Revista Parêntese

Editorial: Parêntese 12

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Editorial: Parêntese 12 SEM DRIBLES À TOA   Posso estar sendo um chato opiniático, mas é o seguinte: tudo bem, palmas para o Oscar dado a Parasita, do diretor Bong Jong Hoo. (Assim como palmas para o impressionante Bacurau, de Kleber Mendonça Filho, que nem foi para a competição mas é um filme marcante, de grande relevância, concentrando em duas horas a sensação difusa do horror brasileiro de nossos dias.) Palmas, mas eu não gostei.  Meu ponto (e isso tem a ver com o que trazemos para esta edição da Parêntese, só me dê mais três parágrafos de paciência), que pode ser simplesmente a marca do meu anacronismo narrativo, é que o filme eleva a um grau extremo uma marca posta em circulação, entre outros, por Quentin Tarantino, que me parece uma sacanagem com o espectador. Funciona assim: marca mais pontos junto à comunidade cinéfila aquele que mais der jeito de fazer twists, quer dizer, giros inesperados, de tal forma que o espectador imaginava que a coisa corria para o norte mas, surpresa, ela de fato corre para o sul, opa, para o nordeste, epa, para cima, ulalá, para baixo e à esquerda…  O roteirista fica feliz, sorri inteligente e agradece, enquanto o espectador, que vinha construindo, em sua emoção e em sua inteligência, toda uma trama de personagens e personalidades, emprestando toda a sua boa-fé para que aquilo virasse mais do que uma conversa-mole, este espectador fica de cara no chão.  Começa como drama social, parte para uma coisa anedótica, envereda para a tragédia, embica no terror, volta para a comédia sem deixar de dar uma piscadela para o drama social. Comigo, o que ocorre é me desgostar profundamente, desolado não tanto por mim, mas pelo desperdício calculado das emoções do espectador. Não sei se interessa, mas é exatamente a mesma chatice da música vanguardista para orquestra, em que o compositor arma uma arapuca para o ouvinte esperar um lá e vem uma coisa qualquer que nada tem a ver com o lá. Pfui.   Desculpem o desabafo, prezados acompanhantes deste Parêntese número 12.  Mas de certa forma ele está no miolo do elogio que este Editorial faz aos materiais que oferecemos ao distinto público: histórias que não se comprazem em dar dribles à toa, mas que, bem ao contrário, contam com o olho, o cérebro e o coração dos leitores para compor sentido. A reportagem nos reporta à Porto Alegre de cem anos atrás, visitada, como tantas cidades do mundo, por um vírus devastador. A história registra, e Maurício Brum nos relata, a Gripe Espanhola nas terras do paralelo 30 Sul. Nas fotos, a vocação para o registro do instantâneo em seu sentido inicial, aquilo que flagra o instante que passa, nas fotos de Iami Gerbase.  A entrevista dá a palavra para Ana Rita Uhry, uma guria aqui do sul, arquiteta e praticante de ioga (sim, duas coisas vitais para ela!), que atualmente vive em Serra Leoa, onde comanda a construção de um hospital para a nunca por demais elogiada ONG […]

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SEM DRIBLES À TOA   Posso estar sendo um chato opiniático, mas é o seguinte: tudo bem, palmas para o Oscar dado a Parasita, do diretor Bong Jong Hoo. (Assim como palmas para o impressionante Bacurau, de Kleber Mendonça Filho, que nem foi para a competição mas é um filme marcante, de grande relevância, concentrando em duas horas a sensação difusa do horror brasileiro de nossos dias.) Palmas, mas eu não gostei.  Meu ponto (e isso tem a ver com o que trazemos para esta edição da Parêntese, só me dê mais três parágrafos de paciência), que pode ser simplesmente a marca do meu anacronismo narrativo, é que o filme eleva a um grau extremo uma marca posta em circulação, entre outros, por Quentin Tarantino, que me parece uma sacanagem com o espectador. Funciona assim: marca mais pontos junto à comunidade cinéfila aquele que mais der jeito de fazer twists, quer dizer, giros inesperados, de tal forma que o espectador imaginava que a coisa corria para o norte mas, surpresa, ela de fato corre para o sul, opa, para o nordeste, epa, para cima, ulalá, para baixo e à esquerda…  O roteirista fica feliz, sorri inteligente e agradece, enquanto o espectador, que vinha construindo, em sua emoção e em sua inteligência, toda uma trama de personagens e personalidades, emprestando toda a sua boa-fé para que aquilo virasse mais do que uma conversa-mole, este espectador fica de cara no chão.  Começa como drama social, parte para uma coisa anedótica, envereda para a tragédia, embica no terror, volta para a comédia sem deixar de dar uma piscadela para o drama social. Comigo, o que ocorre é me desgostar profundamente, desolado não tanto por mim, mas pelo desperdício calculado das emoções do espectador. Não sei se interessa, mas é exatamente a mesma chatice da música vanguardista para orquestra, em que o compositor arma uma arapuca para o ouvinte esperar um lá e vem uma coisa qualquer que nada tem a ver com o lá. Pfui.   Desculpem o desabafo, prezados acompanhantes deste Parêntese número 12.  Mas de certa forma ele está no miolo do elogio que este Editorial faz aos materiais que oferecemos ao distinto público: histórias que não se comprazem em dar dribles à toa, mas que, bem ao contrário, contam com o olho, o cérebro e o coração dos leitores para compor sentido. A reportagem nos reporta à Porto Alegre de cem anos atrás, visitada, como tantas cidades do mundo, por um vírus devastador. A história registra, e Maurício Brum nos relata, a Gripe Espanhola nas terras do paralelo 30 Sul. Nas fotos, a vocação para o registro do instantâneo em seu sentido inicial, aquilo que flagra o instante que passa, nas fotos de Iami Gerbase.  A entrevista dá a palavra para Ana Rita Uhry, uma guria aqui do sul, arquiteta e praticante de ioga (sim, duas coisas vitais para ela!), que atualmente vive em Serra Leoa, onde comanda a construção de um hospital para a nunca por demais elogiada ONG […]

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