Juremir Machado da Silva

Tucanos bolsonaristas

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Tucanos bolsonaristas Foto: Alan Santos / PR

Tudo indica que vai dar Bolsonaro contra Lula na final, ou seja, no segundo turno, se o capitão não for esmagado no primeiro round. O Brasil não é a França. O pessoal de centro direita, mais uma vez, ficará com Bolsonaro. Acontece que a centro direita no Brasil é só conversa para eleitor dormir. É direita ou extrema direita com gel no cabelo e outras embalagens para dissimular o produto e a ideologia. O União Brasil, nova denominação do velho DEM/PFL/ARENA, que andou se fantasiando de centro democrático, vai de Bolsonaro por ser bolsonarista de alma. Alguém em sã consciência imaginaria o contrário? Já o PSDB, em relação ao qual alguns nutrem ilusões, fará o mesmo.

Já está nos jornais: “O apoio [tucano] a Bolsonaro já foi selado em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Amazonas e Rondônia. Também há movimentos de aproximação no Ceará e na Paraíba”. Como assim? Os tucanos são antipetistas. Ponto. E o MDB? O do Nordeste irá de Lula. O do Sul, de Bolsonaro. Deu para a bola. Mas e tudo o que Bolsonaro disse e fez? Quem dessa gente se importa? Bolsonaro defeca negacionismo, homofobia, racismo, machismo e que tais? Ora, pensa com as suas contas o perfeito homem de bem brasileiro, do qual o tucano é encarnação, “quem nunca”? Há quem fale assim nos bastidores da vida: “Meu pai, meu avô, meu tio, meu irmão, eu mesmo, enfim, todo mundo fala como Bolsonaro. A esquerda exagera. É só palavrório”, etc.

O bolsonarismo expressa o brasileiro médio no banheiro. Como ficam a defesa do meio ambiente, a valorização da diversidade, a pauta de costumes, a imagem do país no exterior, a preservação da Amazônia, as terras indígenas, a democracia, as relações entre os poderes e tudo mais? A direita engravatada no fundo acha que tem muita caricatura nisso tudo, jogo de cena, que não vai ter golpe algum, e se tiver, sendo bom para os negócios, qual o problema? A isso chamam de pragmatismo, de fim das ideologias, de visão sensata do mundo. Como se sabe a ideia de que não existem mais esquerda e direita é sempre uma ideia de direita, muitas vezes defendida por um falso centrista.

Bolsonaro é um tucano que não dissimula nem usa terno de grife. Até o sisudo e conservador jornal O Estado de São Paulo está escandalizado com a pressa do mercado, pintado como “parte do empresariado”, em apoiar o capitão de malícias. O Estadão, que ajudou a preparar o golpe de 1964 e foi fiel aos militares, exceto quando sofreu censura, pelo jeito não aprendeu que o mercado brasileiro é assim mesmo: ficou com os generais, derretia-se para o regime de Pinochet, no qual Paulo Guedes foi estagiário do modelo econômico, e nunca se impediu de ser comensal do regime de exceção. O Estadão mesmo botou luto por Pinochet. Ótimo que esteja agora do lado da democracia.

Aos poucos as abóboras vão se acomodar na carroça. O cenário de 2018 tenderá a se repetir. A diferença poderá ser o capital de cada candidato. Lula parece ter mais bala na agulha do que Fernando Haddad. Opa! Bala na agulha é imagem mais adequada para o bolsonarismo. Enfim, de repente Fernando Henrique Cardoso saiu da sua elegância e berra: “Bolsonaro, não” e enquadra o tucanato na moldura da democracia.

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