Crônica

Europa Oxalá

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Europa Oxalá Exposição Europa Oxalá (Foto: Samantha Buglione)
cultura Ioruba, e é também, em português, o equivalente a “se deus quiser”. 

“Europa Oxalá”, “Europa Orixá fundador”, “Europa se deus quiser”, interessante título para uma exposição instalada no centro de Lisboa, na chiquérrima Fundação Calouste Gulbenkian, onde todos os funcionários falam fluentemente inglês e outra língua estrangeira, inclusive a equipe de limpeza. Chiquérrima porque muito me ocupou o imaginário no meu tempo de estudante de Direito, quando eu pegava os livros editados por ela na biblioteca da PUCRS. Poder andar pelos corredores do campus da Calouste Gulbenkian, tomar um café, consultar livros de arte e fazer a carteirinha da biblioteca é como ocupar um novo lugar na ordem do cosmos. Os prédios mostram o jogo sutil entre o concreto, as paredes de vidro e madeira nobre, muito nobre, e o piso impecavelmente lustrado e as linhas retas e equilibradas compõem a harmonia que só é possível nas grandes contradições.

O nome da exposição é visto logo na entrada principal, gravado em um azul celeste e cravado no gramado verde com florzinhas amarelas, apesar do escaldante e árido verão português. Segundo os idealizadores é um projeto ambicioso e é também a “expressão de uma Europa heterogênea e cosmopolita”. Os 21 artistas que dão forma ao projeto provêm da Bélgica, França e Portugal, países que compartilham do passado colonial e outros arranjos. Os artistas, todos europeus de segunda ou terceira geração, mantêm algum vínculo com o continente africano e transformaram em arte suas questões sobre identidade, saberes, religião e justiça.

É uma exposição sobre pessoas e seus trânsitos. Sobre os personagens possíveis, as cenas e os enredos escritos, reescritos e novos manuscritos ainda a publicar. Talvez a arte seja nômade e nela habitem os trânsitos, os caminhos e os descaminhos. E as histórias e estórias nasçam das escolhas feitas nas encruzilhadas. E isso nos leva a Exu, um outro Orixá. E uma escolha talvez mude a ordem do cosmo. 

Exu é o Orixá da ordem, da disciplina e da escolha; já Oxalá o primordial, e também significa um “se deus quiser”, uma espécie de amém. Um amém capaz de minimizar a responsabilidade e os pecados e salvaguardar uma consciência tranquila para os homens de boa vontade. “Se deus quiser” também está a nos dizer que é preciso algo ou alguém divino para legitimar e validar um desejo. Um divino muitas vezes encarnado na família, na Europa, no Estado, na moral, numa religião ou no algoritmo. Por muito tempo, para mim, qualquer livro editado pela Calouste era em si bom por natureza e isso me isentava de algum trabalho.  Voltamos à necessidade de secularizar o sagrado, Max Weber segue atual. 

[Continua...]

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