Editorial | Revista Parêntese

Parêntese TRI – Histórias da História

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Parêntese TRI – Histórias da História

O primeiro apanhado de material desta edição da Parêntese TRI, que celebra o aniversário de 250 anos de Porto Alegre, só tinha textos de homens. Entrei em pânico, crise total. Minha Nossa Senhora, sou uma fraude! Tanta leitura, tanto discurso e tamanho amor dedicados às mulheres todos os dias e, então, nada? Será mesmo isso? Não. Com certeza não. Passei um café e me atentei, sentada no beiral da janela. Quais as vozes que contam o que foram e o que são estes 250 anos? 

De longe ouvi sons que vinham da 13 de Maio, da 28 de Setembro e da Redenção através da cartografia de Daniele Machado Vieira, um mapeamento histórico de territórios negros da nossa capital. No texto de Arnoldo W. Doberstein uma chamada: Porto Alegre seria mesmo uma cidade açoriana? Realidade ou mito? Ouvi o som da memória de Zara Gerhardt, a beleza da paineira que ficava no velho casarão do antigo Colégio Farroupilha.

De mais distante no tempo, os timbres e sotaques de muitos de nossos escritores mortos, Coruja, Júlia Lopes de Almeida, De Souza Júnior, Paulino de Azurenha, Apolinário Porto Alegre e outros que presenciaram os primeiros anos e a adolescência desta que hoje chamo de casa.

As vozes me fizeram rir, porque nem todo dia na vida da Ana Marson é fácil, principalmente se ela vai pegar estrada pra visitar Porto Alegre. Se durante a visita estiver pela região do Quarto Distrito, vale dar uma passada pela rua Paraíba na companhia da Ananda Müller, num dos bares mais pitorescos desta edição. Aproveite este clima e passe pelas fronteiras de Porto Alegre, pelo Morro Santana do Marcelo Silva Martins, na sua voz de poeta em crônica.

Terminei o café e com a atenção redobrada escutei o canto que muitas pessoas levantaram na enquete sobre suas experiências e expectativas a respeito da eterna província de São Pedro. Provocadas pelas questões de nossos editores, Ângelo Chemello Pereira e Álvaro Magalhães, algumas vezes em coro e outras nem tanto, porto-alegrenses de perto e de longe deixaram suas opiniões e declarações de amor.

Ah! Essas vozes! Tão claras, tão inteligentes. Duvida? Então tu precisas ler nosso editor Luís Augusto Fischer, num convite pra pensar a importância de manter a história do soft power viva a fim de alimentar a esperança num amanhã diferente de hoje. Charles Monteiro traz nomes e contextos destes 250 anos, Giba Assis Brasil conversa sobre o cinema daqui em duas iniciativas, Roberto Jardim apita um jogo com cenas pra além do clássico Gre – Nal e Carlos Reverbel se juntou com Justino Martins numa brincadeira jornalística ficcional sonhando o fim de guerras e feminicídios – espero! –, apresentada por Cláudia Laitano. O professor Nicotti brinca com Erico Verissimo.  Se você não encontrar a graça e a leveza que só inteligências privilegiadas alcançariam, te pago um litrão no próximo samba.

Ah! Você que nos lê sabe que sofro de uma doença crônica, e não me aguento. Não posso passar um café, escutar uma boa história que já me ponho à escrita. Aqui conto um pouco do que vivi numa farmácia em que trabalhei na amada esquina democrática, enquanto duas outras vozes soaram cheias de emoções da infância. As cores e sonhos de Tiago Maria no seu Sarandirú, e Juremir Machado da Silva contando dos afetos de um homem de 60 anos. Enquanto um brinca de bola o outro se apaixona por uma Porto Alegre que é como uma cama macia.

Enquanto aquela pergunta ecoava pela sala, deixando um gosto amargo na boca –  ‘‘Como foi possível no começo só ter textos de homens?’’ –, me permiti encher os olhos com as cores e a sensibilidade da Mariana Weber Rodrigues. Quando nos distraímos com o movimento do cotidiano o patriarca que nos habita naturaliza e nos embaraça num mundo de homens para homens. Não é mais possível viver assim; construir e criar deste modo nunca foi justo. Preciso mudar. Hoje, nós da revista Parêntese reforçamos o compromisso de não sucumbir a este modus operandi onde só exista espaço pra voz masculina. Nossas próximas edições serão cada vez mais atentas, plurais e questionadoras, tendo em mente as palavras da querida bell hooks: ‘‘Fazer a transição do silêncio à fala é para o oprimido, e para aqueles que se levantam e lutam, um gesto de desafio que cura, que possibilita uma vida nova […]. Esse ato de fala é uma expressão de nossa transição de objeto para sujeito – a voz liberta.’’

Porto Alegre, maio de 2022

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