Ana Marson: Ao contrário
Pra mim é ao contrário. Solteira, sem filhos e há anos trabalhando em home office, a minha surpresa, quiçá desespero, foi ter sido pega desprevenida pelo espalhamento do coronavírus obrigando a ficar em casa justamente quando eu estava em visita ao meu irmão – casado, com dois filhos, uma de 7 e um de 3. Por causa do home office, eu sempre posso viajar. Levo meu computador, tiro meu tempo de trabalho e pronto. Então, quando vim pra casa do meu irmão, não seria diferente: ele e a esposa iriam pro trabalho, as crianças, pro colégio, neste tempo é que eu trabalharia e no fim do dia ficaríamos todos juntos. Por alguns dias. Aí eu voltaria pra minha casa. Um detalhe: eu moro em Florianópolis, meu irmão, em Santos. Então, sem esperar, eu, saída da minha pacata vida, tive que ficar em confinamento com dois adultos e, Jesus Cristo, duas crianças.
Claro que elas querem a tia o tempo todo. Tia é tia, não é mãe, não manda pro banho, “come tudo”, “para com isso”, “ajuda o irmão”, “não grita”. Bom, “não grita” eu digo sim, e outras coisas também. E claro que com crianças em casa o meu home office foi pras cucuias. A concentração.