Serviços de saúde deverão ser os primeiros a sentir benefícios do 5G em Porto Alegre, diz especialista
Impactos do 5G na cidade dependerão de esforços conjuntos de entes públicos e privados
O 5G chegou a Porto Alegre. Mas por enquanto sua presença está restrita a poucos bairros e algumas dezenas de modelos de aparelhos compatíveis. Ainda levará algum tempo, questão de meses, para que a nova tecnologia esteja incorporada de fato ao cotidiano da cidade, a partir do avanço da instalação de antenas, além da massificação dos aparelhos receptores.
A novidade abre um potencial de novos serviços e usos do espaço público, visando a sustentabilidade. O 5G avança em três características principais: maior velocidade no tráfego de dados, maior largura de banda e baixa latência. Esses pontos, aliás, são imprescindíveis para a aplicação e funcionamento da internet das coisas, algo que estará presente nas chamadas “cidades inteligentes”. Para isso, contudo, será necessária uma parceria estruturada entre poder público e empresas privadas.
Para o professor do Instituto de Informática da UFRGS e membro do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE) Jefferson Nobre, a presença do 5G em Porto Alegre deverá ser notada inicialmente na área da saúde. “Será possível melhorar a experiência de usuários dos sistemas de saúde, com um impacto rápido e que não demanda grandes revoluções”, projetou, citando a possibilidade de dados de exames, mesmo que sejam pesados, serem encaminhados a centros médicos – e mesmo aos próprios médicos – de maneira ágil e imediata.
Nobre citou exames cardiológicos que demandam coleta de dados periodicamente como exemplo. “Se no meio desse exame houver um risco iminente, tu poderá acionar o médico do indivíduo e entrar em contato”, especulou. “O médico poderá interagir com imagens em alta resolução.” Há também a possibilidade de cirurgias remotas, mas isso, explicou o professor, não necessariamente está relacionado ao 5G, pois ambientes hospitalares normalmente contam com boa conexão. “No 5G, tem novas aplicações. Dá para fazer exames fora do ambiente hospitalar”, reforçou.
A liberação do sinal 5G foi só um primeiro passo. Todo o seu potencial será visto em momentos seguintes, a partir do reforço da infraestrutura – hoje Porto Alegre conta com apenas 291 antenas licenciadas. Para a exploração a pleno do 5G é necessário muito mais e, provavelmente, até mesmo em locais como paradas de ônibus. Nobre acredita que, em um período de pelo menos seis meses, a presença da tecnologia poderá ser mais percebida em Porto Alegre: “É um período de seis meses a um ano, para ter uma rede mais estabelecida. São procedimentos fáceis, mas são muitos”. A projeção é feita com base na implementação do 4G, na década passada.
O secretário de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade de Porto Alegre, Germano Bremm, evita fazer previsões nesse sentido. “Naturalmente, é algo gradativo. Agora a gente está implantando a tecnologia em alguns pontos da cidade. Vamos precisar de muito mais antenas para ampliar este sinal”, afirmou.
Cooperação entre entidades públicas e privadas
A partir do momento em que esta implementação estiver mais consolidada, os saltos na vida das cidades serão possíveis. O 5G possibilita, por exemplo, uma geração de carros autônomos. Mas, claro, não se imagina esses veículos trafegando pela Avenida Ipiranga tão cedo. No entanto, será possível criar soluções para o trânsito tanto na Ipiranga quanto em outras vias da Capital a partir da análise de uma grande quantidade de dados provenientes de aparelhos como câmeras ou sensores, devidamente conectados.
Entretanto, será necessário atentar a possíveis problemas relacionados à privacidade. “Mesmo tendo proteções como a Lei Geral de Proteção de Dados, os desafios de se conseguir coletar mais informações, numa velocidade maior, são bem evidentes especialmente”, ressalvou o professor da UFRGS.
O secretário Bremm revelou que espera um ambiente de inovação para breve. “Assim como a gente teve grandes saltos com o 4G, com o desenvolvimento de aplicativos, como Uber iFood, tudo o que ficou disponível na palma da nossa mão, nesse mesmo sentido a gente espera, em grau mais elevado ainda, que o mercado e a iniciativa privada comecem a encontrar soluções, assim como o poder público, para melhorar a vida das pessoas com o 5G”, disse.
A cooperação entre entidades públicas e privadas é apontada pelo professor Jeferson Nobre como um dos fatores determinantes para a boa aplicação do 5G. Para isso, a capital gaúcha deve beneficiar-se de um ambiente propício, segundo sua avaliação. “Porto Alegre tem vários vetores que, se forem operados e articulados, podem mudar a cidade. Há grandes universidades, incubadoras tecnológicas, um conjunto organizado de startups. Se agregar isso a uma infraestrutura de telecomunicação de qualidade, a gente pode pensar em várias aplicações que essas startups produzem para a cidade, em várias áreas”, analisou o especialista. “É muito mais uma questão de articular essas parcerias com empresas – que naturalmente têm interesses que precisam ser ponderados – do que investimentos.”