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Diário da Espera: Flavio Aguiar, a bordo do Cruzeiro Coronavírus (parte 2)

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Diário da Espera: Flavio Aguiar, a bordo do Cruzeiro Coronavírus (parte 2) Quinta-feira, 16/04, 12h15, hora de Berlim. Alemanha: 134.753 casos; 3.804 letais; 77 mil altas. 4.288 casos considerados graves ou muito graves. Quando um presidente dá um murro na mesa de reunião e diz que ali quem manda é ele, aí é que ele não manda mais nada mesmo. Quem manda é o general Braga. Bolsonaro pode decidir que cores vai usar nas cortinas da sala, quem ele vai incomodar ou ameaçar pelo Brasil afora. Mas o triunvirato ou quadrunvirato, não sei, militar, é quem decide o menu da cozinha. Entrementes, é claro, Paulo Guedes e o Congresso podem continuar a passar rasteiras no povo brasileiro, desde que não afetem os estamentos da Caserna e do Judiciário. O resto é boca-livre para as aves de rapina do neo-liberalismo. Por aqui nas Alemanhas começa a se falar sobre o fim gradativo do “fecha-tudo”, mais conhecido em português entreguista como “lockdown”, termo que, convenhamos, tem mais “pedigree”, assim como “delivery” ganha de “entrega em domicílio” e, historicamente, e entre lideranças e sindicalistas de esquerda, “greve” acabou ganhando de “parede”, termo muito mais sugestivo sobre a união de classe. Mas acontece que o outro vinha de Paris… Mas não estou aqui, hoje, para falar de nacionalismos ou cosmopolitismos linguísticos. Quero falar de situações inusitadas. Tenho me lembro muito de um filme do começo dos anos 90, no Brasil conhecido como “O feitiço do tempo”, direção de Harold Ramis (tb. “Os caça-fantasmas”, 1984), com Bill Murray e Andie MacDowell. Um jornalista de TV é enviado com sua equipe para uma cidadezinha da Pensilvânia para uma reportagem sobre um curioso costume local: observar o que faz uma determinada marmota no dia 2 de fevereiro. Dependendo do que ela faça, os habitantes locais poderão prever como será o fim do inverno e o começo da primavera. Ele vai, faz a reportagem, volta ao hotel, dorme e no dia seguinte acorda… no mesmo dia anterior, 2 de fevereiro! E isto se repete por muitos e muitos anos (houve alguém que calculasse que se passam 33 anos!), com o jornalista e sua equipe tornando-se prisioneiros de uma bolha temporal, descrita como um “loop”, uma argola, uma laçada, uma presilha do tempo. Este confinamento-Corona tem também esta dimensão. Além de ser um confinamento espacial, gera a sensação de ser um confinamento temporal. Não consigo imaginar como será o tempo pós-Corona, e o tempo pré-Corona me parece cada vez mais a lembrança de um tempo remoto, algo como as ruínas de Pompeia, já que me encontro na Europa. E há os efeitos colaterais: como será o mundo sem a luta de Trump contra tudo e contra todos, sem a novela da disputa entre Bolsonaro e Mandetta, enredo mais intrigante do que o da luta interminável de Batman contra o Coringa, porque em Brasília se trata da luta de um Coringa contra outro Coringa, que será decidida nos bastidores por uma quadra de Valetes militares. A questão é que o tempo-Corona provoca a impressão de que não passará nunca. É uma falsa […]

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Quinta-feira, 16/04, 12h15, hora de Berlim. Alemanha: 134.753 casos; 3.804 letais; 77 mil altas. 4.288 casos considerados graves ou muito graves. Quando um presidente dá um murro na mesa de reunião e diz que ali quem manda é ele, aí é que ele não manda mais nada mesmo. Quem manda é o general Braga. Bolsonaro pode decidir que cores vai usar nas cortinas da sala, quem ele vai incomodar ou ameaçar pelo Brasil afora. Mas o triunvirato ou quadrunvirato, não sei, militar, é quem decide o menu da cozinha. Entrementes, é claro, Paulo Guedes e o Congresso podem continuar a passar rasteiras no povo brasileiro, desde que não afetem os estamentos da Caserna e do Judiciário. O resto é boca-livre para as aves de rapina do neo-liberalismo. Por aqui nas Alemanhas começa a se falar sobre o fim gradativo do “fecha-tudo”, mais conhecido em português entreguista como “lockdown”, termo que, convenhamos, tem mais “pedigree”, assim como “delivery” ganha de “entrega em domicílio” e, historicamente, e entre lideranças e sindicalistas de esquerda, “greve” acabou ganhando de “parede”, termo muito mais sugestivo sobre a união de classe. Mas acontece que o outro vinha de Paris… Mas não estou aqui, hoje, para falar de nacionalismos ou cosmopolitismos linguísticos. Quero falar de situações inusitadas. Tenho me lembro muito de um filme do começo dos anos 90, no Brasil conhecido como “O feitiço do tempo”, direção de Harold Ramis (tb. “Os caça-fantasmas”, 1984), com Bill Murray e Andie MacDowell. Um jornalista de TV é enviado com sua equipe para uma cidadezinha da Pensilvânia para uma reportagem sobre um curioso costume local: observar o que faz uma determinada marmota no dia 2 de fevereiro. Dependendo do que ela faça, os habitantes locais poderão prever como será o fim do inverno e o começo da primavera. Ele vai, faz a reportagem, volta ao hotel, dorme e no dia seguinte acorda… no mesmo dia anterior, 2 de fevereiro! E isto se repete por muitos e muitos anos (houve alguém que calculasse que se passam 33 anos!), com o jornalista e sua equipe tornando-se prisioneiros de uma bolha temporal, descrita como um “loop”, uma argola, uma laçada, uma presilha do tempo. Este confinamento-Corona tem também esta dimensão. Além de ser um confinamento espacial, gera a sensação de ser um confinamento temporal. Não consigo imaginar como será o tempo pós-Corona, e o tempo pré-Corona me parece cada vez mais a lembrança de um tempo remoto, algo como as ruínas de Pompeia, já que me encontro na Europa. E há os efeitos colaterais: como será o mundo sem a luta de Trump contra tudo e contra todos, sem a novela da disputa entre Bolsonaro e Mandetta, enredo mais intrigante do que o da luta interminável de Batman contra o Coringa, porque em Brasília se trata da luta de um Coringa contra outro Coringa, que será decidida nos bastidores por uma quadra de Valetes militares. A questão é que o tempo-Corona provoca a impressão de que não passará nunca. É uma falsa […]

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