Justiça mantém suspenso decreto de Melo que contrariava medida estadual
Deu no The New York Times: Porto Alegre é o “coração de um colapso monumental no sistema de saúde do Brasil”. O prefeito Sebastião Melo (MDB) foi citado na reportagem como uma autoridade mais preocupada em salvar a economia do que vidas. O emedebista se defendeu. Disse que nunca negou a doença, mas acredita ser possível reabrir a cidade “com equilíbrio”. Também destacou o número de novos leitos abertos, estratégia importante mas que não combate a transmissão do vírus.
No esforço para retomar atividades econômicas, Melo editou um decreto na sexta-feira liberando comércio, bares e restaurantes também nos finais de semana, o que é proibido pela gestão estadual. O Ministério Público do Estado então entrou na Justiça e, até ontem à noite, o TJ mantinha a suspensão do decreto municipal. No Twitter, o prefeito ironizou a decisão.
Melo justificou seu decreto pelo fato de Leite ter rompido com o modelo de cogestão de forma unilateral. “Minha opinião é de que Leite decide mais na política do que de forma científica”, afirmou. Lembrando que, do ponto de vista da ciência, a recomendação para frear a pandemia é restringir atividades e a circulação de pessoas.
Na sexta-feira, pela quinta semana consecutiva, o mapa do distanciamento controlado manteve-se todo em bandeira preta – o que não significa restrições rigorosas, já que todas as regiões aderiram à cogestão e podem adotar medidas mais brandas apesar do nível altíssimo de risco de contágio.
O que mais você precisa saber
Sul tem o maior número de mortes fora da UTI – Ontem, o Rio Grande do Sul registrou 143 novas mortes por Covid, o maior número em um domingo, dia que costuma ter índices mais baixos. Nas 11 primeiras semanas do ano, mais de 28 mil brasileiros morreram de Covid-19 nos hospitais do país sem passar por uma UTI. Atualmente, os números são maiores no Sul. Há quatro semanas o índice não baixa de 53% em Santa Catarina e ultrapassou os 50% no começo de março no RS. Muitos desses óbitos seriam evitáveis se os pacientes tivessem recebido “todos os cuidados que em outra circunstância receberiam”, destacou o professor da UFRGS e médico do Clínicas Alexandre Zavascki. Mas a circunstância atual não permite: o RS está há quase um mês com as Unidades de Tratamento Intensivo operando acima do limite. Zavascki também chama a atenção para o aumento de mortes nas faixas etárias de 20 a 39 anos e de 40 a 59 anos.
No RS, 39% das doses não foram aplicadas; na Capital falta um terço – Quase 40% de todas as vacinas que chegaram ao Estado (831,4 mil doses) ainda não foram aplicadas. A coordenadora do Departamento de Atenção Primária e Políticas de Saúde da Secretaria Estadual da Saúde, Ana Costa, explicou que, entre as razões está a reserva para a segunda dose, embora o Ministério da Saúde tenha orientado as prefeituras a não guardarem vacina para a segunda aplicação, recomendação com a qual Costa concorda. De acordo com ela, o governo estadual busca apoio de universidades para ampliar a capacidade de aplicação. Em Porto Alegre, um terço do que já chegou ainda não foi usado, apesar de o prefeito ter afirmado na semana passada que, tendo vacina, a cidade estaria preparada para imunizar em massa. Aliás, o sábado foi marcado por longas filas nos drive thrus da cidade, tanto que o atendimento foi estendido por três horas e nem todos que esperavam conseguiram se vacinar. Ainda assim, a cidade é a capital que mais vacinou proporcionalmente, com cerca de 13% da população alvo para esta etapa da campanha já imunizada.
Carreata pede reabertura de escolas enquanto PGE-RS tenta derrubar liminar que as mantém fechadas – Organizada pelo projeto Lugar de Criança é na Escola RS, mais uma carreata em favor da volta às aulas presenciais foi realizada ontem na Capital. De acordo com a EPTC, a manifestação contou com cerca de 55 veículos, que saíram do Parque Marinha do Brasil com destino ao Tribunal de Justiça do Estado (TJ-RS). No final do ato, os participantes exibiram mochilas e materiais escolares em frente ao local, objetos que depois foram doados ao Projeto Anjos da Quinta. O coletivo pede que o TJ-RS atenda à medida judicial de urgência encaminhada pela Procuradoria Geral do Estado (PGE/RS) na sexta-feira e que tenta derrubar a liminar que mantém suspensas as atividades presenciais. As escolas estão impedidas de abrir desde o início de março por uma ação ajuizada pela Associação Mães e Pais pela Democracia, que alega preocupação com a segurança sanitária em meio ao agravamento da pandemia. Até o momento, não houve nova decisão da Justiça.
Vacina, sim!
Chegou a vez dos idosos com 69 anos se vacinarem na Capital. As aplicações serão feitas em 39 unidades de saúde e três pontos de drive-thru. Hoje também podem ser imunizados profissionais liberais da área da saúde a partir de 40 anos em farmácias habilitadas. Confira horários e endereços aqui.
Outros links:
- A fila para UTI em Porto Alegre recuou 12% ontem, mas o número de pacientes à espera de um leito ainda é alto: 187. Houve 1,75% de aumento na média do total de internados com Covid-19 nos últimos sete dias, uma oscilação pequena como é de se esperar quando o sistema opera acima da capacidade.
- Sete projetos do Hospital de Clínicas de Porto Alegre foram registrados para a busca de recursos de emendas parlamentares. Dois pretendem garantir equipamentos para qualificar o atendimento a pacientes com Covid-19.
- O número de internações de gestantes infectadas com Covid-19 aumentou no RS. De janeiro a 25 de março, foram registradas 184 hospitalizações e 11 óbitos.
- Em protesto pela flexibilização das restrições no comércio, um grupo lacrou o acesso à prefeitura e à Câmara de Vereadores de Nova Petrópolis. Na porta do Executivo foi colocada a faixa com onde se lia “Serviço não essencial”.
- Pensando em manter o número de segurados, o IPE criou um clube de benefícios (🔒) para oferecer descontos em estabelecimentos e atividades relacionadas à saúde. Neste ano, serão abertos editais para cadastrar farmácias interessadas.
- O Sindilojas indicou que as vendas na Páscoa devem ser 30% menores em relação ao período anterior à pandemia. O presidente da entidade, Paulo Kruse, destacou que o movimento em shoppings centers e em lojas físicas ainda é fraco.
- Cientistas do RS iniciaram uma pesquisa que busca um tratamento alternativo para a asfixia neonatal. O estudo inédito foi publicado na revista Neuroscience, referência na área de neurociências.
- Uma ecobarreira, instalada no Arroio Dilúvio, impediu que chegasse ao Guaíba o equivalente a 15 meses de lixo recolhido em Porto Alegre. A estrutura recolheu mais de 775 toneladas de resíduos até 21 de março.
- Um avião jogou agrotóxicos sobre assentados em Nova Santa Rita, de acordo com a Agapan. A entidade fará uma transmissão ao vivo hoje para mostrar depoimentos.
- A gasolina acumulou alta de 23,5% nos três primeiros meses de 2021 no Rio Grande do Sul.
Cultura
Beba sem moderação
Aguardado longa do diretor dinamarquês Thomas Vinterberg, indicado aos prêmios do Oscar de Melhor Diretor e Melhor Filme Internacional, Druk – Mais uma Rodada (2020) apresenta quatro professores de uma pacata escola na Dinamarca. A fim de sair do marasmo existencial, eles decidem testar uma ousada teoria: segundo um pesquisador norueguês, todo mundo seria mais feliz, relaxado e produtivo se mantivesse constantemente uma quantidade mínima e controlada de álcool no sangue. Assim, o quarteto mergulha de cabeça no experimento etílico, bebendo diariamente inclusive durante o trabalho. Leia a resenha de Roger Lerina.
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Você viu?
A próxima edição do curso Jornalismo e Território busca comunicadores das periferias de cidades do Sul e do Sudeste brasileiro (exceto SP e RJ) para ampliar o olhar sobre os temas centrais da iniciativa: infância e território. As inscrições estão abertas e vão até o dia 7 de abril. Os participantes que cumprirem 80% da carga horária da formação, irão receber uma ajuda de custo de 250 reais. Ao longo do curso, serão apresentadas pautas e seis delas serão selecionadas para produção. Os escolhidos serão beneficiados com uma remuneração de 1 mil reais para a finalização da reportagem, já que a ideia é estimular o jornalismo local e apresentar a visão de quem vive e convive nos territórios periféricos. O curso, desenvolvido pela Énóis, terá oito encontros.