Revista Parêntese

De dentro pra fora

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De dentro pra fora “A arte não precisa chorar para fazer chorar”.  Quem disse a frase foi Macedônio Fernández, amigo de Jorge Luis Borges, o imenso escritor argentino. Macedônio era amigo de seu pai, mas era Borges que o tinha como um sábio. E era mesmo, como se vê pela frase.  É uma advertência para gente apressada, ou exacerbada, que acha que a arte precisa gritar, pegar o sujeito pela gola e sacudir seu corpo, para poder ter impacto. Nem sempre, e acho mesmo que a arte mais tocante não chora na frente do espectador, do leitor, do ouvinte – ajuda este a chorar de dentro para fora. Essa lembrança vem a propósito da entrevista desta Parêntese. Quem vai falar é Oswaldo de Camargo, um escritor vivo, com seus mais de 80 anos, de que poucos ouviram falar. Nem sabem o que estão perdendo, mas podem saber um pouco na seção de ensaio.  Militante das letras negras, ele é poeta, contista, novelista, ensaísta, memorialista. Nascido no meio rural de São Paulo, pobre, órfão muito cedo, descendente de escravizados, encontrou-se com as letras e as artes requintadas em escolas católicas sofisticadas; foi para a capital em 1954, em momento de festas pelo Quarto Centenário da fundação da cidade, quando a indústria automobilística arrancava para o futuro.  Trabalhou na imprensa e manteve atividade como músico. Mas ele não quis apenas integrar-se, integrar-se sem mais: quis pensar profundamente sobre a condição do negro, quis avaliar a vida real dos descendentes de uma abolição que ficou pelo caminho, e por isso ajudou a dar vida a publicações e agrupamentos dedicados ao tema, escreveu, publicou, animou, criou filhos. São mais de 60 anos de dedicação. Seis filhos: Oswaldo de Camargo Filho, produtor cultural e músico; Maurício Nascimento de Camargo, músico; Marcos Nascimento de Camargo, ou Marcos Munrimbau, músico e arte-educador; Márcia Helena Nascimento de Camargo, enfermeira; Daniel Nascimento de Camargo, consultor do grupo Itaú; e Sérgio Nascimento de Camargo, jornalista. (Sérgio é o atual presidente da fundação Palmares e tem posições extremadas em bem outra direção: quer abolir o feriado de 20 de novembro, dedicado a Zumbi dos Palmares – uma conquista simbólica da geração do pai –, e se define como “um negro de direita, contrário ao vitimismo e ao politicamente correto”, como registrou a Folha de S. Paulo. Perguntada, a família prefere não se pronunciar sobre o tema.) O mais é o correr da vida. Nossa reportagem visita Bagé, que está enfrentando a pandemia de modo profícuo. Vamos também ao passado de Porto Alegre, com um pedaço da história da aviação, por Cristiano Fretta. Jandiro Koch também está por lá, trazendo notícia de um velho e interessante escritor, De Sousa Júnior. Confirmado: Rafael Escobar traz o segundo capítulo do trepidante folhetim Jonas Pasteleiro.  O ensaio de fotos é de Vitória Proença, que se exercita belamente na arte do retrato, uma das áreas de excelência do metiê. Com a parceria da Plantabaja, vamos passear por Recife e Porto Alegre em preto e branco. Já nosso parceiro Lucas Levitan […]

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“A arte não precisa chorar para fazer chorar”.  Quem disse a frase foi Macedônio Fernández, amigo de Jorge Luis Borges, o imenso escritor argentino. Macedônio era amigo de seu pai, mas era Borges que o tinha como um sábio. E era mesmo, como se vê pela frase.  É uma advertência para gente apressada, ou exacerbada, que acha que a arte precisa gritar, pegar o sujeito pela gola e sacudir seu corpo, para poder ter impacto. Nem sempre, e acho mesmo que a arte mais tocante não chora na frente do espectador, do leitor, do ouvinte – ajuda este a chorar de dentro para fora. Essa lembrança vem a propósito da entrevista desta Parêntese. Quem vai falar é Oswaldo de Camargo, um escritor vivo, com seus mais de 80 anos, de que poucos ouviram falar. Nem sabem o que estão perdendo, mas podem saber um pouco na seção de ensaio.  Militante das letras negras, ele é poeta, contista, novelista, ensaísta, memorialista. Nascido no meio rural de São Paulo, pobre, órfão muito cedo, descendente de escravizados, encontrou-se com as letras e as artes requintadas em escolas católicas sofisticadas; foi para a capital em 1954, em momento de festas pelo Quarto Centenário da fundação da cidade, quando a indústria automobilística arrancava para o futuro.  Trabalhou na imprensa e manteve atividade como músico. Mas ele não quis apenas integrar-se, integrar-se sem mais: quis pensar profundamente sobre a condição do negro, quis avaliar a vida real dos descendentes de uma abolição que ficou pelo caminho, e por isso ajudou a dar vida a publicações e agrupamentos dedicados ao tema, escreveu, publicou, animou, criou filhos. São mais de 60 anos de dedicação. Seis filhos: Oswaldo de Camargo Filho, produtor cultural e músico; Maurício Nascimento de Camargo, músico; Marcos Nascimento de Camargo, ou Marcos Munrimbau, músico e arte-educador; Márcia Helena Nascimento de Camargo, enfermeira; Daniel Nascimento de Camargo, consultor do grupo Itaú; e Sérgio Nascimento de Camargo, jornalista. (Sérgio é o atual presidente da fundação Palmares e tem posições extremadas em bem outra direção: quer abolir o feriado de 20 de novembro, dedicado a Zumbi dos Palmares – uma conquista simbólica da geração do pai –, e se define como “um negro de direita, contrário ao vitimismo e ao politicamente correto”, como registrou a Folha de S. Paulo. Perguntada, a família prefere não se pronunciar sobre o tema.) O mais é o correr da vida. Nossa reportagem visita Bagé, que está enfrentando a pandemia de modo profícuo. Vamos também ao passado de Porto Alegre, com um pedaço da história da aviação, por Cristiano Fretta. Jandiro Koch também está por lá, trazendo notícia de um velho e interessante escritor, De Sousa Júnior. Confirmado: Rafael Escobar traz o segundo capítulo do trepidante folhetim Jonas Pasteleiro.  O ensaio de fotos é de Vitória Proença, que se exercita belamente na arte do retrato, uma das áreas de excelência do metiê. Com a parceria da Plantabaja, vamos passear por Recife e Porto Alegre em preto e branco. Já nosso parceiro Lucas Levitan […]

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