Um ano após edição marcada por irregularidades, Porto Alegre em Cena 2022 será em novembro
Prefeitura publica edital para selecionar o responsável pela produção do festival de artes cênicas. Evento ocorre há 28 anos na capital gaúcha, mas é realizado pela mesma “panela” de artistas desde 2015 e teve certame direcionado na edição 2021
A Prefeitura de Porto Alegre publicou nesta terça-feira, 10 de maio, o edital de chamamento público que irá selecionar a empresa responsável pela produção do festival Porto Alegre em Cena 2022. Será a 29ª edição do evento, que ocorre anualmente desde 1994 e está previsto para ocorrer entre 23 de novembro e 3 de dezembro.
Um dos mais tradicionais do teatro do Sul do país, o evento teve sua última edição, em 2021, marcada por indícios de direcionamento na seleção de seus realizadores, conforme denúncia publicada em parceria pelo Matinal e Nonada.
Na ocasião, a reportagem apontou que o edital de seleção publicado à época estava formatado para favorecer uma associação criada por um ex-comissionado da Secretaria Municipal de Cultura, o artista Fernando Zugno. As cartas marcadas para o chamamento teriam sido montadas sob orientação do ex-secretário à época, Luciano Alabarse. Por conta das irregularidades, a escolha da associação foi anulada pela Prefeitura e um novo certame foi realizado.
O edital deste ano indica que as empresas interessadas na produção do festival poderão enviar suas propostas a partir desta quarta, 11 de maio, até o próximo dia 18. A documentação necessária para o cadastramento deve ser enviada ao e-mail [email protected].
Panela em cena
Na última sexta-feira, 6 de maio, o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do RS (Sated/RS) havia manifestado preocupação pelo atraso na publicação do certame, o que poderia inviabilizar a realização do festival, que é alvo de desconfiança da entidade por conta dos escândalos recentes.
Exemplo disso é que, mesmo com a anulação do certame do ano passado após as denúncias de direcionamento publicadas pelo Matinal e Nonada, um dos supostos beneficiados pelas cartas marcadas, Fernando Zugno, foi contratado sob dispensa de licitação para assumir a curadoria do festival. Na ocasião, Zugno recebeu R$ 28 mil pelo cargo.
Para além das denúncias de direcionamento, entre 2015 a 2020, o evento foi produzido e realizado por uma mesma “panelinha” de artistas porto-alegrenses, conforme levantamento do Matinal.
Sobre os atrasos na publicação do edital, o Sated afirmou que “alertou a comunidade cultural sobre o risco de este ano não ocorrer o festival e ficou evidente a mobilização da classe artística para que ele não deixasse de acontecer”, disse em nota ao Matinal. “O próximo passo é exigirmos que a curadoria de toda a programação do festival não seja mais decidida por um única pessoa e sim que aconteça uma curadoria coletiva, representativa e pública para essa edição”.
Contatado via WhatsApp e questionado sobre se será o curador desta edição ou se participará da seleção para a produção do festival, Zugno não respondeu às mensagens da reportagem.