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Nathallia Protazio: Retrospectiva Porto-alegrense

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Nathallia Protazio: Retrospectiva Porto-alegrense Fim de ano é uma época estranha. Parece que todo mundo sai um pouco da «casinha», e as ruas ficam cheias de ansiedades, medos, cartões de crédito com limites estourados e a galera que ganhou o indulto de Natal. Um prato cheio pra quem trabalha no centro da cidade. Na última sexta-feira de novembro eu passei na prova de fogo do comércio, a famosa bléqui fráidei. Senti na pele as últimas consequências de viver numa sociedade voltada para o consumo. Não só na pele – que ficou destruída – mas também nos músculos, nos ossos, nas unhas quebradas e em cada mísera célula neural que lutava pra manter uma ilha de sanidade naquele mar de loucura. Nunca imaginei que passaria um dia pelas águas daquele batismo capitalista. Sobrevivi e digo: aquilo ali não é de deus. Aliás, eu diria que 2019 foi o ano do «nunca imaginei»: Nunca imaginei que iria me divorciar antes dos trinta…Nunca imaginei que iria voltar pro Brasil e me sentir estrangeira…Nunca imaginei que viria morar em Porto Alegre…Nunca imaginei que estaria escrevendo pra um jornal. É, colega, 2019 foi um ano que meteu a mão na minha cara, me forçando a olhar pra cima enquanto sussurrava no meu ouvido: «Se liga naquele cuspe», e ele mirando bem a minha testa. O que a gente não imagina nos força a sair da zona de conforto. Nos desafia a criatividade, dá movimento e oportunidade de crescer. Ainda bem que nem tudo na vida é traumático como um divórcio ou uma bléqui fráidei. Então, resolvi lembrar algumas das coisas boas que me aconteceram nestes sete meses de vida porto-alegrense. Com a licença de todos, me permito a breguice dessa retrospectiva quase psicopedagógica, mas convenhamos, não é todo ano que passa com o peso de uma década na nossa vida. Pelo menos espero eu que não. Me mudei pra Porto Alegre em maio. Vir morar aqui me trouxe uma verdade que nunca tinha evidenciado com tamanha importância: não se vive em uma cidade inteira. Isso mesmo. Quando se tem sorte de ser uma cidadã comum como eu, com emprego e um contrato de aluguel, a gente cai na arrogância de dizer que mora na cidade tal. Você não escuta o pessoal da Restinga ou da Lomba do Pinheiro falando que mora em Porto Alegre. Mas pra quem está no Centro Histórico ou na zona norte, pimba! Já se sente no direito de dizer que mora numa cidade inteirinha. Morei em São Paulo onze anos tentando ocupar todos os locais possíveis daquela metrópole transbordante. Isso me honrou com amigos da zona leste à sul, mas esgotou demais minhas energias. Vim pra cá com menos inquietações nos pés. Hoje eu moro na Cidade Baixa e não ouso dizer que conheço Porto Alegre. Estou conjugando o verbo namorar com a cidade. Falando em namoro, lá pelo dia 12 de junho eu tive a confirmação do meu emprego atual, depois de algumas semanas de procura. Na iminência do trabalho começar, me vi com […]

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Fim de ano é uma época estranha. Parece que todo mundo sai um pouco da «casinha», e as ruas ficam cheias de ansiedades, medos, cartões de crédito com limites estourados e a galera que ganhou o indulto de Natal. Um prato cheio pra quem trabalha no centro da cidade. Na última sexta-feira de novembro eu passei na prova de fogo do comércio, a famosa bléqui fráidei. Senti na pele as últimas consequências de viver numa sociedade voltada para o consumo. Não só na pele – que ficou destruída – mas também nos músculos, nos ossos, nas unhas quebradas e em cada mísera célula neural que lutava pra manter uma ilha de sanidade naquele mar de loucura. Nunca imaginei que passaria um dia pelas águas daquele batismo capitalista. Sobrevivi e digo: aquilo ali não é de deus. Aliás, eu diria que 2019 foi o ano do «nunca imaginei»: Nunca imaginei que iria me divorciar antes dos trinta…Nunca imaginei que iria voltar pro Brasil e me sentir estrangeira…Nunca imaginei que viria morar em Porto Alegre…Nunca imaginei que estaria escrevendo pra um jornal. É, colega, 2019 foi um ano que meteu a mão na minha cara, me forçando a olhar pra cima enquanto sussurrava no meu ouvido: «Se liga naquele cuspe», e ele mirando bem a minha testa. O que a gente não imagina nos força a sair da zona de conforto. Nos desafia a criatividade, dá movimento e oportunidade de crescer. Ainda bem que nem tudo na vida é traumático como um divórcio ou uma bléqui fráidei. Então, resolvi lembrar algumas das coisas boas que me aconteceram nestes sete meses de vida porto-alegrense. Com a licença de todos, me permito a breguice dessa retrospectiva quase psicopedagógica, mas convenhamos, não é todo ano que passa com o peso de uma década na nossa vida. Pelo menos espero eu que não. Me mudei pra Porto Alegre em maio. Vir morar aqui me trouxe uma verdade que nunca tinha evidenciado com tamanha importância: não se vive em uma cidade inteira. Isso mesmo. Quando se tem sorte de ser uma cidadã comum como eu, com emprego e um contrato de aluguel, a gente cai na arrogância de dizer que mora na cidade tal. Você não escuta o pessoal da Restinga ou da Lomba do Pinheiro falando que mora em Porto Alegre. Mas pra quem está no Centro Histórico ou na zona norte, pimba! Já se sente no direito de dizer que mora numa cidade inteirinha. Morei em São Paulo onze anos tentando ocupar todos os locais possíveis daquela metrópole transbordante. Isso me honrou com amigos da zona leste à sul, mas esgotou demais minhas energias. Vim pra cá com menos inquietações nos pés. Hoje eu moro na Cidade Baixa e não ouso dizer que conheço Porto Alegre. Estou conjugando o verbo namorar com a cidade. Falando em namoro, lá pelo dia 12 de junho eu tive a confirmação do meu emprego atual, depois de algumas semanas de procura. Na iminência do trabalho começar, me vi com […]

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