Revista Parêntese

Editorial 34: O avô morreu, o pai morreu, o filho morreu

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Editorial 34: O avô morreu, o pai morreu, o filho morreu A frase é machocêntrica e poderia ser reescrita no feminino sem perder o sentido profundo. Eu a conheci desse jeito, nascida da cabeça de um sábio rabino, num tempo e num lugar que o leitor e a leitora podem escolher à vontade.  A cidade ia inaugurar um novo cemitério e pediu ao rabino uma frase para o pórtico. Uma frase esperançosa, uma frase de alívio. Uma frase definitiva, para todo o sempre.  O rabino pensou uns dias e veio com esta: “O avô morreu, o pai morreu, o filho morreu”. O prefeito e as demais autoridades se indignaram: como assim essa enfiada de mortes para aliviar justamente a dor da morte? Respondeu o sábio: que melhor coisa se pode esperar do que as mortes ocorrerem nessa ordem? A morte é inevitável; se ocorrer na ordem certa, é uma tristeza a ser chorada. Mas não é uma tragédia. Saber distinguir uma coisa e outra é uma sabedoria, que o tempo ensina, ou uma mera realidade, que ele impõe. Chorar os mortos e celebrar a vida: a Parêntese 34 faz exatamente isso. Celebrar a vida: com orgulho apresentamos aqui uma extensa entrevista com Sergio Faraco, que completa seus 80 anos no topo de uma digna carreira de escritor. A precisão e a agudeza de suas respostas ajudam a discernir, nesses tempos obscuros, o alcance da dedicação e dos valores humanitários que se observam em sua ficção e em sua obra toda.  Entre os mortos, o recente falecimento de Antônio Bivar, dramaturgo, cronista, memorialista, em textos de Paula Dip, uma velha amiga sua, e Jandiro Koch, um leitor de fé. E a já antiga morte de Elis Regina, no relato de Celso Dias.  À vida.  As fotos da Denise Baptista, com seu colorido, são uma celebração da vida. Pablito Aguiar está mais uma vez dando voz e gesto a gente que luta pela vida. A Grazi Fonseca economiza formas, cores e traços, mas do mesmo lado da batalha.  José Falero cobra sem meias palavras da plateia o que será do futuro dos de baixo, dos que têm e terão fome. Se girarmos o espelho, os causos recolhidos e escritos por Ondina Fachel no pampa profundo, mais de trinta anos atrás, são a voz dos de baixo, no mundo rural. Fantasias que ajudam a levar a vida, a deles e a do Jonas Pasteleiro, personagem de Rafael Escobar cuja trajetória está a um passo de seu desfecho. Eduardo Vicentini de Medeiros nos conta de uma valente e culta mulher que em plena dominação masculina e eclesiástica, na profundeza enfumaçada da Idade Média, se opôs às concepções dominantes sobre mulher e sobre casamento. E Gunter Axt nos leva pela mão na visita aos bares e restaurantes de cem anos atrás, em Porto Alegre, na última parte dessa breve e vibrante história.  Aliás, é também assim e ali que Arthur de Faria – não espalha, mas ele e o Eduardo Vicentini são amigos de adolescência interiorana – faz e está, na megarreportagem que vem elaborando da […]

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A frase é machocêntrica e poderia ser reescrita no feminino sem perder o sentido profundo. Eu a conheci desse jeito, nascida da cabeça de um sábio rabino, num tempo e num lugar que o leitor e a leitora podem escolher à vontade.  A cidade ia inaugurar um novo cemitério e pediu ao rabino uma frase para o pórtico. Uma frase esperançosa, uma frase de alívio. Uma frase definitiva, para todo o sempre.  O rabino pensou uns dias e veio com esta: “O avô morreu, o pai morreu, o filho morreu”. O prefeito e as demais autoridades se indignaram: como assim essa enfiada de mortes para aliviar justamente a dor da morte? Respondeu o sábio: que melhor coisa se pode esperar do que as mortes ocorrerem nessa ordem? A morte é inevitável; se ocorrer na ordem certa, é uma tristeza a ser chorada. Mas não é uma tragédia. Saber distinguir uma coisa e outra é uma sabedoria, que o tempo ensina, ou uma mera realidade, que ele impõe. Chorar os mortos e celebrar a vida: a Parêntese 34 faz exatamente isso. Celebrar a vida: com orgulho apresentamos aqui uma extensa entrevista com Sergio Faraco, que completa seus 80 anos no topo de uma digna carreira de escritor. A precisão e a agudeza de suas respostas ajudam a discernir, nesses tempos obscuros, o alcance da dedicação e dos valores humanitários que se observam em sua ficção e em sua obra toda.  Entre os mortos, o recente falecimento de Antônio Bivar, dramaturgo, cronista, memorialista, em textos de Paula Dip, uma velha amiga sua, e Jandiro Koch, um leitor de fé. E a já antiga morte de Elis Regina, no relato de Celso Dias.  À vida.  As fotos da Denise Baptista, com seu colorido, são uma celebração da vida. Pablito Aguiar está mais uma vez dando voz e gesto a gente que luta pela vida. A Grazi Fonseca economiza formas, cores e traços, mas do mesmo lado da batalha.  José Falero cobra sem meias palavras da plateia o que será do futuro dos de baixo, dos que têm e terão fome. Se girarmos o espelho, os causos recolhidos e escritos por Ondina Fachel no pampa profundo, mais de trinta anos atrás, são a voz dos de baixo, no mundo rural. Fantasias que ajudam a levar a vida, a deles e a do Jonas Pasteleiro, personagem de Rafael Escobar cuja trajetória está a um passo de seu desfecho. Eduardo Vicentini de Medeiros nos conta de uma valente e culta mulher que em plena dominação masculina e eclesiástica, na profundeza enfumaçada da Idade Média, se opôs às concepções dominantes sobre mulher e sobre casamento. E Gunter Axt nos leva pela mão na visita aos bares e restaurantes de cem anos atrás, em Porto Alegre, na última parte dessa breve e vibrante história.  Aliás, é também assim e ali que Arthur de Faria – não espalha, mas ele e o Eduardo Vicentini são amigos de adolescência interiorana – faz e está, na megarreportagem que vem elaborando da […]

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