Melo diminui restrições e acena com “tratamento precoce” contra a Covid-19
Melo traz empresários à mesa, diminui restrições e acena até com “tratamento precoce” contra a Covid-19
A nova gestão da Prefeitura de Porto Alegre indicou que dará uma guinada nas ações de combate ao coronavírus. Em consonância com o discurso de campanha – a defesa de que “saúde e economia caminham juntas” – Sebastião Melo (MDB) apresentou ontem o primeiro decreto sobre o assunto, o qual diminui as restrições e aumenta as flexibilizações, além da criação de colegiados internos, colocando na mesma mesa empresariado, representantes da saúde e de universidades.
Conforme o texto, shoppings, mercados e farmácias podem receber ocupação máxima, ainda que autorizados apenas a operar com 50% de capacidade de seus trabalhadores. Missas e cultos não têm mais tempo máximo de duração e bares e restaurantes podem abrir a hora que decidirem – antes era permitido somente a partir das 6h. Mesmo eventos, antes proibidos em locais fechados, agora poderão ser liberados. Antes, no entanto, o interessado deverá pedir autorização da Prefeitura, que se compromete a responder em sete dias.
O novo secretário da Saúde, Mauro Sparta, fez coro à defesa das novas medidas. Para ele, empresários e comércio já estão “educados” para respeitar protocolos. O foco deve ser conter as aglomerações – ainda que não tenha havido anúncio sobre ação neste sentido. “A aglomeração desorganizada é que vai trazer consequências que a gente não quer”, opinou Sparta, que comemorou não ter havido, ao menos ainda, um salto de casos em razão das festas de fim de ano. Na primeira segunda-feira do ano, Porto Alegre chegou a marca de 1.872 óbitos relacionados à Covid-19, enquanto 302 pessoas estavam em tratamento intensivo em razão do coronavírus.
Outra marca da virada no combate ao coronavírus em Porto Alegre será a adoção do “tratamento precoce” () – ação que não tem respaldo da Organização Mundial da Saúde. Melo evitou adiantar se o remédio a ser disponibilizado será a cloroquina e se é a favor ou contra a medida. Porém, justificou que o tratamento é adotado por diversos municípios. “Se o médico receitar e o paciente concordar, compete ao gestor disponibilizar”, resumiu.
Saiba mais: No ano passado, o Matinal publicou uma reportagem que explicava a pressão sobre as prefeituras que oferecem o “kit-Covid” e alertava sobre os perigos do uso indiscriminado desses medicamentos.
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O que mais você precisa saber
Porto Alegre quer liderar movimento por subsídio da União para o transporte coletivo – Criado ontem, o Grupo de Trabalho (GT) sobre mobilidade na Capital terá 10 dias para apresentar novo plano para o transporte público da cidade (). O grupo é liderado pelo secretário municipal de Mobilidade Urbana, Luiz Fernando Záchia, e reúne representantes das empresas de ônibus. São estudadas a redução de isenções e descontos em passagens que não sejam constitucionais. Sobre a possibilidade de voltar a debater a eliminação de cobradores em alguns horários e rotas – proposta já encaminhada na gestão passada e rejeitada na Câmara de Vereadores –, Záchia afirmou que vai priorizar alternativas que não afetem os trabalhadores neste momento. O secretário afirmou ainda que o prefeito Sebastião Melo quer liderar um movimento de prefeitos de Capitais de todo o Brasil para envolver a União no tema, especialmente na redução de impostos. Em entrevista à Rádio Gaúcha no dia 29, Záchia afirmou que “transporte coletivo é para aquele cidadão que não tem condições financeiras de ter outro transporte”.
Melo questiona superávit anunciado por Marchezan – O prefeito Sebastião Melo afirmou que seu antecessor, Nelson Marchezan Jr. (PSDB), manipulou as finanças da cidade ao comemorar superávit. Em entrevista à Rádio Guaíba, o emedebista disse que “tem maquiagem grande” na contabilidade do tucano. “Aquele superávit não é verdadeiro. Não vou dar detalhes ainda, pois a equipe da Fazenda está levantando os dados. Mas posso dizer que, ali, tem maquiagem grande. Vamos convocar uma entrevista coletiva para tratar da pauta até quarta-feira”, prometeu. Na semana passada, Marchezan afirmou que o novo prefeito teria “mais facilidade para governar”, já que assumiria o Paço Municipal com pelo menos 201 milhões de reais em caixa. Em outubro do ano passado, reportagem do Matinal mostrou como o tucano, ao longo de sua gestão, ocultou receitas, exagerou nas despesas e pecou na transparência das finanças do Município, estratégias que levaram o ex-prefeito a condenações na Justiça.
Bagé recebe bandeira preta pela segunda vez no distanciamento controlado – O primeiro mapa definitivo de 2021 do distanciamento controlado no Rio Grande do Sul, que passa a valer hoje, deu à região de Bagé a bandeira preta, cor que representa risco altíssimo para a contaminação com o coronavírus. Após a decisão do governo, a prefeitura de Bagé afirmou que vai adotar o sistema de cogestão para seguir com os protocolos de bandeira vermelha. A alegação da administração local é de que os números de casos e internações estão em redução. Esta é a segunda vez que a cidade recebe a bandeira preta. A primeira vez ocorreu em dezembro de 2020, na 32ª rodada do distanciamento controlado.
Recorde de mortes em dezembro no RS – Em todo o Estado, dezembro foi o mês com mais mortes por Covid-19, com 1.857 óbitos. O RS já ultrapassou a marca dos 9 mil vítimas. Os dados da Secretaria Estadual da Saúde contabilizaram ontem mais 64 óbitos entre 10 de dezembro e ontem, além de 976 novos casos da doença. O número de infectados chegou a 455.326 e a taxa de ocupação de leitos de UTI está em 78%.
Outros links:
- A solicitação da Prefeitura, sobre o Governo do Estado criar uma área específica para Porto Alegre no distanciamento controlado, está na pauta do governador Eduardo Leite (PSDB).
- Quatro clínicas gaúchas integram a comitiva do setor que negocia a aquisição de doses da Covaxin (), na Índia. O imunizante, que obteve recomendação de uso emergencial no país asiático, ainda não teve seus dados de eficácia conhecidos.
- O prefeito Sebastião Melo enviou à Câmara de Vereadores a proposta de reforma administrativa da sua gestão. No texto, consta a criação de duas novas secretarias.
- Noventa e dois professores aprovados em processo seletivo simplificado ainda em 2019 foram temporariamente contratados pela Prefeitura da Capital. Os docentes irão trabalhar na regência de classe, na educação básica.
- O governo do Estado assinará hoje o contrato para conceder o uso do Cais Embarcadero, que terá espaços de entretenimento e serviços, entre o Armazém A7 do cais e a Usina do Gasômetro.
- A chuva no mês de janeiro não deverá ser suficiente para afastar a possibilidade de estiagem. São esperados de dois a cinco dias de precipitação, com acumulados diários superiores a 20 milímetros.
- Falando nisso: já há bancos de areia pelo Guaíba.
- Quer fazer uma boa ação neste início de ano? Doe sangue. O Hospital São Lucas da PUCRS foi um dos que viu seus estoques caírem com a pandemia.
- As agências do FGTAS/Sine têm mais de 3,4 mil vagas de emprego no RS. Em 67% dos postos não é exigida experiência, enquanto 24% não pede que o candidato comprove escolaridade.
- A Fadergs irá realizar um aulão para estudantes que vão fazer o Enem. O evento, online e sem custos, ocorrerá no próximo sábado, das 8h às 17h30.
Cultura
A arte exuberante de Beatriz Milhazes por inteiro
Um dos nomes brasileiros mais prestigiados na arte contemporânea internacional, com telas arrebatadas por milhões de dólares em concorridos leilões, Beatriz Milhazes conversou com Roger Lerina sobre a megaexposição retrospectiva Beatriz Milhazes: Avenida Paulista, que reúne cerca de 170 obras da artista carioca no Itaú Cultural e no MASP. “A nossa história da arte já está sendo revista e reconhecida sua importância internacionalmente. O Brasil, hoje, faz parte do mundo, e a nossa arte está junto nesse movimento”, afirma Milhazes. Leia a entrevista.
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Você viu?
Durante a cerimônia de posse dos eleitos na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, os cinco parlamentares negros Karen Santos (PSOL), Matheus Gomes (PSOL), Laura Sito (PT), Bruna Rodrigues (PCdoB) e Daiana Santos (PCdoB) decidiram não se levantar para a execução do Hino do Rio Grande do Sul, o que gerou polêmica e incômodo entre os membros da Casa. A justificativa para a atitude dos parlamentares negros foi de que o hino possui um trecho racista e que nenhum deles têm a obrigação de cantar a frase “povo que não tem virtude acaba por ser escravo”. Em carta, Matheus Gomes explicou o contexto histórico em que a canção foi elaborada. Recordou que o Rio Grande do Sul vivia o regime escravocrata e que os Farrapos, mesmo se utilizando de combatentes negros na Revolução Farroupilha, decidiram eliminá-los no Massacre dos Porongos, negando a liberdade que lhes fora prometida. Sobre o assunto, o colunista Paulo Germano cita o procurador Jorge Terra, presidente da Comissão da Verdade sobre a Escravidão Negra da OAB-RS. Segundo Terra, deve ser considerado o conteúdo de um hino e o que ele gera nas pessoas. A canção serve para celebrar a união de conterrâneos e representar todos que decidem cantá-lo. Foi o que fez a Austrália, que decidiu mudar o hino nacional para reconhecer a importância do povo indígena. Conforme o primeiro-ministro Scott Morrison, a modificação de um pequeno trecho da letra vai acrescentar muito à nação.