Revista Parêntese

Editorial: Parêntese 14

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Editorial: Parêntese 14 Esta edição tem pelo menos duas viagens para o interior profundo, para o mundo dos gaúchos, para aquilo que, no bom e no ruim, define muito da identidade coletiva no Rio Grande do Sul. O ensaio de fotos de Mariano Baptista é um caso – duvido o leitor não soltar um íntimo “oh!” ao ver a beleza da luz e dos elementos capturados pelo Mariano, jornalista que por muitos anos se dedicou ao esporte –, e o outro é a entrevista com Ondina Fachel Leal, antropóloga autora de um excelente estudo sobre o mundo masculino dos gaúchos.  Vi o senhor ali franzir o cenho? A senhora soltar forte o ar pelo nariz? Alguém gritou “provincianismo”? Não é o caso. Vamos dar a mão a um cosmopolita, o poeta português Fernando Pessoa.  Em 1928 ele publicou um ensaio muito interessante sobre o tema do provincianismo – definição dele para o caso: “pertencer a uma civilização sem tomar parte do desenvolvimento superior dela”, “segui-la mimeticamente, com uma subordinação inconsciente e feliz”. Já presenciou o fenômeno?  Tão vacinado contra isso era o Pessoa que ele se deu ao luxo de… adivinha? Claro: mergulhar sem pudor na graxeira da vida portuguesa, no mito de Dom Sebastião, na beleza do rio que corre numa aldeia irrelevante, na vida rasa do Esteves sem metafísica. Ser cosmopolita não é evitar o que está próximo, mas saber olhar para ele sem ser capturado pelo vórtice melancólico e cegante do localismo. Segundo o poeta, três são os sintomas do provincianismo. Um, “o entusiasmo e admiração pelos grandes meios e pelas grandes cidades”; dois, “o entusiasmo e admiração pelo progresso e pela modernidade”; três, “na esfera mental superior, a incapacidade de ironia”.  Isso, e não outra coisa, é ser provinciano, para Fernando Pessoa. Não é provincianismo olhar para o que está perto, mas sim o não saber olhar para perto e aquilatar a eventual beleza ali existente, ao lado dos fatais problemas. Sobretudo é provinciano não dispor de ironia, esse olhar de lado, de través, de revesgueio, que Parêntese procura trazer em doses grandes.   Quer ver onde mais? Jandiro Koch faz uma linda análise de Madonna, a sessentona que continua lidando ironicamente com o mundo do showbiz. Fábio Pinto inaugura sua contribuição para a Parêntese com um perfil e uma lembrança de Zé do Caixão, recém-falecido, uma figura atravessada na garganta da inteligência brasileira. Letícia Batista relata a vida de uma brasileira, acostumada ao machismo por aqui, ao conhecer o cotidiano de um país europeu que já resolveu umas quantas violências. José Falero repassa suas experiências escolares, profundas como costumam ser para todos, mas particularmente complexas. Arthur de Faria agora começa a fazer a transição entre o século 18 e o 19, na biografia musical de Porto Alegre. E o Retrato Escrito desta semana visita Caxias do Sul, pela mão da jornalista, professora e escritora Alessandra Rech. Na Enciclopédia Urgente desta edição, uma urgência urgentíssima: o esclarecimento sobre o termo “design inteligente”, que anda passando por ser ciência, mas […]

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Esta edição tem pelo menos duas viagens para o interior profundo, para o mundo dos gaúchos, para aquilo que, no bom e no ruim, define muito da identidade coletiva no Rio Grande do Sul. O ensaio de fotos de Mariano Baptista é um caso – duvido o leitor não soltar um íntimo “oh!” ao ver a beleza da luz e dos elementos capturados pelo Mariano, jornalista que por muitos anos se dedicou ao esporte –, e o outro é a entrevista com Ondina Fachel Leal, antropóloga autora de um excelente estudo sobre o mundo masculino dos gaúchos.  Vi o senhor ali franzir o cenho? A senhora soltar forte o ar pelo nariz? Alguém gritou “provincianismo”? Não é o caso. Vamos dar a mão a um cosmopolita, o poeta português Fernando Pessoa.  Em 1928 ele publicou um ensaio muito interessante sobre o tema do provincianismo – definição dele para o caso: “pertencer a uma civilização sem tomar parte do desenvolvimento superior dela”, “segui-la mimeticamente, com uma subordinação inconsciente e feliz”. Já presenciou o fenômeno?  Tão vacinado contra isso era o Pessoa que ele se deu ao luxo de… adivinha? Claro: mergulhar sem pudor na graxeira da vida portuguesa, no mito de Dom Sebastião, na beleza do rio que corre numa aldeia irrelevante, na vida rasa do Esteves sem metafísica. Ser cosmopolita não é evitar o que está próximo, mas saber olhar para ele sem ser capturado pelo vórtice melancólico e cegante do localismo. Segundo o poeta, três são os sintomas do provincianismo. Um, “o entusiasmo e admiração pelos grandes meios e pelas grandes cidades”; dois, “o entusiasmo e admiração pelo progresso e pela modernidade”; três, “na esfera mental superior, a incapacidade de ironia”.  Isso, e não outra coisa, é ser provinciano, para Fernando Pessoa. Não é provincianismo olhar para o que está perto, mas sim o não saber olhar para perto e aquilatar a eventual beleza ali existente, ao lado dos fatais problemas. Sobretudo é provinciano não dispor de ironia, esse olhar de lado, de través, de revesgueio, que Parêntese procura trazer em doses grandes.   Quer ver onde mais? Jandiro Koch faz uma linda análise de Madonna, a sessentona que continua lidando ironicamente com o mundo do showbiz. Fábio Pinto inaugura sua contribuição para a Parêntese com um perfil e uma lembrança de Zé do Caixão, recém-falecido, uma figura atravessada na garganta da inteligência brasileira. Letícia Batista relata a vida de uma brasileira, acostumada ao machismo por aqui, ao conhecer o cotidiano de um país europeu que já resolveu umas quantas violências. José Falero repassa suas experiências escolares, profundas como costumam ser para todos, mas particularmente complexas. Arthur de Faria agora começa a fazer a transição entre o século 18 e o 19, na biografia musical de Porto Alegre. E o Retrato Escrito desta semana visita Caxias do Sul, pela mão da jornalista, professora e escritora Alessandra Rech. Na Enciclopédia Urgente desta edição, uma urgência urgentíssima: o esclarecimento sobre o termo “design inteligente”, que anda passando por ser ciência, mas […]

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