Maestro soberano
Foi há alguns dias. Leonor e eu chegamos exatamente no horário marcado. Luiz Paulo Vasconcellos, barba e camisa branca, nos recebeu no portão de sua casa, com um aceno cordial, mas discreto – lembrou-me um representante do teatro grego: Sófocles, Ésquilo, talvez. Eu estava visivelmente emocionado. Eu lembrei imediatamente de minha irmã Margareth. Eu tinha uns catorze anos de idade – calculo que tenha sido em 1969 -, ela bateu à porta do meu quarto e, com muita cerimônia, anunciou que me levaria para assistir uma peça de teatro, no Clube de Cultura, que ficava na Rua Ramiro Barcelos, perto de onde nós morávamos, no bairro Bom Fim. Ela me disse que seria algo imperdível: A ópera dos três vinténs, de Bertold Brecht.
Quem havia recomendado que ela assistisse a montagem foi uma amiga de Caxias do Sul, terra do cultíssimo professor Gerd Bornheim, que lecionava na UFRGS. Margareth me disse que, se eu gostava mesmo de teatro, essa seria a minha chance de viver algo importante: assistir a uma montagem de uma peça de Brecht. O diretor era um jovem muito talentoso que estava de passagem pela cidade, vindo do Rio de Janeiro: o seu nome era Luiz Paulo Vasconcellos. A direção musical era do Léo Ferlauto, que era conhecido de nossos primos mais velhos, e atuava em atividades artísticas em Porto Alegre.
[Continua...]