Projeto de revitalização do Cais Mauá recebe apoio da Prefeitura
Torres a serem erguidas onde hoje ficam as docas deverão ter fachadas ativas; críticos reclamam da falta de diálogo acerca do projeto
A Prefeitura de Porto Alegre, por meio da Secretaria de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade, realizou na noite desta segunda-feira, 6 de junho, uma audiência pública sobre o Estudo de Viabilidade Urbanística do projeto de revitalização do Cais Mauá. A proposta, elaborada pelo Consórcio Revitaliza, prevê a desestatização do espaço, por meio de uma parceria público-privada com contraprestação imobiliária. São projetadas a construção de nove torres na área onde hoje ficam as docas, na área próxima à Rodoviária.
As torres, que preveem uso residencial, comercial e para serviços, poderão ter até 150 metros de altura – o que fariam delas, hoje, os prédios mais altos de Porto Alegre. Um dos primeiros a falar na audiência, o prefeito Sebastião Melo (MDB) defendeu o projeto e sugeriu ousadia nos traços arquitetônicos: “Eu não vejo nenhum problema de construções bonitas na frente do Guaíba. Tem que ser uma arquitetura bonita e inovadora, todo mundo faz isso e não tem nenhum pecado em fazer isso”, afirmou.
Um dos arquitetos responsáveis pelo projeto, Renato Dal Pian, detalhou que os prédios deverão ter todos espaços para comércio no térreo. Dois dos três blocos deverão ser destinados principalmente a unidades habitacionais, outro para escritórios corporativos. Na área das docas, o projeto também contempla um hotel, além da revitalização da Praça Edgar Schneider e do prédio do antigo frigorífico, no setor Norte das docas 3.
“Eles (prédios) fogem à ideia de condomínios fechados”, disse Dal Pian. “Tem como zona de encontro e lazer a própria cidade. Não e nunca espaços fechados e privatizados de uso coletivo. Todo o uso coletivo neste projeto está sendo proposto como público. São espaços amigáveis e não segregados”, complementou. Segundo ele, o impacto vertical dos edifícios propostos são menores do que outros prédios já existentes na região.
O parecer técnico apresentado pela Prefeitura enfatiza a “relação com os espaços abertos na implantação do nível térreo, através da criação de fachadas ativas, múltiplos acessos e diversidade de usos” no setor das docas. A arquiteta Carolina Kessler, da Comissão de Análise Urbanística e Gerenciamento da Prefeitura, defendeu de forma técnica a presença de residências no cais – algo criticado pelos professores da UFRGS que compuseram a proposta do Cais Cultural. “Essa multiplicidade de atividades, que é tão importante, para a gente garantir a vida deste espaço e o urbanismo qualificado, a gente tem que ter essa diversidade. Por isso que a residência acaba sendo tão vital para ter esse espaço adequado”, explicou. “O que se preza nesta proposta é a predominância dos espaços públicos em relação às edificações.”
Maioria elogia o projeto
Após as explanações técnicas, a audiência foi aberta à participação dos mais de 30 inscritos para falar, o que transcorreu ao longo das três horas seguintes. Em sua maioria, as falas foram elogiosas à proposta: “Uma arquitetura com A maiúsculo”, definiu a arquiteta Sandra Axelrud. Representando o Sindilojas, Alisson Martins entendeu o empreendimento como bom para a população quanto para o setor econômico da cidade, tendo em vista os empregos a serem criados e seu viés de adensamento.
Diretor de Relações Internacionais da Prefeitura, Ricardo Sondermann citou a viagem recente de uma delegação da administração municipal a escritórios de arquitetura na Escandinávia para atestar que o projeto está atualizado. Ele defendeu a construção de apartamentos residenciais no cais e ressaltou que 80% do cais seguirá aberto ao público em geral. “Você não pode ter uma atividade só. Pessoas morando geram vida cotidiana nos lugares. Não pode ser só comércio, porque às 19h fecha e as pessoas vão embora. Para esses projetos de revitalização precisa ter multiatividades, o projeto está perfeito neste sentido”, argumentou. “Falam que é elitista, é o contrário. Ele devolve uma parte que hoje não existe.”
Críticos defendem mais diálogo com a sociedade
A opinião positiva, entretanto, não foi unânime. Conselheiro da Região de Gestão de Planejamento 1, Felisberto Seabra criticou a falta de transparência a respeito do custo necessário para revitalizar as docas. “Ninguém é contra a revitalização do centro, do porto, do 4º distrito. O que somos contra é a forma como é tratado o dinheiro público, os espaços públicos. Fica como uma área à venda, um ativo financeiro. Isso é um ativo da sociedade, é um patrimônio de Porto Alegre e não do governante do momento. Deveria ter uma ampla discussão com a sociedade”, afirmou. Seabra também apontou a falta de estudos sobre os impactos das construções: “A cidade tem que ser para as pessoas e não para os prédios”, sentenciou
Professor da UFRGS e integrante do Coletivo Cais Cultural, Luciano Fedozzi reclamou da falta de diálogo da Prefeitura com atores locais, considerando a postura do Executivo até como “autoritária” – conforme ele, após um contato inicial com o então secretário Cezar Schirmer, não houve mais comunicação por parte do Executivo. “Pela importância deste projeto, precisaria se discutir com a sociedade.” A deputada Sofia Cavedon (PT) disse que irá questionar a viabilidade de residências na beira do Guaíba.
Ao longo das falas, também houve questionamentos a respeito do impacto na mobilidade e no trânsito e com relação ao meio ambiente e à proteção contra as cheias, uma vez que parte do muro pode ser demolida se o projeto sair do papel.
Assista à audiência