Juremir Machado da Silva

Uber, um conto da carochinha

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Uber, um conto da carochinha Foto: Freepik

Quando o Uber chegou ao Brasil os neoliberais deslumbrados por novas tecnologias declararam que um novo mundo de liberdade começava. O motorista seria livre, faria o seu horário, trabalharia quantas horas quisesse e seria feliz sem patrão, como se os liberais não gostassem de patrões ou não fossem eles mesmos os patrões. Estive entre os que disseram de cara o seguinte: que capitalismo é esse em que o patrão não entra nem com os meios de produção? Se o motorista bate o carro ou adoece, está ferrado. Fui esculachado como comunista e decrépito. Com preço baixos, que podiam ser a metade de uma corrida de táxi, tudo indicava que se tratava de uma estratégia predatória para quebrar os táxis e depois impor o preço que se quisesse. Era o tempo das balinhas, dos carros lindos e do preço muito baixo. Os deslumbrados gelatinosos adoravam até as conversas dos motoristas de Uber, que seriam mais cultos e inteligentes do que os velhos taxistas.

Cada vez que eu chegava de táxi num lugar, tinha de ouvir:

– Aí, hein, de táxi. Ainda não descobriu os aplicativos. É fácil usar.

Quando chego de Uber, ouço:

– Aí, hein, de Uber!

O tempo passou e o resultado está aí: cada vez mais difícil pegar um Uber barato. As balinhas desapareceram, o que tem de motorista de Uber bolsonarista e escutando sertanejo universitário é uma grandeza. Os preços dispararam. Certo, os táxis faziam o que bem entendiam. A chegada dos aplicativos serviu para segurar os preços dos táxis e melhorar a frota dos carros cor de esmalte. Os táxis não quebraram, mas encolheram. Na saída da PUCRS sempre havia fila para recolher os estudantes e professores. Agora, são raros. Um táxi da PUCRS até a minha casa custa R$ 22. Outro dia, não havia um só por ali. Chamei um Uber. O carro que aceitou estava parado na minha frente. Exatamente como um táxi. Preço: R$ 34. Vai para o dobro.

Comentei com o motorista, que disse: “Lei da oferta e da procura. A procura neste momento é grande”. Só que ele estava ali parado. E havia outros atrás. Que grande procura era aquela? Devia ser uma grande procura por táxis. No meu trajeto, nas melhores tarifas de Uber, em horários de pouca demanda, tipo 15h17 ou 10h47, a diferença em relação aos táxis fica em dois reais. O conto da carochinha do Uber acabou. Era uma enganação evidente. Ficamos chupando balinha.

Aprendemos o seguinte: não existe balinha grátis!

Era uma vez…

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