Ciro cita “direito do cidadão” de votar branco ou nulo em segundo turno entre Lula e Bolsonaro
*O título desta matéria foi alterado às 16h40 de quinta-feira, 9 de junho, visando garantir mais exatidão ao contexto
Em Porto Alegre, pré-candidato do PDT afirmou que irá revogar Regime de Recuperação Fiscal do Estado, se for eleito; Terceiro colocado nas pesquisas, trabalhista exaltou confiança de chegar ao segundo turno
Em visita a Porto Alegre para receber o título de cidadão da cidade, o pré-candidato à Presidência da República Ciro Gomes (PDT) buscou apresentar-se como viável ao Planalto e capaz de quebrar a polarização entre Lula e Bolsonaro nas eleições de outubro. Sem poupar críticas a ambos, que lideram as pesquisas na corrida presidencial, o trabalhista citou o “direito do cidadão” ao voto branco ou nulo num eventual segundo turno Lula e Bolsonaro.
Em 2018, Ciro frustrou os petistas ao não participar da campanha de Fernando Haddad no segundo turno. Após uma viagem a Paris, o então terceiro colocado na eleição limitou-se a dizer “ele não”, confirmando que não votaria em Bolsonaro, mas sem explicitar apoio ao candidato do PT.
Comentando sobre polêmica recente envolvendo o jornalista Tiago Leifert, Ciro afirmou: “Um artista, que não tem obrigação de fazer tese política, disse assim: ‘Se houver um segundo turno entre Lula e Bolsonaro, eu não tenho vontade de votar em nenhum dos dois’. Isso é um direito do cidadão, que a democracia garante a qualquer um de nós”, disse o pré-candidato, ao lado do presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, do presidente do diretório gaúcho, Ciro Simoni, e do pré-candidato ao Governo do Estado, Vieira da Cunha. “Um político às vezes não. Tem que tomar lado. Mas um cidadão dizer ‘tenho coisa ruim e coisa pior, ah, não vou. Vou votar nulo, vou votar branco’. São opções que uma democracia garante a qualquer do povo”, complementou.
Como um nome mais à esquerda do espectro político, ele se diferenciou de Lula, pois acredita que o petista não irá mudar o modelo econômico vigente. “Se o Lula representasse uma mudança do modelo econômico e político, minha candidatura não seria necessária. O Lula pede para votar acriticamente nele, pela ameaça do fascismo do Bolsonaro.”
Para Ciro, o modelo econômico do Brasil e de governança política, que, segundo ele, é o mesmo desde a retomada da democracia, baseado em “câmbio flutuante, meta de inflação e superávit primário”. Esses fatores, somado ao teto de gastos, impedem o crescimento do país, na sua análise. Disparando uma saraivada de números e indicadores, o ex-governador cearense indicou mudanças, apostando, principalmente, no fomento à indústria. “Nenhuma nação do mundo prospera sem indústria. O Brasil está ‘reprimarizando’ sua economia”, afirmou. Adepto ao desenvolvimentismo, boa parte do plano político e econômico de Ciro é explanado no seu livro Projeto Nacional: O dever da Esperança.
Ciro: RRF coloca o “RS de joelhos”
Sem perder fôlego – e nem velocidade – ao falar sobre a pauta econômica, o trabalhista foi duro ao criticar o Regime de Recuperação Fiscal, ao qual o Rio Grande do Sul espera apenas a assinatura do presidente Jair Bolsonaro (PL) para aderir, após aprovar legislações austeras na Assembleia Legislativa, em negociações que transcorreram envolvendo os três últimos governadores, José Ivo Sartori (MDB), Eduardo Leite (PSDB) e Ranolfo Vieira Júnior (PSDB). Caso seja eleito presidente, Ciro prometeu que revogará o regime.
“Isso (RRF) é um mecanismo para botar o Rio Grande de joelhos e fazer do Palácio Piratini uma usina de destruição de lideranças”, afirmou ele, que chegou a dizer que se tratava de uma “vingança de 30”, em referência à vitória de Getúlio Vargas, quebrando a República do Café com Leite. “A Brigada Militar tem um terço do ativo que tinha quando eu era colega do (ex-governador Alceu) Collares”, disse ele, citando que a educação pública no RS era uma das melhores do país naquela época. “Vocês estão definhando os serviços, sendo espoliados pela União.”
Como solução, o trabalhista defendeu um novo pacto federativo, uma proposta motivada pelas situações financeiras de Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro, conforme revelou, por meio de um programa tripartite, envolvendo também os governadores. A ideia, explicou, é “tirar a faca do pescoço” dos estados.
Confiança no voto dos indecisos
Ao contrário de Lula, que na semana passada pregou a união da esquerda no Rio Grande do Sul, Ciro Gomes lavou as mãos quanto a alianças no Estado. “Eu, que conheço o Brasil, sei que tenho que pisar com todas as delicadezas e cuidados profundos. O que os meus chefes do RS determinarem, eu fico feliz”, afirmou. “O Vieira talvez seja o cara mais querido dos adversários todos. Um desses amigos é o Beto (Albuquerque, do PSB). Faço votos que conversem”, revelou. “Mas o Rio Grande é o Rio Grande que resolve.”
Ao comentar sobre o atual cenário eleitoral, o pedetista citou o levantamento divulgado horas antes que indicou que 33 milhões de brasileiros estão passando fome. “As pessoas não estão pensando em política”, disparou. Ele mantém a terceira colocação há meses nas pesquisas, mas em estabilidade. Ainda assim, o pré-candidato confia em um crescimento ao longo da campanha. Para isso, citou dados da Genial/Quaest que apontou que há 42% de eleitores indecisos no cenário espontâneo e permitiu-se esbanjar confiança: “Esse povo vai vir todo para mim”, disse, no que foi aplaudido por correligionários.
Antes de terminar a coletiva, também defendeu os debates – aos quais Lula e Bolsonaro não confirmaram presença. “Se eu fosse eleitor de Lula ou Bolsonaro e eles não fossem aos debates, eu largava o voto neles”, disse ele, que confirmou que participará dos encontros entre os candidatos. “Quero despertar uma corrente de rebeldia com esperança”, encerrou ele, dirigindo-se então ao plenário da Câmara Municipal, onde recebeu o título de cidadão de Porto Alegre.