Juremir Machado da Silva

Radicais são os outros

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Radicais são os outros Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Madrugada na cozinha do Alvorada:

– Precisamos fazer alguma coisa para deter a ação nefasta e cada vez mais disseminada dos radicais livres e dos extremistas de esquerda.

– Falta informação à maioria. Acreditam em fake news. Uma seita.

– Temos de melhorar nossos serviços de informação.

– O gabinete do ódio?

– Isso é desinformação. Tudo é feito por amor.

– Poucos sabem com o que estão lidando.

– Desconhecem o perigo. Isso atinge o coração de todos.

– O mar não está para peixe.

– Os tubarões fazem o que bem entendem.

– Não há tecido que resista a ataques nervosos e contínuos. Um dia a história reconhecerá o que temos sofrido com os radicais.

– É uma questão de regime.

– Por mim ainda seria o regime militar.

– Queremos regimes duros, mas suportáveis e tolerantes.

– Pra nós.

– O povo não suporta mais regimes que surgem do nada, prometem aliviá-lo de todos os pesos e só deixam sequelas como essas da covid-19.

– Regime não é moda.

– Basta de fórmulas mágicas e de promessas messiânicas.

– Precisamos cortar na própria carne. Ainda que seja picanha.

– Sinto dizer, embora seja minha obrigação, mas um regime capaz de combater eficazmente os radicais é como uma ditadura impiedosa e hermética: exige normas de exceção, comportamentos rigorosos e um grande capitão.

– A lei é uma só e não admite réplicas: fechar a boca para não entrar lula.

– Sou contra qualquer tipo de censura.

– Não dá mais nem pra falar mal do STF.

– Mas, em casos muito graves, é o único jeito de andar na linha. 

– Nas quatro linhas.

– O mundo precisa de uma lipoaspiração.

– O mundo precisa cuidar melhor dos seus órgãos vitais.

– O executivo?

– Passamos dos regimes ditatoriais à ditadura dos regimes.

– E do STF.

– Bons regimes melhoram a circulação global.

– Exigem um perfil mais vertical para todos.

– É o preço a pagar.

– Há um inchaço internacional.

– Que nojo dessa tal paridade de preços.

– As nações não conseguem mais suportar o peso dessa nova realidade visceral e mórbida. A Rússia que o diga: a Ucrânia era muito espaçosa.

– Estamos quase numa metástase.

– Do preço do petróleo.

– É a quinta onda, a da obesidade radical: idade obesa.

– Faltam terapias de choque. Cada império tem o seu mal.

– É mais do que isso: é uma questão de saúde pública.

– Isso mesmo: não existe mais corpo privado.

– Ainda mais em se tratando do corpo social.

– É só falar em privatizar a Petrobrás que o pau pega.

– Exatamente, é o que digo, num mundo de visibilidade e de transparência: o corpo é sempre social. Exposto. Não se pode nem fazer um orçamento secreto.

– Está visto: precisamos mudar de regime. 

– Ao menos de cardápio.

– E de urnas.

– Não há organismo que resista à ação desses radicais.

– Livres como ministros do STF.

– Incontroláveis, vermelhos, petistas.

– É indigesto. Nossos radicais nunca serão vermelhos.

– Temos de bombardeá-los e estabelecer um cordão sanitário.

– Como o muro do Trump.

– Nem me fale disso. Saudades dele.

– Do muro?

– Do Trump. Tinha uma ideologia robusta.

– Como uma fronteira impermeável.

– Necessitamos de novas barreiras orgânicas de proteção. 

– Em certas regiões do mundo, como na África, o problema é mais embaixo, é de abastecimento. Em outras, de convicção. Tudo por causa do globalismo.

– Cabe a nós, países desenvolvidos, ainda que não reconhecidos, abastecer o mundo com valores sadios e regimes eficientes e de resultados.

– Por onde ele anda?

– O regime de resultados?

– O Paulo Guedes.

– O negócio é cortar as gorduras. Porco, nunca mais!

– O combustível está pela hora da morte.

– São porcos, sim, mas não sejamos radicais. Falar assim não resolveria nada. Isso não seria politicamente correto e acarretaria graves efeitos colaterais. Só criaria confusão e aumentaria os preconceitos. Cortar gorduras poderia levar à inanição e paralisar os bons combates.

– Não sabia que gostava do politicamente correto!

– Gosto. Somos nós.

– Temos é de conservar as mãos livres para baixar a temperatura.

– Ao menos o teor calórico.

– Lula não dá mole para os radicais. Corta.

– Os nossos. Não é bizarro?

– Exótico. Muito pesado. Difícil de engolir para alguns.

– Precisamos voltar à mesa com outra postura.

– Com menos apetite.

– É uma questão de cozinha internacional.

– Eu diria, se me permite, de mudar o paladar.

– Novas receitas para o imaginário coletivo.

– Outra dieta.

– Sim, a imagem é boa, uma dieta civilizatória.

– Ocidental. Saudades.

– De quem?

– Do nosso Olavo. Gostava da prosa dele.

– Corrosiva.

– Menos ácida do que a prosa comunista da Globo.

– Ainda bem que temos a Record.

– Por quanto tempo?

– Mais temperada, mais consistente.

– Diga-me qual o teu regime e direi quem és.

– Confúcio?

– Está frio.

– Pinochet?

– Gelado.

– Olavo?

– Geladíssimo.

– Heleno?

– O general?

– Um grego.

– Edir Macedo.

– Universal.

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