Diálogos Matinais

Além dos debates

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Além dos debates

Apesar de já ter votado nas eleições presidenciais de 2018 (ano no qual eu fazia 18 anos e passava a ser obrigado a votar), essas eleições chegam para mim como algo novo. A obrigatoriedade do voto por si só não torna a pessoa politizada – no máximo cria essa ilusão – e portanto, muitas vezes, seguimos votando sem entender direito o que está acontecendo. Eu estudei desde que comecei minha vida escolar em colégio particular – um que era super bem colocado no Enem e que tinha ótimas notas na UFRGS – e nunca senti, ainda que em um local com oportunidade clara para se debater isso, que aquele espaço tinha qualquer intuito de priorizar a educação política de seus estudantes. De fato, aprendíamos sobre a antiguidade, o período colonial, líamos a carta de Pero Vaz de Caminha e o Padre Antônio Vieira, conseguíamos distinguir os poderes políticos e tínhamos uma pequena noção das diferenças entre o liberalismo e outras filosofias políticas. Tudo na teoria. Na prática era como se, logo que saíssemos do colégio, nós fôssemos obrigados a participar de um jogo do qual não sabemos as regras. 

Fico me questionando como essa educação política chega em todos os jovens do Brasil inteiro, das periferias aos condomínios. Vivemos em um momento em que é evidente o quanto a propaganda política, a manipulação da verdade e a desinformação são reais e cruciais para a manutenção dos problemas sociais e das desigualdades. Junto dessa tendência mundial, cresce a urgência de nos politizarmos e criarmos nossa consciência social. Não tem mais como votar apenas em números e siglas. Precisamos escolher projetos que nos representem e que pensem no nosso país considerando nossas desigualdades e riquezas. Estamos em plena pandemia (que deixa todas contradições sociais ainda mais evidentes), com a crise econômica, a polarização política, a desigualdade social e o desmatamento batendo à nossa porta. Aliás, não apenas batendo: arrombando a porta. É inconcebível, diante dessa situação, crer em qualquer saída que não tenha como meta o desenvolvimento da nossa consciência social. 

Eu definitivamente ainda não estou certo de como me posicionar diante de todas as decisões que nós, cidadãos, temos que tomar. Mas estou certo de que é preciso buscar informação, entender a complexidade da situação e buscar debater nossas ideias com pessoas com outros pontos de vista. Para que essa eleição de 2020 tenha mais do que somente votos induzidos por propagandas difamatórias e apelativas, temos que buscar ir além dos debates, não nos contentarmos somente com o que o político fala em seus 30 minutos disponíveis. Entender o que o candidato representa, o que o seu partido representa e quem eles representam. 

Temos de compreender nossos privilégios e também nossas ignorâncias. Nossa atuação política não acaba com o fim das eleições, e nós temos a obrigação de nos informar sobre o que os nossos representantes estão fazendo e planejam fazer. Precisamos ir além do voto na urna.


Antônio Chaves é músico (Spotify) e assinante do Matinal.

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