Complexo de Werther
Outro dia, num boteco com dois amigos, mencionei, de passagem, a facilidade com que me apaixono por pessoas que não conheço nem conhecerei.
Para alguém que trabalha num supermercado (e, portanto, vê centenas de pessoas diariamente) essa tendência transforma o ato de se apaixonar num fato cotidiano. O que não significa, de forma alguma, que a paixão se torne banal, pois a combinação de fatores que a provoca jamais se repete. É sempre um sentimento novo, cheio de tons inexplorados, que busco nutrir com minha imaginação para que dure mais.
Acontece num instante, geralmente quando estou distraído com o trabalho, e percebo pelo canto do olho alguém que está passando por perto. Costumo dar uma olhadela (só pra conferir se a pessoa não precisa de ajuda) e volto à minha tarefa. Só que, às vezes, mesmo um breve olhar captura algo de singular – e visível – daquele ser. Algo que “engatilha” e atiça um ou mais de meus incontáveis anseios domesticados.
[Continua...]