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Cláudia Laitano: viés

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Cláudia Laitano: viés “A ação da PF de hoje foi deflagrada a pedido da PGR – e autorizada pelo STJ. Se Aras estivesse preocupado em evitar especulações sobre seu viés bolsonarista, não manteria alegre relação com o presidente. Lembrando. Bolsonaro é ora investigado – e Aras, o seu investigador.” (@andreazzaeditor, no Twitter, em 26 de maio) “O @FT (Financial Times) e o @TheEconomist, duas das maiores, mais renomadas e mais antigas publicações que falam sobre economia no Reino Unido já publicaram sobre o perigo das ações do governo brasileiro. Nenhum dos dois tem viés de esquerda. A questão não é ideológica. (@ramosfeel, no Twitter, em 25 de maio) Definição:  Inclinação de temperamento ou de perspectiva em relação a determinado assunto que afeta a maneira como alguém assimila novas informações, julga, emite opiniões e age, muitas vezes sem perceber que não está sendo isento ou sequer racional. Quem usou:  “Somos enviesados, não escapa ninguém. Ou assim nos leva a crer esse animado início de século em que a velha palavra ‘viés’, importada há meio milênio do francês, ganha sentido novo – este vindo do inglês – e posição central para nosso entendimento do mundo. O viés pode ser ideológico, de confirmação, partidário, político – em qualquer uma dessas manifestações, acredita-se que faça de todos nós criaturas parciais, tendenciosas, predispostas a assumir certas posições à revelia dos fatos. Vale parafrasear Drummond: ‘Esse é tempo de viés, tempo de homens enviesados’. (Nada de ‘homens viesados’, na versão barbárica que rola por aí. O português conhece desde meados do século 16 o verbo enviesar, cujo particípio é ‘enviesado’). Quando devia tudo ao francês ‘biais’ e nada ao inglês ‘bias’, nosso viés era menos atarefado. Até aproximadamente 20 anos atrás, pouco tinha se afastado do sentido de origem: o de indicar uma trajetória oblíqua, indireta, diagonal. (…) Assim era o viés antes de se tornar um termo-fetiche com seu novo sentido de tendenciosidade, parcialidade, especialmente uma parcialidade político-ideológica. Tal acepção foi importada do ‘bias’ anglófono, pronunciado ‘baias’ (acho recomendável evitar a adaptação lusofônica ‘bías’, que já tive o desprazer de encontrar por aí). É claro que o termo inglês saiu da mesma matriz francesa de onde tiramos ‘viés’. No entanto, foi na língua de Donald Trump que a palavra acabou por desenvolver o sentido que hoje, importado como estrangeirismo semântico, está na moda.” (Sergio Rodrigues, na Folha de S. Paulo, em 4 de julho de 2019) “No dia 12 de maio, os principais especialistas do governo dos EUA alertaram que o Covid-19 não estava sob controle e que a diminuição prematura do distanciamento social poderia ter consequências desastrosas. Tanto quanto posso dizer, a visão deles é compartilhada por quase todos os epidemiologistas. Mas eles estavam gritando ao vento. Claramente, o governo Trump e seus aliados já decidiram que vamos reabrir a economia, não importando o que dizem os especialistas. E se os especialistas estiverem certos e isso levar a um novo aumento nas mortes, a resposta não será reconsiderar a política, será negar os fatos. De fato, as […]

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“A ação da PF de hoje foi deflagrada a pedido da PGR – e autorizada pelo STJ. Se Aras estivesse preocupado em evitar especulações sobre seu viés bolsonarista, não manteria alegre relação com o presidente. Lembrando. Bolsonaro é ora investigado – e Aras, o seu investigador.” (@andreazzaeditor, no Twitter, em 26 de maio) “O @FT (Financial Times) e o @TheEconomist, duas das maiores, mais renomadas e mais antigas publicações que falam sobre economia no Reino Unido já publicaram sobre o perigo das ações do governo brasileiro. Nenhum dos dois tem viés de esquerda. A questão não é ideológica. (@ramosfeel, no Twitter, em 25 de maio) Definição:  Inclinação de temperamento ou de perspectiva em relação a determinado assunto que afeta a maneira como alguém assimila novas informações, julga, emite opiniões e age, muitas vezes sem perceber que não está sendo isento ou sequer racional. Quem usou:  “Somos enviesados, não escapa ninguém. Ou assim nos leva a crer esse animado início de século em que a velha palavra ‘viés’, importada há meio milênio do francês, ganha sentido novo – este vindo do inglês – e posição central para nosso entendimento do mundo. O viés pode ser ideológico, de confirmação, partidário, político – em qualquer uma dessas manifestações, acredita-se que faça de todos nós criaturas parciais, tendenciosas, predispostas a assumir certas posições à revelia dos fatos. Vale parafrasear Drummond: ‘Esse é tempo de viés, tempo de homens enviesados’. (Nada de ‘homens viesados’, na versão barbárica que rola por aí. O português conhece desde meados do século 16 o verbo enviesar, cujo particípio é ‘enviesado’). Quando devia tudo ao francês ‘biais’ e nada ao inglês ‘bias’, nosso viés era menos atarefado. Até aproximadamente 20 anos atrás, pouco tinha se afastado do sentido de origem: o de indicar uma trajetória oblíqua, indireta, diagonal. (…) Assim era o viés antes de se tornar um termo-fetiche com seu novo sentido de tendenciosidade, parcialidade, especialmente uma parcialidade político-ideológica. Tal acepção foi importada do ‘bias’ anglófono, pronunciado ‘baias’ (acho recomendável evitar a adaptação lusofônica ‘bías’, que já tive o desprazer de encontrar por aí). É claro que o termo inglês saiu da mesma matriz francesa de onde tiramos ‘viés’. No entanto, foi na língua de Donald Trump que a palavra acabou por desenvolver o sentido que hoje, importado como estrangeirismo semântico, está na moda.” (Sergio Rodrigues, na Folha de S. Paulo, em 4 de julho de 2019) “No dia 12 de maio, os principais especialistas do governo dos EUA alertaram que o Covid-19 não estava sob controle e que a diminuição prematura do distanciamento social poderia ter consequências desastrosas. Tanto quanto posso dizer, a visão deles é compartilhada por quase todos os epidemiologistas. Mas eles estavam gritando ao vento. Claramente, o governo Trump e seus aliados já decidiram que vamos reabrir a economia, não importando o que dizem os especialistas. E se os especialistas estiverem certos e isso levar a um novo aumento nas mortes, a resposta não será reconsiderar a política, será negar os fatos. De fato, as […]

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