Nossos Mortos | Parêntese

Adão Villaverde e Carlos Winckler: Lembranças do Rui Gonçalves, da Palmarinca

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Adão Villaverde e Carlos Winckler: Lembranças do Rui Gonçalves, da Palmarinca Adão Villaverde | Carlos Wincler Um dia muito triste Por Adão Villaverde É com muita tristeza e pesar que registramos o falecimento do amigo Rui Gonçalves, da Palmarinca. É como dizia Mário Quintana: “a morte chega pontualmente na hora incerta”. Conheci o Rui ali pelos meados dos anos 70, quando a Palmarinca era na Gal. Vitorino com a Vigário. Tinha uma bela foto do Gramsci na entrada: ele já era heterodoxo. No período de faculdade, eu sempre passava lá umas duas vezes por semana para dar uma olhada, conversar e até ler alguma coisa. porque a grana não alcançava. Tratava-se de uma pessoa sensível, generosa e enorme figura humana, uma centelha sempre pulsante em solo porto-alegrense e rio-grandense, que fundiu sua relação com a capital a partir da abnegada dedicação de sua alma à fenomenologia permanente do mundo dos livros. Fará enorme falta, sobretudo por seu empenho constante na propagação, no estímulo a leitura e nos permanentes debates e discussões que proporcionava aos amig@s acerca daquilo que embalou sua vida: os Livros e a livraria! Um cara sempre presente na cultura, na literatura, na política e nas reflexões filosóficas acerca da vida e dos rumos da humanidade. Perdemos um humanista, um iluminista, um enorme e permanente facho de luz que orientou corações e mentes de nossa geração. Adão Villaverde é professor, engenheiro, Gestor do Conhecimento e da Inovação, ex-Secretário de Ciência e Tecnologia e deputado estadual por várias legislaturas.   A alegria de juntos chorar Por Carlos Roberto Winckler No “Poema da Gare de Astapovo” Mário Quintana relata a morte de Leon Tolstoi, que fugira de casa aos oitenta e dois anos. A Morte o colheu quando descansava sentado na gare deserta. Chegou pontualmente na hora incerta, como lembrou amigo comum citando Quintana, para Rui Gonçalves Diniz, que se imaginava que faria parte da paisagem cultural e política de Porto Alegre ainda por muitos anos com sua Livraria Palmarinca, nome que evoca a resistência de africanos escravizados e seus descendentes e os Incas, um dos povos originários da América Latina subjugados pelo conquistador espanhol. A Livraria Palmarinca foi um ponto de encontro de oposição à ditadura militar. Conciliou, ao longo dos anos, a atividade comercial com elevado espírito público no sentido de formar gerações democráticas. Algo raro, pois nem sempre à esquerda se consegue tal feito, caso se examine a história de outras livrarias de igual orientação em Porto Alegre. Na América Latina se viu pipocar, em função do ciclo de ditaduras, livreiros organizadores da cultura, um elo essencial na luta pela democracia. Livreiros combatentes havia também na Argentina, como o legendário proprietário da Livraria Hernandez, situada na avenida Corrientes em Buenos Aires e de larga tradição na esquerda. Rui era assíduo cliente de seus depósitos clandestinos na fase mais feroz da ditadura argentina. Nessa fase, não só importou livros da Espanha, como tornou-se exímio contrabandista e driblador de agentes federais em Uruguaiana. Muito colaborou com a ampliação dos horizontes das classes médias intelectualizadas de Porto Alegre e do país. A […]

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Adão Villaverde | Carlos Wincler Um dia muito triste Por Adão Villaverde É com muita tristeza e pesar que registramos o falecimento do amigo Rui Gonçalves, da Palmarinca. É como dizia Mário Quintana: “a morte chega pontualmente na hora incerta”. Conheci o Rui ali pelos meados dos anos 70, quando a Palmarinca era na Gal. Vitorino com a Vigário. Tinha uma bela foto do Gramsci na entrada: ele já era heterodoxo. No período de faculdade, eu sempre passava lá umas duas vezes por semana para dar uma olhada, conversar e até ler alguma coisa. porque a grana não alcançava. Tratava-se de uma pessoa sensível, generosa e enorme figura humana, uma centelha sempre pulsante em solo porto-alegrense e rio-grandense, que fundiu sua relação com a capital a partir da abnegada dedicação de sua alma à fenomenologia permanente do mundo dos livros. Fará enorme falta, sobretudo por seu empenho constante na propagação, no estímulo a leitura e nos permanentes debates e discussões que proporcionava aos amig@s acerca daquilo que embalou sua vida: os Livros e a livraria! Um cara sempre presente na cultura, na literatura, na política e nas reflexões filosóficas acerca da vida e dos rumos da humanidade. Perdemos um humanista, um iluminista, um enorme e permanente facho de luz que orientou corações e mentes de nossa geração. Adão Villaverde é professor, engenheiro, Gestor do Conhecimento e da Inovação, ex-Secretário de Ciência e Tecnologia e deputado estadual por várias legislaturas.   A alegria de juntos chorar Por Carlos Roberto Winckler No “Poema da Gare de Astapovo” Mário Quintana relata a morte de Leon Tolstoi, que fugira de casa aos oitenta e dois anos. A Morte o colheu quando descansava sentado na gare deserta. Chegou pontualmente na hora incerta, como lembrou amigo comum citando Quintana, para Rui Gonçalves Diniz, que se imaginava que faria parte da paisagem cultural e política de Porto Alegre ainda por muitos anos com sua Livraria Palmarinca, nome que evoca a resistência de africanos escravizados e seus descendentes e os Incas, um dos povos originários da América Latina subjugados pelo conquistador espanhol. A Livraria Palmarinca foi um ponto de encontro de oposição à ditadura militar. Conciliou, ao longo dos anos, a atividade comercial com elevado espírito público no sentido de formar gerações democráticas. Algo raro, pois nem sempre à esquerda se consegue tal feito, caso se examine a história de outras livrarias de igual orientação em Porto Alegre. Na América Latina se viu pipocar, em função do ciclo de ditaduras, livreiros organizadores da cultura, um elo essencial na luta pela democracia. Livreiros combatentes havia também na Argentina, como o legendário proprietário da Livraria Hernandez, situada na avenida Corrientes em Buenos Aires e de larga tradição na esquerda. Rui era assíduo cliente de seus depósitos clandestinos na fase mais feroz da ditadura argentina. Nessa fase, não só importou livros da Espanha, como tornou-se exímio contrabandista e driblador de agentes federais em Uruguaiana. Muito colaborou com a ampliação dos horizontes das classes médias intelectualizadas de Porto Alegre e do país. A […]

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