Crônica | Parêntese

Aula de surf

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Aula de surf A pessoa, pra surfar, ela tem que ser atleta. O surf é um esporte difícil, e haja força na barriga, nos braços e nas pernas. A pessoa que não é atleta também pode, mas tem que ter algumas características, como não ter medo de morrer afogada, não ter vergonha de passar vergonha, nem medo de matar alguém com pranchada na cara ou mesmo não ter medo de se quebrar. Somado a isso, facilita se a pessoa tem o problema de ser maria-vai-com-as-outras e de competir consigo mesma. Tirando a parte de ser atleta, no resto todo eu me encaixo. Então tô aqui, aquela coisa meio interiorana de Floripa, na minha casa, aparece meu vizinho, professor de surf, meu amigo, aquele cafezinho, papo disso e daquilo, ele me propõe fazer aulas de surf com ele. Que eu demorei pra começar a surfar morando aqui. Que qualquer um pode aprender. “Vâmo, Aninha, bora”. Bem assim. (Chamou de Aninha, eu já fico na obriga. Quando quiser me pedir algo, manda um “Aninha”, só pra ver como eu faço, sem pestanejar. Algumas chefes lá de São Paulo já se ligaram disso, por isso sigo virando noite revisando textos.) Aí a caralha do bicho carpinteiro que me habita já se coçou. Tô tão na boa, fazendo meu ioga, por que não me arriscar no mar, certo? Num esporte que, assim, nunca nem sequer segurei uma prancha na mão? Por que não? Então fui. Primeira aula, aprender os movimentos ali na areia mesmo. O hômi já tinha me colocado naquelas roupas de borracha, sob a alegação de que a água tava fria, então no alongamento e na parte teórica eu já tava colocando os bofes pra fora de tanto calor, entrei cansada no mar, tudo que queria era aquela água gelada. Quase desmaiei. Aí depois de muita luta, de onda na cara, de entrar em desespero quando vem onda grande, eu consegui, por cerca de 0,3 segundo, ficar de joelhos na prancha. E cair, me embolando de todo jeito que se pode imaginar. Segunda aula, já só de maiô, que se lasque a fantasia de pinguim, fora que me senti com muita chinfra vestida daquele jeito pra zero de desempenho, mas bem, fiquei em pé na prancha, que delícia! Foi isso, fiquei em pé. E caí. Cerca de 1 segundo. Aí uma hora fiquei em pé mesmo, de verdade, a prancha deslizando, e foi, foi, por conta própria, e foi bem na direção de uma outra criatura, eu tive que pular pro lado. Depois que passou o turbilhão é que eu fui ver se tinha matado a pessoa. Não. Tava viva. Quando tô voltando pro profe, ele tá com os olhos desse tamanho, eu disse “quase matei uma, mas fiquei em pé”, e comemorei. E então, distraída e festiva, tomei uma onda na cara e voltei pra trás tudo que eu já tinha vencido de mar, na derrota, sem controle sobre meu corpo e minha prancha. Ele riu e disse que isso de quase bater em […]

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A pessoa, pra surfar, ela tem que ser atleta. O surf é um esporte difícil, e haja força na barriga, nos braços e nas pernas. A pessoa que não é atleta também pode, mas tem que ter algumas características, como não ter medo de morrer afogada, não ter vergonha de passar vergonha, nem medo de matar alguém com pranchada na cara ou mesmo não ter medo de se quebrar. Somado a isso, facilita se a pessoa tem o problema de ser maria-vai-com-as-outras e de competir consigo mesma. Tirando a parte de ser atleta, no resto todo eu me encaixo. Então tô aqui, aquela coisa meio interiorana de Floripa, na minha casa, aparece meu vizinho, professor de surf, meu amigo, aquele cafezinho, papo disso e daquilo, ele me propõe fazer aulas de surf com ele. Que eu demorei pra começar a surfar morando aqui. Que qualquer um pode aprender. “Vâmo, Aninha, bora”. Bem assim. (Chamou de Aninha, eu já fico na obriga. Quando quiser me pedir algo, manda um “Aninha”, só pra ver como eu faço, sem pestanejar. Algumas chefes lá de São Paulo já se ligaram disso, por isso sigo virando noite revisando textos.) Aí a caralha do bicho carpinteiro que me habita já se coçou. Tô tão na boa, fazendo meu ioga, por que não me arriscar no mar, certo? Num esporte que, assim, nunca nem sequer segurei uma prancha na mão? Por que não? Então fui. Primeira aula, aprender os movimentos ali na areia mesmo. O hômi já tinha me colocado naquelas roupas de borracha, sob a alegação de que a água tava fria, então no alongamento e na parte teórica eu já tava colocando os bofes pra fora de tanto calor, entrei cansada no mar, tudo que queria era aquela água gelada. Quase desmaiei. Aí depois de muita luta, de onda na cara, de entrar em desespero quando vem onda grande, eu consegui, por cerca de 0,3 segundo, ficar de joelhos na prancha. E cair, me embolando de todo jeito que se pode imaginar. Segunda aula, já só de maiô, que se lasque a fantasia de pinguim, fora que me senti com muita chinfra vestida daquele jeito pra zero de desempenho, mas bem, fiquei em pé na prancha, que delícia! Foi isso, fiquei em pé. E caí. Cerca de 1 segundo. Aí uma hora fiquei em pé mesmo, de verdade, a prancha deslizando, e foi, foi, por conta própria, e foi bem na direção de uma outra criatura, eu tive que pular pro lado. Depois que passou o turbilhão é que eu fui ver se tinha matado a pessoa. Não. Tava viva. Quando tô voltando pro profe, ele tá com os olhos desse tamanho, eu disse “quase matei uma, mas fiquei em pé”, e comemorei. E então, distraída e festiva, tomei uma onda na cara e voltei pra trás tudo que eu já tinha vencido de mar, na derrota, sem controle sobre meu corpo e minha prancha. Ele riu e disse que isso de quase bater em […]

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