Um plano inspirador
Exatamente no primeiro dia de 2021 ingressarei no time dos cinquentões. Confesso que tinha uns planos bem maneiros para a virada. Isso antes de sermos capturados na macabra espiral verde-amarela que combina bolsonarismo e Covid-19.
De março pra cá os planos entraram em pane. A perspectiva das possibilidades futuras, espécie de tela onde projetamos desejos e intenções, foi progressivamente se estreitando. Até que sobrou apenas um ponto fixo no horizonte. E a partir deste ponto espero reconstruir o panorama mais amplo das cousas que importam.
Que ponto é esse? A clara percepção que nenhuma sociedade humana digna desse nome sobrevive aos ataques sistemáticos à sua capacidade de pensar criticamente.
O investimento em ciência e cultura, a aposta no esclarecimento e o fortalecimento do uso público da razão, são barricadas no caminho da desinformação, das ameaças constantes à laicidade do estado e do rebaixamento da política.
Em 24/11/2020 nosso querido amigo Fischer disparou um e-mail que dizia o seguinte:
“A revista Parêntese se pensa como um espaço para dar vigor às ideias. Em um ano, passaram por aqui centenas de textos — ensaios, crônicas, memórias, palpites, relatos —, charges, fotos e entrevistas que, cada qual ao seu modo, contaram o que estava invisível, explicaram o presente que se impõe e – o mais valioso – propuseram um futuro possível.
O futuro, caros leitores, depende da imprensa, que depende da Opinião Pública, que depende de uma sociedade justa para viver e livre para pensar.
Queremos seguir nesse espaço e chegar ao nosso próximo ano com o mesmo vigor.”
Eis um plano inspirador para o ano que se avizinha.
Alvíssaras em cornucópia. Fora Bolsonaro! Vacina para todos!
Eduardo Vicentini de Medeiros é professor de Filosofia na UFSM, desde fevereiro de 2019. No doutorado escreveu sobre Henry David Thoreau (aquele da desobediência civil), autor marginal – de borda – da terra do Tio Sam, lugarzinho que se acha o centro do mundo.