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Arthur de Faria: série As Origens, Parte IV

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Arthur de Faria: série As Origens, Parte IV
A cidade segue crescendo: eram já cerca de 20 mil almas quando, em 1860, nasce a sociedade musical Firmesa (sic) e Esperança, que ensinava música e danças de salão e promovia bailes que varavam a noite. Em 1872 eram 27.751 habitantes – 8.784 deles africanos e afrodescendentes escravizados: seguia negro quase um terço da população da capital do estado que volta e meia ainda fantasia o “somos tão europeus”. Segundo o Almanak Administrativo, Comercial e Industrial Rio-grandense para 1873, havia então na capital 486 estabelecimentos comerciais, 339 oficinas, 39 fábricas e mais jornais do que os há no começo do século XXI: seis. Além de 28 médicos, 23 advogados, 10 engenheiros e nove farmacêuticos. Músico de profissão, ao que parece, nenhum. Também o traçado da cidade se modifica. De 1869 a 1879 vão ser abertas quase todas as atuais transversais da rua da Praia, algumas com nomes bastante auto-explicativos: a rua da Passagem (atual General Salustiano), o beco dos Guaranis (General Vasco Alves), o beco do Bota Bica (General Portinho), o beco do Pedro Mandinga (General Canabarro), o beco dos Pecados Mortais (General Bento Martins), a rua Clara (General João Manuel), o beco do João Inácio (General Câmara), a rua da Bandeira (Vigário José Inácio) e a rua Santa Catarina (Doutor Flores). Muito diferente das melodiosas páginas que passavam pelas estantes do Maestro Mendanha eram os tonitruantes blocos de Zé-Pereira, que desde 1877 eram atrações do carnaval e inferno da vizinhança: zabumbas e cornetas ensaiavam (como se adiantasse…) madrugada adentro. Valiam pela hilaridade que tomava conta das ruas quando os desconjuntados grupos saíam. Só paravam de tocar para que os oradores improvisados destruíssem sem dó nem piedade a gramática, em discursos obrigatoriamente sem pé nem cabeça. Em 1874 estreiam os corsos, com as sociedades carnavalescas desfilando seus carros alegóricos puxados por cavalos através de ruas enfeitadas para a ocasião. As mais antigas foram fundadas em 1873 com a declarada missão de matar o entrudo. Eram elas a S.C. Esmeralda e a Venezianos, vindo a seguir as pioneiras os Congos, os Tenentes do Diabo e os Filhos do Inferno. Por que pioneiras? Porque eram nelas que a população negra (livre e escravizada) da cidade reunia dois objetivos: desfilar no carnaval da forma mais impressionante possível, e realizar espetáculos para arrecadar fundos usados para comprar cartas de alforria. Pra completar, a alemoada da cidade (alemoada, em gauchês: coletivo de descendentes de alemães – incluindo, se necessário, alguns alemães de origem) funda a Sociedade Germânia. Já existia o clube que depois de chamaria SOGIPA, desde 1867. Juntos, imigrantes, senhores de escravos e as pessoas a quem escravizavam conseguiram o que a polícia não havia conseguido. Tá lá no jornal A Reforma, na edição de 19 de fevereiro de 1874 (evidentemente, omitindo a contribuição das sociedades dos imigrantes e dos negros): O inconveniente jogo de entrudo foi este ano substituído completamente, nesta cidade, pelo Carnaval. Deve-se este acontecimento às sociedades carnavalescas “Venezianos” e “Esmeralda”, que foram os iniciadores da reforma, secundados pelos habitantes, que […]

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