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No lugar das aulas, crianças trabalham na lavoura, vendem pastel em praça e catam latinhas pelas ruas do interior do RS

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No lugar das aulas, crianças trabalham na lavoura, vendem pastel em praça e catam latinhas pelas ruas do interior do RS Em Barra do Ribeiro, menino de 14 anos acumula trabalho na lavoura da família e de vizinhos (Ilustração: Pablito Aguiar)
Escolas fechadas na pandemia empurram estudantes, principalmente de baixa renda, para o trabalho precoce; confira cinco histórias ocorridas no interior do Estado Quando os portões das escolas se fecharam, em março de 2020, para proteger a população do coronavírus, as portas da miséria, da vulnerabilidade e de outras violências se escancararam para crianças e adolescentes por todo o Brasil. Excluídos do ensino remoto, muitos foram empurrados para o perigoso mundo do trabalho infantil. Durante três meses, a equipe do projeto Lição de Casa mergulhou nesta investigação nacional. Foram encontrados 70 meninos e meninas que estavam sendo explorados, que não tinham acesso às aulas remotas ou que não deram conta de conciliar estudo e trabalho. O especial Sem Recreio foi publicado originalmente no portal do Lição de Casa e detalha essas histórias, além de analisar essa realidade a partir de entrevistas com professores, conselheiros tutelares, auditores fiscais, procuradores do trabalho, pesquisadores e representantes de entidades ligadas à infância e adolescência, à educação e ao trabalho infantil. Uma versão do conteúdo foi republicada pelo Matinal Jornalismo, com a devida autorização (leia aqui). A seguir, leia cinco histórias de trabalho precoce ocorridas no interior do Rio Grande do Sul. Mais horas na lavoura Já faz tempo que André*, de 14 anos, ajuda o pai na lavoura, na Barra do Ribeiro. Com as aulas presenciais interrompidas pela pandemia, no entanto, a carga de trabalho do menino aumentou. Trabalha na roça com o pai e ainda começou a pegar serviço com os vizinhos. As mãos machucadas dos afazeres do campo revelam a dedicação intensa na lida. Mas o que não dá para perceber é para onde está indo o dinheiro de tanto trabalho. André anda maltrapilho e frequentemente pede ajuda para uma família de professores. Além de roupas e calçados, os educadores também o auxiliam nas questões da escola. Foram eles que narraram a situação de André à reportagem. O cotidiano atarefado do garoto no campo não permitiu que ele acompanhasse as aulas online, mas tentou realizar algumas atividades para não passar o ano letivo em branco. O esforço de André em não abandonar totalmente a escola também pode ter relação com a vontade de se afastar de um lar tumultuado, onde atualmente vive com o pai e a madrasta, mas que já foi palco de muitas brigas. Na época, até o Conselho Tutelar foi chamado para fiscalizar a situação e proteger o garoto. Sai a matemática, entra o tanque de batata doce A pandemia afastou Jéssica*, de 17 anos, da sala de aula e a aproximou de um galpão com tanques de água. É lá que ela pega a batata doce, mergulha num lavatório e, com a mão coberta por uma meia ou uma luva, esfrega para tirar toda a sujeira do alimento. Desde que as escolas fecharam, esse é o trabalho diário da adolescente, que acompanha a mãe na lida, enquanto o pai trabalha como servente em obras.  A família mora no alto de um morro, no interior da Barra do Ribeiro, município do Rio Grande […]

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