Radicais são os outros
Madrugada na cozinha do Alvorada:
– Precisamos fazer alguma coisa para deter a ação nefasta e cada vez mais disseminada dos radicais livres e dos extremistas de esquerda.
– Falta informação à maioria. Acreditam em fake news. Uma seita.
– Temos de melhorar nossos serviços de informação.
– O gabinete do ódio?
– Isso é desinformação. Tudo é feito por amor.
– Poucos sabem com o que estão lidando.
– Desconhecem o perigo. Isso atinge o coração de todos.
– O mar não está para peixe.
– Os tubarões fazem o que bem entendem.
– Não há tecido que resista a ataques nervosos e contínuos. Um dia a história reconhecerá o que temos sofrido com os radicais.
– É uma questão de regime.
– Por mim ainda seria o regime militar.
– Queremos regimes duros, mas suportáveis e tolerantes.
– Pra nós.
– O povo não suporta mais regimes que surgem do nada, prometem aliviá-lo de todos os pesos e só deixam sequelas como essas da covid-19.
– Regime não é moda.
– Basta de fórmulas mágicas e de promessas messiânicas.
– Precisamos cortar na própria carne. Ainda que seja picanha.
– Sinto dizer, embora seja minha obrigação, mas um regime capaz de combater eficazmente os radicais é como uma ditadura impiedosa e hermética: exige normas de exceção, comportamentos rigorosos e um grande capitão.
– A lei é uma só e não admite réplicas: fechar a boca para não entrar lula.
– Sou contra qualquer tipo de censura.
– Não dá mais nem pra falar mal do STF.
– Mas, em casos muito graves, é o único jeito de andar na linha.
– Nas quatro linhas.
– O mundo precisa de uma lipoaspiração.
– O mundo precisa cuidar melhor dos seus órgãos vitais.
– O executivo?
– Passamos dos regimes ditatoriais à ditadura dos regimes.
– E do STF.
– Bons regimes melhoram a circulação global.
– Exigem um perfil mais vertical para todos.
– É o preço a pagar.
– Há um inchaço internacional.
– Que nojo dessa tal paridade de preços.
– As nações não conseguem mais suportar o peso dessa nova realidade visceral e mórbida. A Rússia que o diga: a Ucrânia era muito espaçosa.
– Estamos quase numa metástase.
– Do preço do petróleo.
– É a quinta onda, a da obesidade radical: idade obesa.
– Faltam terapias de choque. Cada império tem o seu mal.
– É mais do que isso: é uma questão de saúde pública.
– Isso mesmo: não existe mais corpo privado.
– Ainda mais em se tratando do corpo social.
– É só falar em privatizar a Petrobrás que o pau pega.
– Exatamente, é o que digo, num mundo de visibilidade e de transparência: o corpo é sempre social. Exposto. Não se pode nem fazer um orçamento secreto.
– Está visto: precisamos mudar de regime.
– Ao menos de cardápio.
– E de urnas.
– Não há organismo que resista à ação desses radicais.
– Livres como ministros do STF.
– Incontroláveis, vermelhos, petistas.
– É indigesto. Nossos radicais nunca serão vermelhos.
– Temos de bombardeá-los e estabelecer um cordão sanitário.
– Como o muro do Trump.
– Nem me fale disso. Saudades dele.
– Do muro?
– Do Trump. Tinha uma ideologia robusta.
– Como uma fronteira impermeável.
– Necessitamos de novas barreiras orgânicas de proteção.
– Em certas regiões do mundo, como na África, o problema é mais embaixo, é de abastecimento. Em outras, de convicção. Tudo por causa do globalismo.
– Cabe a nós, países desenvolvidos, ainda que não reconhecidos, abastecer o mundo com valores sadios e regimes eficientes e de resultados.
– Por onde ele anda?
– O regime de resultados?
– O Paulo Guedes.
– O negócio é cortar as gorduras. Porco, nunca mais!
– O combustível está pela hora da morte.
– São porcos, sim, mas não sejamos radicais. Falar assim não resolveria nada. Isso não seria politicamente correto e acarretaria graves efeitos colaterais. Só criaria confusão e aumentaria os preconceitos. Cortar gorduras poderia levar à inanição e paralisar os bons combates.
– Não sabia que gostava do politicamente correto!
– Gosto. Somos nós.
– Temos é de conservar as mãos livres para baixar a temperatura.
– Ao menos o teor calórico.
– Lula não dá mole para os radicais. Corta.
– Os nossos. Não é bizarro?
– Exótico. Muito pesado. Difícil de engolir para alguns.
– Precisamos voltar à mesa com outra postura.
– Com menos apetite.
– É uma questão de cozinha internacional.
– Eu diria, se me permite, de mudar o paladar.
– Novas receitas para o imaginário coletivo.
– Outra dieta.
– Sim, a imagem é boa, uma dieta civilizatória.
– Ocidental. Saudades.
– De quem?
– Do nosso Olavo. Gostava da prosa dele.
– Corrosiva.
– Menos ácida do que a prosa comunista da Globo.
– Ainda bem que temos a Record.
– Por quanto tempo?
– Mais temperada, mais consistente.
– Diga-me qual o teu regime e direi quem és.
– Confúcio?
– Está frio.
– Pinochet?
– Gelado.
– Olavo?
– Geladíssimo.
– Heleno?
– O general?
– Um grego.
– Edir Macedo.
– Universal.