Juremir Machado da Silva

Lula na frente

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Lula na frente Lula faz frente e pode ganhar no primeiro turno | Foto: Ricardo Stuckert / Divulgação

Há desespero no ar. As sucessivas pesquisas mostram Lula na frente. O tempo passa e o cenário não muda. Jair Bolsonaro derrete. Sérgio Moro não decola. João Dória faz figuração. Ciro Gomes patina. O desespero tem uma razão de ser: a extrema-direita sente o poder lhe escapar. Militares já sinalizam que podem abandonar o barco bolsonarista. Se duvidar, ficarão o capitão e o general Heleno a ver navios. O chamado centro direita, que é como certa direita se denomina (até o DEM tentou se apresentou com essa maquiagem), vê a perspectiva de construção de uma terceira via embretada. Não abre caminho. Enquanto isso, o velho Lula de guerra vai engolindo todo mundo.

Não é torcida, embora pudesse ser. É constatação. Lula ocupa o espaço da esquerda, bloqueando o avanço de Ciro Gomes, e também o da terceira via, impedindo qualquer articulação milagrosa. A escolha de Geraldo Alckmin para vice cumpre um papel simbólico: mostrar abertura de horizontes, tranquilizar eleitores mais conservadores, demonstrar capacidade de conciliação e de aproximação com adversários de outros tempos. Só Getúlio Vargas tinha esse tino político revelado em tiradas como esta: “Não tenho amigos de quem não possa me afastar nem inimigos de quem não possa me aproximar”. Lula certamente não se aproximaria dos bolsonaristas nem se afastaria daqueles que nunca o traíram.

Enquanto o jogo é jogado, Lula trabalha para ganhar no primeiro turno. Como sabe quem gosta de futebol, não tem jogo jogado e partida só termina depois do apito final. Tudo pode, portanto, acontecer. As pesquisas até agora mostram, no entanto, Lula frouxo na frente. Alguns se perguntam em tom de perplexidade: como pode? Ele foi preso. Uma vitória de Lula terá de ser analisada com as ferramentas fornecidas por Joseph Campbell para a “jornada do herói”: 1. Mundo comum 2. Chamado à aventura. 3. Recusa do chamado. 4. Encontro com o mentor. 5. Travessia do primeiro limiar. 6. Provas, aliados e inimigos. 7. Aproximação da caverna secreta. 8. A provação. 9. A recompensa. 10. O caminho de volta. 11. A ressurreição. 12. O retorno com o elixir.

Em outras palavras, vindo do nada, ascensão, entronização, queda, punição, ressurgimento, superação e novo triunfo. Pode ser que nada disso aconteça. Muitas provações ainda vão surgir. Em todo caso, o retorno de Lula já apavora os que o consideravam fora do jogo para sempre. As atitudes de Lula assustam ainda mais: em vez de radicalizar, ele busca conciliar. Se vez ou outra deixa escapar uma frase que facilita um bombardeio midiático, no geral chega a aborrecer companheiros de estrada com sua estratégia frentista. Lula quer ganhar. Ele sabe que a mensagem unificadora é uma só: tirar Bolsonaro. Se, em 2018 a palavra de ordem capaz de triunfar era “fora PT, hoje é “fora Bolsonaro”. Boa parte da população está cansada de negacionismo, de desemprego, de grosserias, de fake news, de ver a miséria e a fome crescendo, de bizarrices antivacinas e de discursos de ódio.

A questão pela qual a direita pagaria um milhão de dólares: o que fazer para tirar Lula do primeiro lugar nas pesquisas? Alguns já pensam em deixar a resposta de lado e, quem sabe, aderir.

Contato: [email protected]

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