Crônica | José Falero

Reencontros

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Reencontros

Ontem foi um dia de reencontros. Pra começar, eu tinha que levar o comprovante de matrícula no prédio que cuida das questões do Cartão Tri, pra poder continuar tendo o benefício de estudante de pagar “só” metade da passagem. Lá, descobri que a secretaria do colégio tinha me dado o documento errado. Aquele era o comprovante da minha matrícula no semestre anterior, não serviu pra bosta nenhuma. E, como sempre acontece quando eu percebo que gastei uma passagem de ônibus em vão, fiquei lamentando profundamente não ter comprado um latão de Kaiser com o dinheiro. Mas, na real, não chegou a ser uma viagem perdida. Isso porque eu pechei o Stanley. Grande Stanley!

Stanley é um mano sangue bom pra carai, que tinha ido morar em Floripa. Perdemo o contato um do outro e fiquemo uma pá de tempo sem se falar. A gente tinha sido colega de trampo. E, veio, poucas coisas neste mundo unem tanto duas pessoas como uma revolta em comum, um desprezo em comum ao mesmo emprego, ao mesmo patrão, à mesma rotina infernal. E ao mesmo tipo de vida, também. Sim, porque o Stanley é gente da minha laia. Gente que sabe do que eu tô falando. Como é bom trovar com gente da gente, não é não? É cansativo conversar com pessoas que não sabem do que a gente tá falando, e vê que a ficha delas teima em não cair. Eu posso dizer que a polícia é violenta, por exemplo. Tudo bem: a maioria das pessoas que eu conheço deve concordar. Mas Stanley tava do meu lado quando, certa vez, bem na nossa frente, um policial à paisana sacou a pistola e matou um adolescente desarmado com um tiro certeiro na cabeça, por ter roubado o celular de um bêbado. Um adolescente que por sinal era parecido comigo e com Stanley, que se vestia da mesma forma que a gente, que falava da mesma forma que a gente, que gostava das mesmas coisas que a gente, que passava o mesmo sufoco que a gente. Então, se eu disser que a polícia é violenta, Stanley vai saber do que eu tô falando.

Mas eu pechar o Stanley não ia ser o único reencontro do meu dia. Um amigo meu tinha me convidado pra almoçar. No Bom Fim.

Eu detesto ambientes como o Bom Fim com todas as minhas forças. Não se pode parecer pobre em paz em ambientes assim. Mas o amigo que me convidou pra almoçar lá é gente boa, e queria me apresentar um outro camarada igualmente gente boa. Eu não queria fazer desfeita. Eu não queria ser deselegante. Então, lá fui eu almoçar. No Bom Fim.

[Continua...]

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Stanley é um mano sangue bom pra carai, que tinha ido morar em Floripa. Perdemo o contato um do outro e fiquemo uma pá de tempo sem se falar. A gente tinha sido colega de trampo. E, veio, poucas coisas neste mundo unem tanto duas pessoas como uma revolta em comum, um desprezo em comum ao mesmo emprego, ao mesmo patrão, à mesma rotina infernal. E ao mesmo tipo de vida, também. Sim, porque o Stanley é gente da minha laia. Gente que sabe do que eu tô falando. Como é bom trovar com gente da gente, não é não? É cansativo conversar com pessoas que não sabem do que a gente tá falando, e vê que a ficha delas teima em não cair. Eu posso dizer que a polícia é violenta, por exemplo. Tudo bem: a maioria das pessoas que eu conheço deve concordar. Mas Stanley tava do meu lado quando, certa vez, bem na nossa frente, um policial à paisana sacou a pistola e matou um adolescente desarmado com um tiro certeiro na cabeça, por ter roubado o celular de um bêbado. Um adolescente que por sinal era parecido comigo e com Stanley, que se vestia da mesma forma que a gente, que falava da mesma forma que a gente, que gostava das mesmas coisas que a gente, que passava o mesmo sufoco que a gente. Então, se eu disser que a polícia é violenta, Stanley vai saber do que eu tô falando.

Mas eu pechar o Stanley não ia ser o único reencontro do meu dia. Um amigo meu tinha me convidado pra almoçar. No Bom Fim.

Eu detesto ambientes como o Bom Fim com todas as minhas forças. Não se pode parecer pobre em paz em ambientes assim. Mas o amigo que me convidou pra almoçar lá é gente boa, e queria me apresentar um outro camarada igualmente gente boa. Eu não queria fazer desfeita. Eu não queria ser deselegante. Então, lá fui eu almoçar. No Bom Fim.

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