Crônica

Ninguém ia morrer

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Ninguém ia morrer O "Barbaros Kiran" (Istambul) no cais, 1995. Ilustração: Edgar Vasques

*Diversas imagens de Edgar Vasques homenageiam Porto Alegre na edição 67 da Parêntese. Você pode ver o ensaio gráfico completo na seção cartum.

Na zona sul da cidade, na avenida Coronel Marcos, na altura do número 1000, à direita de quem vem do Centro, tem uma entrada pra um lugar que eu não visito há quase 50 anos, mas que ocupa uma vaga muito especial na minha memória. Hoje é a sede da ASBAC, Associação dos Servidores do Banco Central, mas durante muito tempo foi um anexo da AABB, do pessoal do Banco do Brasil, cuja sede principal até hoje fica do outro lado da rua. 

Meu pai era funcionário do banco, e durante toda a minha infância e adolescência eu frequentei a AABB, o campinho de futebol-7, a quadra de basquete, o laguinho dos patos que depois virou piscina, o bar da Dona Mirita e suas batatas fritas proustianas, e principalmente a biblioteca infantil onde eu descobri boa parte do mundo. 

De vez em quando, nos fins de semana de verão, a gente atravessava a rua em direção ao anexo. A gente éramos sempre eu, meu pai Gilberto, minha mãe Mercedes e meu irmão Plínio, mais algum eventual primo ou amigo que vinha apertado no banco de trás do fuca (atenção, revisão: é “fuca” mesmo, sem S, que é assim que se dizia por aqui). Porque o anexo era pro lado do rio, que na época ninguém duvidava que fosse rio, e era ali naquele espaço que a gente veraneava, de calção de banho, baldinho de areia, sanduíches ou galinha com farofa, bola de plástico e aquelas boias enormes, feitas de câmara de pneu. 

Naquela época tinha praia em Porto Alegre, e ninguém ia morrer. Faz tempo.

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