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No RS, Lula faz apelo por união da esquerda

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No RS, Lula faz apelo por união da esquerda Foto: Ricardo Stuckert/ Divulgação

Ato com ex-presidente e pré-candidato não contou com a presença de Beto Albuquerque, do partido do vice da chapa, Geraldo Alckmin

Em sua primeira visita ao Rio Grande do Sul na condição de pré-candidato à presidência da República, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um discurso pregando a união da esquerda no Estado durante um evento no Pepsi On Stage, que reuniu milhares de militantes na noite desta quarta. O RS tem hoje três pré-candidatos à esquerda – Edegar Pretto (PT), Pedro Ruas (PSOL) e Beto Albuquerque (PSB) –, e nenhum admite publicamente abrir mão da cabeça de chapa.

“É importante lembrar que nas duas vezes que a gente ganhou no Rio Grande do Sul fizemos um esforço muito grande para construir alianças tanto para eleições quanto para governança”, afirmou Lula. “Juntos somos muito mais fortes”, exortou ele, num ato que contou com a presença de nomes de peso do PSOL, mas sem nenhuma liderança do PSB, partido ao qual seu vice, Geraldo Alckmin, é filiado. 

“É normal que cada partido queira ter um candidato. Eu penso que os partidos de esquerda, possivelmente, todos separados não tenham fôlego para encontrar um candidato a governador, senador. Queria fazer um apelo, apelo de alguém que aprendeu a fazer política negociando” – afirmou Lula – “por favor, sentem na mesa, tomem até um aperitivo se quiserem, mas tem que encontrar uma solução”, pregou. “Não custa nada sentar mais uma vez na mesa, conversar um pouco mais.”

Beto Albuquerque, além de não estar presente nos eventos com Lula nesta quarta, postou uma foto em reunião com o deputado do PDT Eduardo Loureiro. Ele articula uma aproximação com os trabalhistas no Estado, dando força a um palanque a Ciro Gomes, que deverá concorrer com Lula ao Planalto.

Dilma cita “destruição do Brasil”

O evento, que durou quase quatro horas, contou com a participação de nomes históricos do PT no Rio Grande do Sul, como os ex-governadores Tarso Genro e Olívio Dutra – que foi um dos mais ovacionados na noite. A ex-presidente Dilma Rousseff também recebeu aplausos efusivos. 

Em sua fala, Dilma citou que há “algo de podre” nas instituições brasileiras e sentenciou: “Estão destruindo o Brasil”. Deposta por um processo de impeachment em 2016, ela criticou o atual governo. “Falavam em pedaladas fiscais. É ridículo pedaladas fiscais para um governo que sempre reduziu a dívida pública, um governo que sempre respeitou todos os artigos da lei orçamentária em todos os anos”, afirmou. “Agora, é um crime, um crime de corrupção, esse país deixar que o orçamento público seja usado de forma clientelista, de forma fisiológica.

Antes da participação dos principais nomes da noite, vários políticos foram entrevistados rapidamente por uma apresentadora. Nas falas, ficou claro que um dos temas que deve pautar a crítica ao governo será a inflação. “Como está o churrasquinho, a cerveja, e a filha na faculdade?”, questionaram, mais de uma vez, os entrevistados, entre eles principalmente parlamentares filiados a partidos que estão na campanha do ex-presidente.  

Apesar de se apresentar como multipartidário, o ato foi, em seu âmago, um evento petista. Nem todos de fora do partido conseguiram furar a bolha e cativar a militância. Uma delas foi a ex-deputada Manuela D’Ávila, que ressaltou que há uma indefinição de favorito no Rio Grande do Sul e convocou os eleitores a darem a vitória a Lula. 

Do PSOL, as deputadas Fernanda Melchionna e Luciana Genro, além do vereador Matheus Gomes, terminaram seus breves discursos com mais aplausos do que quando foram anunciados. Ex-petista e dissidente do partido, Genro destacou que o momento é de uma união eleitoral contra Bolsonaro e o bolsonarismo, “antes e depois das eleições”. 

Alckmin fala em “suar a camisa” por Lula

Ex-tucano e agora pré-candidato a vice na chapa, Geraldo Alckmin recebeu manifestações indiferentes quando seu nome era citado. Se não houve vaias ao ex-adversário político dos petistas, tampouco houve aplausos. Somente quando foi discursar que ganhou a militância: prometeu “suar a camisa para Lula voltar a ser presidente”, em nome da democracia e saúde. 

Com a experiência de quem já venceu as eleições para o governo de São Paulo três vezes, soube discursar objetiva e rapidamente quando o público já dava sinais de cansaço. Ganhou, enfim, o carinho daqueles que lhe eram opositores há não muito tempo.  

Lula enfatiza promessa do combate à fome

Às 20h56, enfim Lula recebeu o microfone. Em um discurso de improviso, evitou falas polêmicas, como a da véspera, quando disse que o PSDB tinha acabado. Falando diante da imagem da bandeira do Brasil no telão, o ex-presidente ressaltou o combate contra a fome e discursou contra privatizações: “Quem quiser se meter a comprar a Petrobras e a Eletrobras, se prepare que vai ter que conversar conosco depois das eleições”. O argumento central da defesa das empresas é, conforme explicou, “um Estado forte”.  

Ao defender políticas de combate à pobreza, Lula fez um aceno ao voto evangélico: “Nós que somos cristãos, e não importa a igreja que você frequenta, a gente que acredita na fraternidade, eu não sei como vocês se sentem ao passar nas ruas de Porto Alegre ver mulheres e crianças dormindo na rua”, afirmou. “A gente tinha acabado com isso”, completou, olhando para Dilma. “Os pobres da periferia sabiam que a filha de uma empregada poderia entrar na universidade. Eles sabiam que era possível”, acrescentou. “Quem se incomodou vendo pobre entrando no shopping, pode se preparar que vai ter muito mais. A nossa soberania fala de dignidade.”

Lula evitou citar o nome de Bolsonaro, apesar de atacar o atual presidente. E justificou pela defesa da soberania a escolha de Geraldo Alckmin para compor a chapa: “Queria alguém que pudesse trazer mais gente. Recuperar esse país e reconstruir a soberania deste país não é uma tarefa só do PT. É uma tarefa de todos aqueles que têm compromisso com a dignidade”.

O ato encerrou-se por volta das 21h30. Ao fim, uma cena um tanto simbólica: atendendo a um dos pedidos do ex-presidente, os pré-candidatos Edegar Pretto e Pedro Ruas foram, juntos e de mãos dadas, cumprimentar os militantes.

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