Juremir Machado da Silva

Ser de esquerda na mídia de Porto Alegre

Change Size Text
Ser de esquerda na mídia de Porto Alegre Foto: Serj Sakharovskiy/Unsplash

Cite, leitor que se interessa por política e jornalismo, dez jornalistas assumidamente de direita atuando na grande mídia da capital gaúcha. Fácil, não? Cite mais dez. Continua fácil. Agora, com a mesma rapidez, cite dez jornalistas assumidamente de esquerda atuando na mesma grande mídia de Porto Alegre. Impossível, não?

Eu não me lembro de um só. Não tem?

Deve ter, mas, mais ou menos como ocorre no futebol, é preciso esconder o time, se for de esquerda, para não perder o emprego.

Existe, de certo modo, uma linha divisória partidária que separa o possível do inaceitável para permanecer empregado na grande mídia de Porto Alegre, onde nem tudo que se planta cresce e o que mais floresce está longe de ser o amor, o pluralismo e a liberdade de expressão.

Do PP até o MDB, passando por União Brasil, pode.

O limite é o MDB.

PT, PSOL e o que vier à esquerda de jeito nenhum.

Salvo nos bastidores.

O jornalista de direita bate no peito. Se duvidar, grita: “Bolsonaro, tchê!”. Ouvi um dizer no ar algo deste quilate: “Ainda vamos reeleger Bolsonaro”. O de esquerda tenta ficar invisível para sobreviver. Se não for militante de esquerda, partidário – mas receber o rótulo de esquerdista, petista, comunista, etc. –, dança. Yes!

Não é estranho, bizarro, esquisito? O país, segundo se diz e critica, está polarizado. De resto, sempre esteve. Tem bolsonarista matando petista em festa de aniversário. Mas, no jornalismo da grande mídia de Porto Alegre, só tem direitistas e neutros. Que coisa!

Não critico os neutros. Alguns fazem grande jornalismo. Vejo cristalinas diferenças entre jornalismo e militância. Ao contrário do que diz a esquerda, é possível ser neutro e imparcial, embora seja difícil, pouco praticado e nem sempre conveniente. Como não tomar parte na crítica contra um estuprador de parturientes? Como não tomar parte no enfrentamento a quem quer fechar o STF? Mais importante é ser independente, ou seja, ser livre para criticar esquerda e direita quando considerar pertinente. Sou defensor do pluralismo. Programa de rádio e televisão precisa ouvir direita e esquerda nas mesmas proporções. A missão é dar voz e vez a todos. Não rola assim.

Rolava assim no Esfera Pública.

Aí a virada bolsonarista acabou com a festa.

Mais uma vez parece futebol de primeira e segunda divisões. Tem gay no exército, na polícia, na marinha, no jornalismo, mas não tem um só gay assumido atuando em times da primeira e segunda divisões.

Esse mistério do futebol tem um nome: homofobia. Dificilmente existe ambiente mais homofóbico do que o do futebol profissional.

Que nome dar ao mistério do jornalismo de Porto Alegre?

A mídia de Rio de Janeiro e São Paulo está repleta de antibolsonaristas. Quantos antibolsonaristas combatem Voldemort, para usar o apelido dado a Bolsonaro por Anitta, nas páginas, microfones e telas da mídia da valorosa capital do Rio Grande do Sul?

RELACIONADAS

Esqueceu sua senha?

ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.
ASSINE E GANHE UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA PARÊNTESE.