Juremir Machado da Silva

Por que as pessoas veem o Big Brother?

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Por que as pessoas veem o Big Brother? Reprodução Globoplay

Essa pergunta me fascina. O primeiro a fazê-la de maneira tão explícita, mas em busca de uma resposta intelectual, foi o filósofo Jean Baudrillard. Ele brincou com as possíveis respostas: por nada terem a fazer na vida; por serem imbecis; por gosto de olhar pelo buraco da fechadura; pela democracia radical, a possibilidade de se identificar com um vencedor sem méritos especiais, ou seja, se ele pode, eu também posso, sem ter de fazer algo extraordinário. Uma boa.

É possível que seja por simples distração. O tempo do julgamento dos gostos alheios passou. Andei espiando o BBB22. Confesso que jamais gostei da estética BBB: aquela coisa de casa de praia em dia de chuva, com todo mundo largado, alguns coçando as partes íntimas, jogando baralho, falando besteira e tentando pegar alguém por tédio ou estratégia. No meio dessa atmosfera rala, em que braços fortes valem como credenciais de alguma coisa, aqui ou ali uma conversa mais séria sobre o que pega muito na vida real: racismo, homofobia, machismo.

Observei pela fresta personagens como Jade Picon e Tiago Abravanel. Eles já foram eliminados. Não deixaram marcas profundas na casa. Não vão figurar na lista dos mais importantes participantes da história do reality. Outro que chama a atenção pela falta de relevo é Pedro Scooby. Afinal, o que ele tem? O BBB21 teve Juliette. Ela passava uma autenticidade nua, crua e deliciosa. Poucas vezes se viu num jogo desse tipo alguém com tanto carisma. A sensação que dá, desta vez, é que algo desandou. Claro que a audiência é alta. Mas nada relevante acontece. Em 2021, o espaço havia, de algum modo, virado uma espécie de esfera pública, tanto que entre os principais defensores do programa podiam ser encontrados ativistas de movimentos sociais.

O BBB tornou-se mais inclusivo com o passar do tempo. Já não é aquele reduto inicial de brancos sarados. Apesar disso, neste ano, patina na falta de conteúdo. Justamente na edição que tem o apresentador mais carismático, Tadeu Schmidt. Pedro Bial e Tiago Leifert, apesar da aceitação que tiveram, exibiam um ar arrogante. Um programa desse tipo é feito de detalhes subjetivos da ordem da empatia. Outro paradoxo do BBB, em tempos de crise da mídia convencional, é que dá visibilidade e consagra celebridades das bolhas da internet, fazendo delas o que ainda não eram, pessoas conhecidas de todo mundo, tendo de cobrir o rosto para ter um pouco de paz em voo.

O mundo das bolhas pode dar dinheiro e ocupação. Ainda não dá a visibilidade da televisão. O BBB está em decadência? É cedo para dizer. Cada edição tem uma cozinha própria. Será necessário fazer ajustes para que o BBB23 saia da mesmice e não seja apenas uma temporada de praia com muita pegação e pouca substância verbal. Por enquanto, Arthur Aguiar faz a festa. Brilha como um volante do Palmeiras. Eficaz, no lugar certo, passe curto, nada de fora de série.

O que continua a fascinar no BBB? Talvez, de fato, a democracia radical: ficar famoso, ganhar uma boa grana, aumentar o número de seguidores nas redes sociais, enfim, tudo isso sendo quem se é. Sem precisar fazer mil gols ou descobrir a vacina para a dengue. Yes!

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