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Tatiana Cruz: Poesia falada – O levante das mulheres

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Tatiana Cruz: Poesia falada – O levante das mulheres
“Um livro de poesia na gaveta não adianta nadaLugar de poesia é na calçadaLugar de quadro é na exposiçãoLugar de música é no rádioAtor se vê no palco e na televisãoO peixe é no marLugar de samba enredo é no asfaltoLugar de samba enredo é no asfalto” Cada Lugar na Sua Coisa (Sérgio Sampaio) É claro que muita coisa mudou desde 1976, quando o compositor capixaba gravou a música citada na epígrafe, em plena época de ditadura. A indústria cultural ainda se organizava numa esfera analógica, dependente de rádios, TVs, mercado editorial tradicional, e a rua tinha uma importância fundamental para o artista engajado. Romper com o mainstream, à época, era um ato de heroísmo e algo restrito praticamente a uma bolha. Fazer arte para ser validada e circulada entre os poucos – os de sempre – era algo a ser combatido. Corta para 2019. A rua parece não perder essa importância. Ao contrário: 43 anos depois, responde com vigor a esse chamado de Sérgio Sampaio. Deixando a música de lado e puxando o foco para a cena da poesia, a tal poesia de calçada, que é o que nos interessa aqui, estamos tomados de versos – e falados. É como se o escrito de gaveta ou aquele livro lido na poltrona, no silêncio da sala de estar, ganhasse status de Carnaval e fosse para a rua sambar. A poesia perdeu as vergonhas, a discrição, a contenção de poesia, a poesia é show – e as mulheres têm tudo a ver com isso. Explico. Em 2008, a atriz paulista Roberta Estrela D´Alva estava em Nova York, Estados Unidos, fazendo pesquisas sobre hip hop para uma peça, quando foi assistir a um torneio bem peculiar, um torneio de poesia. Batizado de slam (batida, em inglês), o torneio esse nada mais era do que uma batalha de poesia autoral, em performance de voz e corpo, na qual os concorrentes diziam poemas diante de um público durante um lapso previamente estabelecido de tempo, e os ganhadores eram escolhidos de acordo com a decisão de um júri, geralmente montado na hora, integrando pessoas da plateia. Criado por Marc Kelly Smith, um operário da construção civil apaixonado por poesia, o slam nasceu em 1986 como um show, o Uptown Poetry Slam, em um bar na periferia de Chicago, e rapidamente se espalhou por outras cidades, vindo a ganhar o coração de Roberta, que, onze anos atrás procurava pelo hip hop mas saiu dos Estados Unidos com um movimento poético na bagagem para implantar nas comunidades mais periféricas de São Paulo, onde diversidade, especialmente de gênero e raça, era assunto emergente, como comenta em entrevista ao portal HuffPost Brasil em outubro do ano passado. “O que mais chamou atenção para mim foi a diversidade. Porque tinha gente de tudo quanto é tipo, vários assuntos, e um jeito de se expressar diferente um dos outros”, diz Roberta que, chegando ao Brasil, não encontrou nada do tipo por aqui e decidiu criar o ZAP Slam (Zona Autônoma da […]

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