Para rir com o cérebro | Parêntese

Diego Lops: Magrafo

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Diego Lops: Magrafo No meu livro Magrafo – dicionário de palavras inexistentes, listo 201 verbetes com conceitos para os quais ainda não existiam palavras. São sensações, frustrações, prazeres, experiências e hábitos quotidianos que, embora conhecidos de todos, não aparecem (ainda) nos dicionários comuns. Abaixo, listo alguns verbetes do livro e um inédito, exclusivo para a Parêntese. chumostaco [s.m.]Uma das coisas que diferencia o homem dos outros animais é sua capacidade de produzir arte e cultura, como tragédias gregas, sonetos dodecassílabos e sertanejo universitário. Outra dessas características é o exercício da generosidade hipotética. O chumostaco, como é chamado o generoso hipotético, é, por exemplo, aquele sujeito que promete que, se ganhar na Mega-Sena acumulada, vai saldar as dívidas dos amigos e familiares, ajudar instituições de caridade, dar metade do dinheiro para os pobres, construir abrigos para animais de rua, doar alimentos e roupas para desabrigados, ajudar asilos etc. Paradoxalmente, o chumostaco, no seu dia a dia de não milionário, jamais dá qualquer mostra de ter compaixão pelo próximo, nunca ajudou um cego a atravessar a rua, não cede o seu assento no ônibus ou no metrô para uma idosa carregada de sacolas, não devolve o troco que recebeu a mais na padaria (afinal, o outro é que foi trouxa de não conferir), mas quer convencer a todos que só lhe falta mesmo a oportunidade de ter muito dinheiro para exercer seu papel de grande filantropo. Outra característica do chumostaco é que, embora não convença ninguém das suas boas intenções futuras, sempre consegue convencer a si mesmo. E o simples ato de prometer ajudas hipotéticas já o faz se sentir moralmente superior aos outros. magrafo [s.m.]Qualquer coisa que ainda não seja definida por uma palavra. soioto (ô) [s.m.]Trecho de letra de música que se entende errado e que, consequentemente, se canta errado. Alguns exemplos de soiotos: Menino do Rio [Caetano Veloso] Como o povo entende: Coração de eterno verde / Adoro verde Como é: Coração de eterno flerte / Adoro ver-te Noite do prazer [Claudio Zoli] Como o povo entende: Na madrugada rolando um blues / Trocando de biquíni sem parar Como é: Na madrugada rolando um blues / Tocando B.B. King sem parar Lágrimas e chuva [Kid Abelha] Como o povo entende: O mundo é muito injusto / eu tô plantando os meus problemas que eu quero esquecer Como é: O mundo é muito injusto / Eu dou plantão dos meus problemas que eu quero esquecer Como nossos pais [Belchior] Como o povo entende: Mas é você que é malpassado e que não vê Como é: Mas é você que ama o passado e que não vê Hino Nacional Brasileiro [Joaquim Osório Duque Estrada] Como a Vanusa canta: És belo, és forte, és risonho / E límpido / Se em teu formoso / Risonho e límpido… / A imagem do Cruzeiro… Como é: bem diferente disso. Diego Lops é autor de Magrafo – dicionário de palavras inexistentes, Pessoas partidas e Frases Ouvidas por aí (Tomo Editorial, 2019).

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No meu livro Magrafo – dicionário de palavras inexistentes, listo 201 verbetes com conceitos para os quais ainda não existiam palavras. São sensações, frustrações, prazeres, experiências e hábitos quotidianos que, embora conhecidos de todos, não aparecem (ainda) nos dicionários comuns. Abaixo, listo alguns verbetes do livro e um inédito, exclusivo para a Parêntese. chumostaco [s.m.]Uma das coisas que diferencia o homem dos outros animais é sua capacidade de produzir arte e cultura, como tragédias gregas, sonetos dodecassílabos e sertanejo universitário. Outra dessas características é o exercício da generosidade hipotética. O chumostaco, como é chamado o generoso hipotético, é, por exemplo, aquele sujeito que promete que, se ganhar na Mega-Sena acumulada, vai saldar as dívidas dos amigos e familiares, ajudar instituições de caridade, dar metade do dinheiro para os pobres, construir abrigos para animais de rua, doar alimentos e roupas para desabrigados, ajudar asilos etc. Paradoxalmente, o chumostaco, no seu dia a dia de não milionário, jamais dá qualquer mostra de ter compaixão pelo próximo, nunca ajudou um cego a atravessar a rua, não cede o seu assento no ônibus ou no metrô para uma idosa carregada de sacolas, não devolve o troco que recebeu a mais na padaria (afinal, o outro é que foi trouxa de não conferir), mas quer convencer a todos que só lhe falta mesmo a oportunidade de ter muito dinheiro para exercer seu papel de grande filantropo. Outra característica do chumostaco é que, embora não convença ninguém das suas boas intenções futuras, sempre consegue convencer a si mesmo. E o simples ato de prometer ajudas hipotéticas já o faz se sentir moralmente superior aos outros. magrafo [s.m.]Qualquer coisa que ainda não seja definida por uma palavra. soioto (ô) [s.m.]Trecho de letra de música que se entende errado e que, consequentemente, se canta errado. Alguns exemplos de soiotos: Menino do Rio [Caetano Veloso] Como o povo entende: Coração de eterno verde / Adoro verde Como é: Coração de eterno flerte / Adoro ver-te Noite do prazer [Claudio Zoli] Como o povo entende: Na madrugada rolando um blues / Trocando de biquíni sem parar Como é: Na madrugada rolando um blues / Tocando B.B. King sem parar Lágrimas e chuva [Kid Abelha] Como o povo entende: O mundo é muito injusto / eu tô plantando os meus problemas que eu quero esquecer Como é: O mundo é muito injusto / Eu dou plantão dos meus problemas que eu quero esquecer Como nossos pais [Belchior] Como o povo entende: Mas é você que é malpassado e que não vê Como é: Mas é você que ama o passado e que não vê Hino Nacional Brasileiro [Joaquim Osório Duque Estrada] Como a Vanusa canta: És belo, és forte, és risonho / E límpido / Se em teu formoso / Risonho e límpido… / A imagem do Cruzeiro… Como é: bem diferente disso. Diego Lops é autor de Magrafo – dicionário de palavras inexistentes, Pessoas partidas e Frases Ouvidas por aí (Tomo Editorial, 2019).

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