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TRI – Porto Alegre: a lista do que dá gosto na cidade

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TRI – Porto Alegre: a lista do que dá gosto na cidade Foto: Vitor Ortiz

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A Parêntese realizou uma enquete e fez três perguntas a colaboradores e leitores. Uma delas foi: “O que te dá gosto em Porto Alegre?” A lista teve escolhas que passaram por lugares, memórias, períodos, percursos, entre outros tipos de gostos que a cidade desperta. A seguir publicamos a lista das opiniões registradas pelos 65 participantes.

Um lugar

  • Por Adolfo Gerchmann: Nasci em Porto Alegre há 68 anos. Adoro o Mercado Público, frequento desde muito pequeno. Meu pai eu íamos para a fila da compra da manteiga (racionada no início do anos 60). Um pouco mais velho acompanhava a minha Vó (que tinha um bar/armazém). Abastecia lá o seu comércio. Me formei em Jornalismo e escolhi a fotografia. Minhas andanças começaram na Caldas Júnior, andei pela Manchete e depois outras publicações nacionais. Sempre achava tempo de passar no Mercado Público. Fui proprietário do restaurante Orquestra de Panelas e me abastecia de peixe fresco no Mercado. Continuo sendo um assíduo frequentador e, recebendo amigos de fora, os levo até lá. Nas minhas viagens profissionais ou a Turismo vou aos Mercados Públicos. Entendo que nestes lugares se conhece um pouco da população local.
  • Por Cátia Fabiana Souza da Silva: Gosto das praças da cidade, de um certo ar de cidade pequena. De sentar e ver as pessoas, chimarreando. 
  • Por Carmen Peña Sommer: Ter a cidade banhada pelo Guaíba! E por conta disso, ter o Outono a estação em que a cidade tem a luz mais linda. 
  • Por Laura Palma: Pôr do sol. Me dá uma paz além de ser um dos momentos mais lindo do mundo.
  • Por Eva Mothci: A Redenção tem pra mim a cara que Porto Alegre deveria ter: aberta, acolhedora,  democrática, florida, arborizada… Lugar maravilhoso pra passar horas lendo, caminhando, observando as pessoas, animais e plantas, o céu azul. É o meu lugar preferido, minha mãe me levava pra lá,  levei meus filhos, continuo frequentando o parque e até mesmo me mudei para mais perto dele. Tem o brique, tem os bares, os floristas, as feiras… Viva a Redenção, o ❤ de Porto Alegre!
  • Por Adeli Sell: O Mercado Público, que  além do aspecto do Patrimônio Histórico e Cultural, é o espaço de relacionamento mais democrático da capital.
  • Por Alice Klotz: Me dá gosto os ladrilhos da Andradas, com suas mesas de bar nas calçadas e pessoas felizes com suas cervejas. Seguindo a rua a gente chega no prédio mais lindo de Porto Alegre. Além da bela construção, Porto Alegre nos presenteia com uma Travessa, perfeita para mais mesas, conversas e felicidades. É como se o Hotel Majestic, com suas passarelas e portas, abraçasse e acolhesse quem chega na cidade.
  • Por Eduardo Piccinini Schmitt: Parque da Redenção
  • Por GL (que se autodeclara Gladis Gliese): O Mercado Público. Esse lugar une cheiros, sabores, lembranças, arquitetura, pedras gastas de tanto as pessoas andarem. Quando criança, ia olhar os pintos e patinhos à venda nas gaiolas. Uma vez, vi José Lewgoy tomando sorvete na banca 40, na mesa ao lado da minha. As mesinhas com tampo de mármore e o copo de água gelada. 
  • Por Marco A. Nedeff: Porto Alegre está tão abandonada e sua população tão esquecida ou ignorada pelas últimas administrações que o que mais gosto é um lugar físico mesmo. É onde gosto de recarregar energias e de meditar. O Parque da Redenção pra mim é o meu lugar na cidade. É lá que me sinto bem. Costumo dizer a amigos que é o meu quintal.
  • Por Álvaro Magalhães: Parque da Redenção e arredores. Chamo a região de “Grande Redenção”.
  • Por Paulo Coimbra Guedes: Eu gosto do rio, da água do rio, da ideia geral de que cidade tem rio, e nem é porque muito nadei, mergulhei e até remei no rio. É porque tem que ter rio, não faz sentido uma cidade não ter um rio. Pra que lado fica o rio? Se não tem, como é que a gente faz, pra onde vai se precisa ir pro rio. Só me chateia não ter ficado sabendo, desde sempre, que o rio é um lago. Claro que é um lago, não faz sentido uma cidade sem um lago.
  • Por Eloar Guazzelli Filho: Me criei às margens do Guaíba, paisagem de todas as horas, templo de diferentes tribos da cidade. Pra mim eternamente rio. Até porque lago Guaíba soa muito pior. Adoro a sua ambiguidade geográfica que inclui a pouco usual denominação de estuário.
  • Por Lizete Dias de Oliveira: O que mais gosto de Porto Alegre é que minha casa é aqui.
  • Por Diego Lops: O aeroporto Salgado Filho. Já trabalhei por anos 2 no aeroporto, atendendo gente que chega à cidade pela primeira vez. Em outros empregos, também fui recepcionar e levar gente para o aeroporto, esse lugar de eterna fronteira. O que mais gosto do aeroporto é que é uma porta de saída, aquela opção para quando precisamos mudar para ares menos sufocantes; o que já fiz diversas vezes. Mas, por razões que desconheço, o que até me irrita, sempre acabo voltando pra minha casa Porto Alegre, essa cidade inexplicável.
  • Por Maria Avelina Fuhro Gastal: Nos anos 70, morava em frente ao Hotel Majestic. Avistava da sacada o quarto de Quintana e testemunhava a deterioração do prédio. Em plena adolescência, passava horas naquela sacada com uma amiga e planejávamos a restauração do prédio. Bom saber que nossos sonhos juvenis não eram devaneios.
  • Por Leandro Selister: O Viaduto da Borges é o lugar mais incrível de Porto Alegre. Nestes 39 anos que moro na capital, já perdi a conta de quantas fotos, desenhos e até bordados já fiz desse lugar. Uma das fotografias, eu considero não apenas a melhor foto do viaduto, como uma das melhores que já fiz até hoje. Foi em 2017, quando saía de uma sessão na Cinemateca Capitólio. Era domingo, final de tarde e caía uma chuva bem fininha. Caminhei pelo meio da Borges em direção à Avenida Salgado Filho. As luzes do Viaduto já estavam acessas e a rua praticamente vazia. A cena estava pronta, esperando apenas o registro. Tudo estava no lugar certo, incluindo a minha presença. Essa imagem já ganhou prêmios e já perdi a conta das milhares de vezes que foi compartilhada pelas redes sociais. De vez em quando, ela retorna, assim como eu sempre retorno ao centro da cidade e ao viaduto para encontrar um novo ângulo. Acho que nunca vou parar de me surpreender com ele. A imagem vai em anexo (ver a seção de fotos abaixo). Depois de tantas imagens, o título que dei para a foto foi “O sempre lindo Viaduto da Borges”. 

Abaixo as imagens que acompanharam as respostas de Laura Palma, Alice Klotz, Eloar Guazzelli Filho, Diego Lops:

Foto: Laura Palma

Foto: Alice Klotz

Ilustração: Eloar Guazzelli Filho

Foto: Diego Lops

Foto: Leandro Selister

Um percurso

  • Por Laura Peixoto: Caminhar pelo centro histórico, me misturar e me perder entre as pessoas no Mercado Público, na Praça da Alfândega,  tomar um chope no Tuim, vasculhar os sebos, subir e descer toda a Casa Mário Quintana…
  • Por Leonardo Antunes: As calçadas amplas e arborizadas da cidade, e o fato de que por elas posso andar e fazer quase tudo que preciso fazer (exceto ir ao Campus do Vale) sem precisar de carro ou ônibus.
  • Por Francisco Marshall: Gosto de ir ao Mercado Público e ao Centro Histórico, onde se encontram a minha memória afetiva, meus gostos e interesses e a vida e história da cidade. Quando estou no exterior, isto é o que me provoca maiores saudades.
  • Por Augusto Darde: Gosto de caminhar pela rua Coronel Fernando Machado, especialmente da General Auto até a praça General Osório. Na minha lembrança, é sempre um dia de outono com sol, a umidade perfeita, a sombra das árvores se confunde com a sombra do morro e a sombra dos prédios pequenos – como a umidade perfeita, eles têm a altura perfeita, ainda remetendo a lar e aconchego, não a caos urbano, não competindo com as fachadas antigas. Cruzo pela Bento Martins até a parte baixa da Duque, tomo um café portenho naquela padaria de fachada antiga, volto caminhando pra Fernando Machado, olho pro sul e imagino um Guaíba sem aterro – apesar de ser Colorado -, a água batendo já ali na altura da Whashington Luiz. É uma Porto Alegre boa essa da casquinha velha da península, cheia de rugas e de histórias pra contar.
  • Olinda Marlei Lopes Teixeira – Lelei Teixeira: É a “cidade dos meus andares”. Rua da Praia, Esquina Democrática, passando pela Praça da Alfândega – Prédios do Santander, Memorial do RS, Margs, a Feira do Livro – seguindo até a Usina do Gasômetro. O Mercado Público, passagem obrigatória quando descia do ônibus no centro, antes da pandemia. Caminhos que sempre frequentei e sempre me encantaram desde que vim morar em Porto Alegre em 1971. As escadarias da avenida Borges de Medeiros, que mesmo abandonadas são lindas. É a cidade que escolhi para morar. A cidade das ruas e esquinas esquisitas do poema “O Mapa” de Mario Quintana, que muitas vezes encontrei pelo caminho, quando ia para o trabalho no Correio do Povo ou na Rádio Pampa. E o pôr do sol é maravilhoso!
  • Por Jandiro Adriano Koch: O percurso entre os acervos que dizem das memórias. Arquivos, espaços de exposições, museus, pinacotecas e sebos em caminhos que pode ser reordenados. Serotonina certa. 
  • Por Demetrio Luis Guadagnin: Caminhar pelas ruas na Cidade Baixa, ao redor de casa. Porque permite viver o que chamo de cidade de verdade. 
  • Por Miguel Angelo Mattielo: Me dá gosto percorrer a orla do Guaíba desde o Veleiros do Sul até o Gasômetro, de bike, parando na Fundação Iberê pra tomar uma água de côco, seguir pela Orla revitalizada, parando pra ver um pouquinho de uma partida de futebol nas novíssimas quadras de futebol (que antes eram disputadas no areião) e seguindo até a Usina, sempre desfrutando de uma vista inigualável do nosso Rio Guaíba, prefiro rio, mais charmoso, e por dar a idéia de que as águas fluem rumo à Lagoa dos Patos e não ficam estanques como num lago.

Uma memória

  • Por Daniela Giovana Corso: A 3a Bienal do Mercosul e sua Cidade dos Contêineres, em 2001. Meu primeiro trabalho como arquiteta. Ocupando com arte um dos espaços mais especiais de Porto Alegre.  
  • Por Roberto Jardim: Infelizmente, Porto Alegre parou no tempo, política, social, econômica e culturalmente. O que me faz lembrar com gosto de Porto Alegre é um passado recente, que traz boas memórias, como um show inesquecível do Chico Science no pátio do Gasômetro. Ou a Feira do Livro quando os balaios valiam realmente a pena.
  • Por Fausto Leiria Loureiro: Assistir ao poente é sempre uma oportunidade valiosa. Lembro de fazê-lo junto com meu Pai, quando eu era criança, das janelas do nosso apartamento, na então escanteada Praia de Belas.
  • Por Marta Orofino: Dia frio com sol, caminhar de casa até a Redenção em sábado pela manhã. Dia de feira e conversas sem pressa.
  • Por Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo: O que mais me dá gosto em Porto Alegre não é uma, mas muitas memórias, de momentos vividos no Bomfim, na Cidade Baixa, no Centro, momentos de grande efervescência política ou de confraternizações juvenis pelas ruas e bares destes bairros.

Abaixo as imagens que acompanharam as respostas de Daniela Giovana Corso e Marta Orofino:

Foto: Daniela Giovana Corso 

Foto: Marta Orofino

Período

  • Por Tânia Viana Pereira: Nasci e cresci em Poa. Aos 28 saí da cidade, mas guardo lembranças da adolescência passadas numa Porto Alegre que, nos anos 80, recebia shows maravilhosos, tinha bares muito bons, como o Bar do IAB, e tinha um movimento que nascia na José Bonifácio que fez aquela rua virar ponto de encontro – era o Brique da Redenção. Além disso, vivi anos muito legais no curso de Letras da UFRGS, onde tive professores e colegas que marcaram profundamente a minha formação. Era o período das Diretas Já, uma cidade que respirava, que procurava melhorar, que olhava pro futuro com otimismo.
  • Por Fatima Regina Torri: A beleza das estações,  se pode ver o céu nos dias límpidos.  O parque da redenção que lembra de tanta coisa vivida em cada recanto, durante anos. 
  • Por Stela Maris Kuze Rates: A década de 1980. Em 1980, aportei na cidade, vinda do interior, para estudar na UFRGS.  E aqui fiquei. Foi a década da descoberta de um novo mundo, o período em que me tornei adulta, revolucionei meu pensamento, me formei, entrei na pós-graduação, também na UFRGS (aliás, se pudesse ter destacado duas alternativas, teria destacado também a UFRGS como lugar) e me tornei mãe.
  • Por Naia Geila Innocente de Olveira: O período recai na efervescência da busca pela redemocratização, eram as mobilizações das entidades profissionais, o movimento cultural, os comícios (como exemplo o das Diretas Já). Mais tarde o surgimento do PT e toda a militância envolvida com seu ideário de igualdade e justiça nas bandeiras vermelhas nas ruas.
  • Por Luciano Carlos Berta Horn: A luminosidade solar que a cidade ganha nas manhãs outonais.

Um evento

  • Por Zilá Bernd: Feira do livro. Lugar de encontro com os livros, os autores, as palestras, lançamentos e tudo à sombra dos jacarandás em flor no início do mês de novembro. 
  • Por Christian Nectoux David: A Feira do Livro de Porto Alegre marcou minha infância e sempre foi o evento do ano pra mim. Faz partes das minhas lembranças de criança (ia com os meus pais comprar o novo álbum do Tintim) e da minha carreira de escritor.
  • Por Elizabeth Chitto: Feira dos orgânicos no Bom Fim . Local de encontro de pessoas do bem. 
  • Por Elenilton Neukamp: Me dava gosto andar por uma cidade que respirava cultura. Penso que o Fórum Social Mundial, no início dos anos 2000, foi um momento especial, talvez o ápice de todo um período onde a cidade era referência em várias áreas. De lá para cá, me parece que houve uma decadência geral. Algo se perdeu. Muito se perdeu. Entramos em um outro ciclo? 

Um momento

  • Por Maria Jose C Moreira Cassapo: Passear na Orla e assistir da janela da minha área ao pôr do sol

Abaixo a imagem que acompanhou a resposta de Maria Jose C Moreira Cassapo:

Foto: Maria Jose C Moreira Cassapo

Uma imagem

  • Por Altino Carlos Mayrink Ferreira: A chegada e partida do trem na estação mercado, que evoca a luta da população pelo seu trabalho, seu lazer, suas vidas.
  • Por Jackson Raymundo: Amo a vista do Guaíba sob qualquer ângulo. O horizonte amplo dá uma sensação de infinidade de possibilidades a serem percorridas. 
  • Por Ondina Fachel Leal: A imagem do entardecer sobre o Guaíba é pura poesia, é beleza que consola até de pesares ainda não vividos.

Abaixo as imagens que acompanharam as respostas de Jackson Raymundo e de Ondina Fachel Leal:

Foto: Jackson Raymundo
Foto: Ondina Fachel Leal

Um costume

  • Por Mauro Mendes Urban: Pegar um sol na redenção no inverno.
  • Por Anália Bescia Martins de Barros: Passear na Redenção aos domingos com sol e ficar embaixo das árvores. 
  • Por Flávia Dentice: O costume de conversar nas calçadas, de parar pra bater papo com os vizinhos, sejam eles muito ou pouco próximos. Saber os nomes dos cachorros, observar a rua juntos. Como se a gente não morasse numa cidade tão grande e tão cheia de prédios, mesmo gostando que ela seja exatamente assim.

Um(a) artista

  • Por Ana Marson: Humberto Gessinger, porque é um dos artistas mais inteligentes que já conheci.
  • Por Marta Borba: Um artista chamado Nei Lisboa
  • Por Celso Gutfreind: A produção artística da cidade, em todos os níveis.
  • Por Luiz Eduardo Robinson Achutti: Artistas (vários). Ter um passado tingido pelas cores das palavras e sons de um Iberê,  Mario Quintana, Giba-Giba, entre outros.
  • Por Rafael: Dentre outras coisas, acho que artistas são criaturas que tentam tirar leite de pedra. Se é assim, a definição deveria servir a todas pessoas criadas, nascidas em PoA e que por algum motivo seguem fazendo arte na cidade. Dizem que dentre todas as capitais, PoA é uma das que mais vê seus moradores saindo para viver em outros lugares. É emigração que chama, né? A gente pensa que a capital do estado deveria ser destino natural pra todos que sonham viver novos planos. Mas desse jeito fica parecendo que PoA, por algum motivo, não deve ser lá tão atrativa para quem sonha. Tem amigos músicos que foram ao RJ e disseram: aqui artista de rua é mais valorizado que aí. Eu sinceramente não duvido. Nesses tempos, qualquer resquício de diversão ou desprendimento popular na cidade é negado, ameaçado, perseguido com ideias, provincianismo ridículo e inclusive bombas. O péssimo transporte não deixa a cidade saber de si mesma. Mas então, o que celebrar? Acho que a cidade não tem culpa por tantas gestões terríveis e entreguistas, que incentivam tantos hábitos grotescos, individualistas, bairristas e tudo mais. Então, o fato de saber que existem artistas residentes e resistentes em PoA me faz sentir que minha escolha por seguir aqui deve fazer algum sentido. Não estamos sozinhos.
  • Por Suzane Cerutti Kummer: Nei Lisboa. Há décadas faz música de altíssima qualidade em Porto Alegre, conseguindo sintetizar os sentimentos de uma geração que agora está com 50-60 anos. Analisa e sintetiza a alma dos porto-alegrenses como ninguém. É o nosso Chico Buarque.
  • Por Cristiano Fretta: Nei Lisboa, de alguma forma, cabe em Porto Alegre. Não é à toa que more no Bom Fim, talvez o mais cosmopolita e consequentemente democrático de nossos bairros, capaz de abrigar na simetria de suas ruas arborizadas desde a tradicional cultura judaica até as mais diversas esferas do progressismo contemporâneo. Há, claro, a melancolia da noite silenciosa e perigosa, cujas luzes da Lancheria do Parque e do Ocidente fazem lembrar os áureos tempos de poucas décadas atrás, da Osvaldo Aranha lotada de jovens de distintas tribos, unidas pela rebeldia, pelo álcool e por algumas coisinhas a mais. Esse era o ambiente de Nei Lisboa: pés no chão de Porto Alegre, cabeças com ideias andarilhas pelo mundo. Berlim, Bom Fim. Instrumentista e letrista genial, Nei Lisboa fez a opção por permanecer em Porto Alegre, sabendo que para viajar no cosmos não é preciso gasolina. Há alguns anos eu o encontrei por acaso em um pequeno mercadinho na Fernandes Vieira. Eu havia entrado ali para comprar qualquer coisa e fui surpreendido com sua presença à minha frente, no caixa, pagando algumas frutas. Nei Lisboa vestia sua típica camiseta preta de manga curta. A situação era tão prosaica que eu não encontrei meio de puxar qualquer tipo de assunto sem parecer minimamente ridículo. Fiquei observando-o em silêncio e lembrando de todas as vezes em que eu havia ouvido o seu Carecas da Jamaica, meu disco preferido. Uma cidade nos dá orgulho – também decepções e vergonhas, claro – não só por seus habitantes, mas também por sua arquitetura, sua história, sua memória, sua política, sua arte. Mas elas são, em primeira e última medida, resultado da ação humana. Ter Nei Lisboa morando, compondo e fazendo shows em Porto Alegre é a certeza de que, apesar de tudo, esta cidade ainda consegue respirar o que há de melhor em termos de arte. É uma honra ser contemporâneo e conterrâneo de Nei Lisboa. É para poucos. 

Abaixo a imagem que acompanhou a resposta de Rafael:

“Por paisagens mais bonitas”. Bairro Arquipélago, registro feito em 2012. (Foto: Rafael)

Uma dimensão

  • Por Pedro Cezar Dutra Fonseca: O tamanho da cidade. É grande suficiente para ter vida cultural expressiva, mas não ao ponto de ser uma megalópole fria e impessoal. Os espaços ao ar livre, como os parques, também são uma marca da cidade. Casa de Cultura Mario Quintana, Teatro São Pedro, Centro Cultural da UFRGS, MARGS, Feira do livro, Fundação Iberê Camargo, Museu de Ciência e Tecnologia da PUC. Lugares ótimos para se visitar várias vezes.
  • Por Carlos Gerbase: Porto Alegre não é pequena, nem grande. Nem provinciana, nem metida a megalópole. Tem o tamanho certo pra viver.

Abaixo a imagem que acompanhou a resposta de Carlos Gerbase:

Foto: Carlos Gerbase

Uma pessoa

  • Por Claudia Tajes: É a cidade onde (ainda) mora o meu filho, vou voltar para ela sempre.

O bairro Assunção

  • Por Vera Bueno Fischer: Configuração das ruas, arborização do bairro, relação com o rio, distribuição das casas.

Uma instituição

  • Por Leandro Porto Lusa: A Redenção, pois integra a todos e de forma gratuita.
  • Por Alexandre Panta Teitelbaum: A FAE (Feira dos Agricultores Ecologistas) é uma grande conquista e um espaço plural. Em torno do alimento fresco, de qualidade, livre de veneno, ela reúne diversas pessoas em um ponto muito especial da cidade – a José Bonifácio, mesmo endereço do Brique da Redenção que acontece aos domingos.
  • Por Ester Mambrini: Vim a Porto Alegre pra estudar na UFRGS. E o percurso da minha vida, que me constitui como pessoa no mundo, tem a ver com ter sido primeiro aluna da UFRGS – em História, depois em Publicidade, ambas interrompidas.  E finalmente em Letras – depois professora substituta (na faculdade de Letras e na Fabico). Mais tarde, ter cursado o mestrado em Linguagem no Contexto Social. Na minha dissertação,  meus agradecimentos foram também aos cidadãos brasileiros pagadores de impostos. Não fosse isso, eu não poderia ter dado continuidade aos meus estudos. Até hoje, sei minha matrícula “de cor”: 0818/86-0. Não por acaso, a etimologia é certeira – a memória do coração. 

Abaixo a imagem que acompanhou as respostas de Ester Mambrini:


A programação cultural

  • Por Vitor Ortiz: Porto Alegre tem uma programação cultural bem diversificada e intensa, tem opções de bares, restaurantes, espetáculos musicais, de teatro, tem cinemas, tem museus. Poderia e deveria ter mais, mas o que tem na atualidade é bem expressivo.

Abaixo a imagem que acompanhou as respostas de Vitor Ortiz:

Foto: Vitor Ortiz

Sensação de liberdade

  • Por Carla Bueno Sigal: Porto Alegre me dá sempre uma sensação de liberdade e de vida! Quando vou chegando ao Centro Histórico abro os braços para o Guaíba e me sinto sempre acolhida e acarinhada!
Foto: Carla Bueno Sigal

Um cheiro

  • Por Víctor Manuel Ramos Lemus: Após descer no Salgado Filho, quando chego em Porto Alegre, sinto um sutil cheiro de madeira (ou carvão) queimada que paira no ar. É o fogo heracliteano que acende e apaga, de acordo com as leis dos encontros acompanhados de carnes e chimarrão. Ao redor dele, estão os amigos, as conversas e as polêmicas.

Uma história

  • Por Luciano Joel Fedozzi: Com o Orçamento Participativo a cidade tornou-se referência internacional em democracia participativa e isso não é pouca coisa, hoje e sempre. Saudade desses tempos 
  • Por Gonçalo Ferraz: Durante a primeira semana que passei em Porto Alegre, creio que em setembro de 2012, alguém furou o Tatu Bola que estava inflado em frente à Prefeitura, em protesto contra já não sei qual desatenção que preocupava os cidadãos à época. Eu morava em Manaus e estava aqui de visita, ponderando a decisão de me mudar ou não para o sul. O destino do Tatu Bola selou o meu destino. Quando soube da história eu pensei: quero morar aqui.
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