Entrevista | Parêntese

Discursos de ódio e contradiscursos: a arte de Ismael Caneppele

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Discursos de ódio e contradiscursos: a arte de Ismael Caneppele
Por Jandiro Adriano Koch (Jan) Encontrei-me com Ismael Caneppele esporadicamente ao longo de alguns anos. Considerado hors concours no Vale do Taquari, de onde ambos proviemos, imagino que saiba dos ônus que acompanham sua imagem cult. Talvez ser instado a falar, em momentos da história como este, seja um.  Escritor, ator, cineasta, globetrotter, Ismael já recebeu elogios raros. Um deles foi de Caetano Veloso, que em artigo para O Globo anotou as seguintes impressões sobre o romance Os famosos e os duendes da morte, de 2010, tomando em conta sua experiência de jovem na geração 68:  “Muitos traços do que em 1963 chamaríamos de subliteratura estão presentes em seu livro. Mas a força de seu texto está em não ser vulnerável a essas indulgências. A correnteza de metonímias, condensações, sinestesias é digna de um Oswald [de Andrade] e não parecem as relações de procedimentos oswaldianos tão crispadas do [romance] Panteros, de Décio Pignatari. Tudo é sinceramente sentido e organicamente composto. E, mais importante, se impõe por si mesmo tal como se apresenta. Não se percebe uma querela crítica atuando como pano de fundo. As sentenças interrompidas, com o ponto caindo depois de uma preposição que indica o abismo ou de um artigo definido que aponta para a indefinição, são usos inventivos da pontuação, de gosto modernista e eficácia universal. No ápice da crônica trágica, o narrador imagina que a menina gritaria para seu parceiro de pacto suicida, quando vê que ele não morrerá: colono filho da puta. E sabe-se logo tudo sobre os valores na cidade do interior gaúcho fundada por imigrantes. Palavras que não me saem da cabeça: Geheimnis, Ândreo. Talvez eu apenas deseje que um mundo de garotos leia este livro e converse sobre ele pela internet e ao vivo. Vendo o filme de Esmir Filho baseado nesse minirromance, pensei que enfim materializa-se espontaneamente a ideia de uma estética do frio, preconizada por Vitor Ramil.” Ismael jorra. Para quem quiser buscar algum de seus vários livros em sebo físico/virtual ou em alguma livraria: Música para quando as luzes se apagam (Jaboticaba, 2007), Os famosos e os duendes da morte (Iluminuras, 2010) – que viraram filmes –, Só a exaustão traz a verdade (Pergamus, 2014), A vida louca da MPB (Leya, 2015) e O negrinho da Guaíba (Iluminuras, 2016). O bate-papo rolou via e-mail – espaçado no vai-e-volta. Bora? Foto: Tuane Eggers Parêntese: Recentemente pudemos vê-lo nas telas em Domingo, direção de Clara Linhart e Fellipe Barbosa. A proposta flerta com temáticas contemporâneas – machismo, homofobia. Além disso, o filme arrisca no campo político ao apresentar uma família de gaúchos burgueses à época da primeira eleição de Lula. Foi possível sentir algum déjà vu entre vivências reais suas no interior do Rio Grande do Sul e as situações roteirizadas? Ismael Caneppele: Domingo foi uma experiência exclusivamente como ator, sobre roteiro do Lucas Paraizzo, que foi quem de fato viveu essa história em sua adolescência/juventude passada em Pelotas. Eu, quando da posse do Lula, já estava em São Paulo havia […]

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