Entrevistas | Parêntese

Bixas, militância virtual, neoliberalismo e Porto Alegre: o pot-pourri por Célio Golin

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Bixas, militância virtual, neoliberalismo e Porto Alegre: o pot-pourri por Célio Golin Era 2007. Eu andava por Porto Alegre, nas ruas General Câmara, Jerônimo Coelho e Riachuelo, entrando de sebo em sebo. Ainda achava que tinha que ir para a capital usando a roupa de domingo. Talvez assim, enfatiotado, Célio Golin tenha me recebido na sede da ONG Nuances, em um prédio ao lado de onde se estabeleceu o camelódromo.  Ao me ver segurando alguns livros de Cassandra Rios, lésbica recorde de vendas algumas décadas antes de eu vir ao mundo, Célio me convidou para escrever sobre a escritora para o Jornal do Nuances, então publicação mensal das nuanceiras. Fiz festa quando o texto saiu: página inteira na edição 40, de junho de 2007. O texto era simples; o ato de Célio foi gigantesco. Era raro alguém colocar crédito em mim, figura outsider até mesmo dos grupos LGBT.  Após espaçados “olás”, depois de um período de colaboração para o periódico e de rápidos encontros em eventos, torno a estar próximo dele no lançamento de Babá: esse depravado negro que amou (Libretos, 2019) para o qual o convido a fazer uma fala. Vestindo uma camiseta lembrando a Coligay, torcida gay do Grêmio, apaixonado que é por futebol e pelas histórias das bixas, se colocou com a expertise de quem já viveu anos de militância, quem muito ouviu e viu.  Próximos à Parada Livre, agendada para 8 de dezembro, para a qual trabalha com afinco, Célio, como me disseram os companheiros de movimento social Luís Gustavo Weiler e Marcos Benedetti, enquanto degustávamos uma pizza na Cidade Baixa, tem sido um excepcional caso de persistência. Senti um revirar de inveja no estômago. Nada da pizza ainda. Creio que não somente eu, porque reconhecemos alguém melhor do que nós quando encontramos. Célio respondeu algumas perguntas em nosso mais recente encontro. Jandiro Adriano Koch (Jan) – O filósofo francês Didier Eribon é um dos muitos a acreditar que as grandes cidades são o lugar preferido pelos LGBTQI+ por proporcionar socialização e anonimato. Anos atrás, você fez esse movimento de Nonoai para Porto Alegre. Encontrou o que esperava? Célio Golin – Em contextos de repressão social, em cidades pequenas, onde as pessoas são vigiadas em todos os passos, sendo a sexualidade componente fundamental para a sobrevivência, as e os LGBTs acabam saindo para conseguir mais liberdade. Eu, como milhares, fiz esse movimento. Tem outros fatores também, como o dos estudos, mas, para os LGBTs, o componente da sexualidade faz a diferença. Porto Alegre, como a maioria das cidades grandes e médias, garante anonimato e locais onde tu podes exercer tua sexualidade com mais proteção e liberdade. Pra mim, foi fundamental neste sentido. J: Qual o significado da Parada Livre, na organização da qual você está envolvido?  CG: Em Porto Alegre, a Parada Livre iniciou em 1997, juntamente com a de São Paulo. Foi uma mudança de paradigma em termos de disputa simbólica das questões envolvendo as pautas LGBT. A saída para as ruas, em massa, deu outra dimensão para a causa. Ocuparam-se ambientes que, antes, estavam fechados. Isso […]

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Era 2007. Eu andava por Porto Alegre, nas ruas General Câmara, Jerônimo Coelho e Riachuelo, entrando de sebo em sebo. Ainda achava que tinha que ir para a capital usando a roupa de domingo. Talvez assim, enfatiotado, Célio Golin tenha me recebido na sede da ONG Nuances, em um prédio ao lado de onde se estabeleceu o camelódromo.  Ao me ver segurando alguns livros de Cassandra Rios, lésbica recorde de vendas algumas décadas antes de eu vir ao mundo, Célio me convidou para escrever sobre a escritora para o Jornal do Nuances, então publicação mensal das nuanceiras. Fiz festa quando o texto saiu: página inteira na edição 40, de junho de 2007. O texto era simples; o ato de Célio foi gigantesco. Era raro alguém colocar crédito em mim, figura outsider até mesmo dos grupos LGBT.  Após espaçados “olás”, depois de um período de colaboração para o periódico e de rápidos encontros em eventos, torno a estar próximo dele no lançamento de Babá: esse depravado negro que amou (Libretos, 2019) para o qual o convido a fazer uma fala. Vestindo uma camiseta lembrando a Coligay, torcida gay do Grêmio, apaixonado que é por futebol e pelas histórias das bixas, se colocou com a expertise de quem já viveu anos de militância, quem muito ouviu e viu.  Próximos à Parada Livre, agendada para 8 de dezembro, para a qual trabalha com afinco, Célio, como me disseram os companheiros de movimento social Luís Gustavo Weiler e Marcos Benedetti, enquanto degustávamos uma pizza na Cidade Baixa, tem sido um excepcional caso de persistência. Senti um revirar de inveja no estômago. Nada da pizza ainda. Creio que não somente eu, porque reconhecemos alguém melhor do que nós quando encontramos. Célio respondeu algumas perguntas em nosso mais recente encontro. Jandiro Adriano Koch (Jan) – O filósofo francês Didier Eribon é um dos muitos a acreditar que as grandes cidades são o lugar preferido pelos LGBTQI+ por proporcionar socialização e anonimato. Anos atrás, você fez esse movimento de Nonoai para Porto Alegre. Encontrou o que esperava? Célio Golin – Em contextos de repressão social, em cidades pequenas, onde as pessoas são vigiadas em todos os passos, sendo a sexualidade componente fundamental para a sobrevivência, as e os LGBTs acabam saindo para conseguir mais liberdade. Eu, como milhares, fiz esse movimento. Tem outros fatores também, como o dos estudos, mas, para os LGBTs, o componente da sexualidade faz a diferença. Porto Alegre, como a maioria das cidades grandes e médias, garante anonimato e locais onde tu podes exercer tua sexualidade com mais proteção e liberdade. Pra mim, foi fundamental neste sentido. J: Qual o significado da Parada Livre, na organização da qual você está envolvido?  CG: Em Porto Alegre, a Parada Livre iniciou em 1997, juntamente com a de São Paulo. Foi uma mudança de paradigma em termos de disputa simbólica das questões envolvendo as pautas LGBT. A saída para as ruas, em massa, deu outra dimensão para a causa. Ocuparam-se ambientes que, antes, estavam fechados. Isso […]

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