Ensaio

O espaço público privado do jornalismo pós-realidade

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O espaço público privado do jornalismo pós-realidade
Esconder o que desagrada e exibir o que interessa ao mercado. Simples assim. O primeiro mandamento do jornalismo da grande mídia determina o que se pode saber e o que se deve pensar sobre assuntos relevantes. Não o que se precisa saber para formar juízo lúcido a respeito. Sim ao que convém aos mimados sócios do clube ultraprivativo do grande capital.  Nesse ambiente de cifrões planetários, os conglomerados de jornal, rádio e tevê atuam em conjunto como super-agência de propaganda dos meganegócios de dentro e de foro do país, à espera de algum naco caído da mesa. A grande mídia se porta como a garganta estridente do mercado e os jornais, especialmente, como o seu Diário Oficial. As editorias de Economia e Política operam sincronizada e revezadamente na degeneração do interesse público em privado. Pouco importa a realidade nua e crua na ponta do nariz. O avestruzismo panaca e a megalomania se juntam para encenar a pantomima de um poder paralelo acima dos demais, um tribunal de sentenças sumárias e irrecorríveis.  Lembra a Igreja medieval em seu auge. Em vez de uma vaga no céu, vende a fantasia de um paraíso aqui mesmo, rodeado de favelas e cortiços.  Entre uma farra privatizante e outra, a sacristia da Redação ensaia o casamento de papel passado de dois entes fantasmáticos, nunca vistos em carne e osso, mercado e opinião pública. A simulação fidedigna dissimula o verdadeiro objetivo do casório de mentira, o de influir no rateio das riquezas da sociedade, o pai dos conflitos sociais. A escancarada opção por um dos lados do conflito aposenta a surrada desculpa de imparcialidade. Na declarada defesa do subdesenvolvimento, a grande mídia oferece ao grande capital o jornalismo pós-realidade como seu instrumento ideológico de controle social. Trata-se de um enfoque narrativo estiloso que abomina as questões sociais clássicas. O que aconteceu de ruim não tem remédio. Ideal para encobrir fatos e situações desagradáveis, o conceito de pós-realidade se impôs como padrão estético e político do jornalismo. Na trama colonialista neoliberal, voluntariamente, a grande mídia se encarrega da legitimação da exclusão social. É inesgotável a seleção de préstimos do jornalismo pós-realidade aos caprichos e obsessões do grande capital. Obedece a uma regra geral inflexível: ocultar as causas e consequências da desigualdade social, para que pareçam obra irreversível do destino. O efeito “amaciante” da realidade busca acalmar os chiliques das tribos do mercado diante das evidências explícitas de conflito social. É o motivo da pasteurização e esterilização da linguagem, o despiste da origem das tragédias. Em consequência, a camuflagem de desinformação supera o esforço de informação. Mais do que uma tentação irresistível, desfazer da realidade parece ser a finalidade secreta do jornalismo pós-realidade. Que outro propósito teria a unificação da pauta e uniformização da linguagem num país tão heterogêneo e plural? No propósito de facilitar os negócios, se obriga a normalizar a anormalidade social e naturalizar a pobreza, a ignorância e a violência. Translada o Brasil Real para a face oculta da Lua. Aposta na desarticulação da sociedade […]

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