qualquer aceno à esquerda pode resultar em acusação de descumprimento de preceito fundamental: a sagrada neutralidade, especialmente quando esta serve aos poderosos de direita no poder. Em outras palavrinhas, Martha mandou o seguinte recado aos que elegeram Bolsonaro alegando falta de escolha e que poderão repetir a dose: deixem de conversa mole, parem de contar histórias, assumam as suas responsabilidades.

Vi no texto da Martha Medeiros uma ponte entre Moinhos de Vento e Bom Fim. Parece muito melhor que uma “ponte para o futuro”.

Deus nos livre de Michel Temer e de Jair Bolsonaro.

É uma escolha muito fácil.

A escolha da democracia.

RELACIONADAS
;

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.