Crônica | Parêntese

A dualidade de Margaret Thatcher, Hugh Hefner, Flávio Alcaraz Gomes, uma búlgara e um gaúcho gay em Praga – Parte 1

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A dualidade de Margaret Thatcher, Hugh Hefner, Flávio Alcaraz Gomes, uma búlgara e um gaúcho gay em Praga – Parte 1 Por Fabiano Golgo O convite foi inusitado: queriam que eu dirigisse a Playboy. Eu recém havia saído da direção de uma revista semanal de atualidades, tipo Veja e Época, após uma briga pública com o dono, pois me recusei a publicar uma matéria conspiratória sobre o Mossad estar por trás dos ataques de 11 de setembro nos EUA.  Já era a terceira vez que meu nome virava notícia e eu o gaúcho mais famoso da antiga Boêmia. Só não era o brasileiro mais conhecido pelos tchecos porque, além de toda a longa lista de jogadores de futebol que todo mundo conhece, havia um carioca que se tornara uma espécie de Hans Donner da televisão local, tendo criado não apenas muitos cenários de programas campeões de audiência, mas a vinheta mais popular da emissora, onde uma mulata brasileira, trazida da Alemanha, dava meia dúzia de passos de samba, indumentada como para o Carnaval, enquanto o logo da TV Nova, a Globo daqui, surgia trazido pelo rebolado dela.  A vinheta de Ricardo Hoineff deu cria a um concurso que engajou centenas de milhares de tchecos, que enviaram vídeos caseiros mostrando-os em situações e locais inesperados, sambando. Era tcheco dançando em cima de telhado, de trator, no lombo de cavalo, no chuveiro, na cozinha, na cama, na varanda, onde dava. Se o app Tik Tok existisse naquele início de anos 2000, esses vídeos teriam feito muito sucesso por lá. No final do ano, uma família tcheca ganhou por seu vídeo uma estadia de 10 dias em Copacabana, onde, evidentemente, acabaram roubados 3 vezes e engambelados outras 2, o que levou ao cancelamento do planejado mini-documentário sobre a viagem dos vencedores da premiação.  Ricardo, que é primo temporão do falecido Nelson Hoineff, conhecido pelo Documento Especial, que revolucionou o formato “jornalismo verdade”, na Rede Manchete (depois SBT), acabou virando vinheta ele mesmo. Seu marcante rosto com olhos azuis protuberantes, dando uma piscadela, ficou dois anos no ar como o Plim-plim da televisão pública ČT2.  Então, me restou a posição de segundo brasileiro mais “medializado” no país quando fui chamado para protagonizar um documentário para a televisão tcheca que mostraria as comemorações dos dez anos da Revolução de Veludo, que, em 17 de novembro de 1989, seguiu o dominó que fez cair os enferrujados regimes comunistas do Leste Europeu.  Naquele 1999, o ex-dissidente que virara presidente, Václav Havel, havia convidado Margaret Thatcher, George Bush (pai), Mikhail Gorbachev, Lech Walesa, Helmut Kohl e a viúva de François Miterrand para receberem medalhas simbólicas em um evento no Castelo de Praga, por suas participações na derrubada do antigo sistema que tanto sufocara a liberdade da população. O documentarista decidira formatar seu roteiro como uma mostra e análise da perspectiva de um estrangeiro sobre esse evento.  Em vez de simplesmente registrar as comemorações, ele me deu uma câmera que produzia imagens mais azuladas, que assim seriam reconhecidas pelos telespectadores, quando aparecessem, como sendo produção minha, enquanto a sua própria câmera focava em mim… focando nos eventos.  Ele queria uma […]

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Por Fabiano Golgo O convite foi inusitado: queriam que eu dirigisse a Playboy. Eu recém havia saído da direção de uma revista semanal de atualidades, tipo Veja e Época, após uma briga pública com o dono, pois me recusei a publicar uma matéria conspiratória sobre o Mossad estar por trás dos ataques de 11 de setembro nos EUA.  Já era a terceira vez que meu nome virava notícia e eu o gaúcho mais famoso da antiga Boêmia. Só não era o brasileiro mais conhecido pelos tchecos porque, além de toda a longa lista de jogadores de futebol que todo mundo conhece, havia um carioca que se tornara uma espécie de Hans Donner da televisão local, tendo criado não apenas muitos cenários de programas campeões de audiência, mas a vinheta mais popular da emissora, onde uma mulata brasileira, trazida da Alemanha, dava meia dúzia de passos de samba, indumentada como para o Carnaval, enquanto o logo da TV Nova, a Globo daqui, surgia trazido pelo rebolado dela.  A vinheta de Ricardo Hoineff deu cria a um concurso que engajou centenas de milhares de tchecos, que enviaram vídeos caseiros mostrando-os em situações e locais inesperados, sambando. Era tcheco dançando em cima de telhado, de trator, no lombo de cavalo, no chuveiro, na cozinha, na cama, na varanda, onde dava. Se o app Tik Tok existisse naquele início de anos 2000, esses vídeos teriam feito muito sucesso por lá. No final do ano, uma família tcheca ganhou por seu vídeo uma estadia de 10 dias em Copacabana, onde, evidentemente, acabaram roubados 3 vezes e engambelados outras 2, o que levou ao cancelamento do planejado mini-documentário sobre a viagem dos vencedores da premiação.  Ricardo, que é primo temporão do falecido Nelson Hoineff, conhecido pelo Documento Especial, que revolucionou o formato “jornalismo verdade”, na Rede Manchete (depois SBT), acabou virando vinheta ele mesmo. Seu marcante rosto com olhos azuis protuberantes, dando uma piscadela, ficou dois anos no ar como o Plim-plim da televisão pública ČT2.  Então, me restou a posição de segundo brasileiro mais “medializado” no país quando fui chamado para protagonizar um documentário para a televisão tcheca que mostraria as comemorações dos dez anos da Revolução de Veludo, que, em 17 de novembro de 1989, seguiu o dominó que fez cair os enferrujados regimes comunistas do Leste Europeu.  Naquele 1999, o ex-dissidente que virara presidente, Václav Havel, havia convidado Margaret Thatcher, George Bush (pai), Mikhail Gorbachev, Lech Walesa, Helmut Kohl e a viúva de François Miterrand para receberem medalhas simbólicas em um evento no Castelo de Praga, por suas participações na derrubada do antigo sistema que tanto sufocara a liberdade da população. O documentarista decidira formatar seu roteiro como uma mostra e análise da perspectiva de um estrangeiro sobre esse evento.  Em vez de simplesmente registrar as comemorações, ele me deu uma câmera que produzia imagens mais azuladas, que assim seriam reconhecidas pelos telespectadores, quando aparecessem, como sendo produção minha, enquanto a sua própria câmera focava em mim… focando nos eventos.  Ele queria uma […]

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