Ensaio

Porto Alegre 250 anos. Que encontros você teve com a cidade?

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Porto Alegre 250 anos. Que encontros você teve com a cidade? Arroio Dilúvio (Foto: Divulgação/PMPA)
Em 2022 nossa Porto Alegre comemora 250 anos. Embora os dissensos entre historiadores, historiadoras e toda sorte de pessoas que dão palpite sobre tudo sem entender de nada, a data acordada é 26 de março. Cidades não têm um dia exato como data de nascimento, por mais que tenham sido planejadas, e sua fundação registrada ou até mesmo fotografada. Em parte dos casos, até o ano é difícil de precisar. Quando inicia uma cidade? Definir isso com exatidão envolve sempre certa arbitrariedade. Mas eu assumo e comemoro os 250 anos de Porto Alegre, e com alegria. Nenhum de nós viveu estes 250 anos na cidade. Eu nasci aqui, sempre morei aqui, e estou vivendo o sexagésimo sexto ano na cidade. Comento minhas experiências pessoais em torno de dois locais icônicos da cidade, e de um acontecimento. É meu modo de comemorar os 250 anos. É o meu modo de encontrar a cidade. Canalização do Arroio Dilúvio (Foto retirada deste site) A primeira lembrança que me ocorre é algo que eu mesmo acho difícil acreditar, mas aconteceu, ou melhor acontecia, pois falo de uma série histórica. Morei toda infância e adolescência a uma quadra do arroio Dilúvio, no bairro que hoje se chama Santa Cecília, mas que já foi Petrópolis. Petrópolis era um bairro enorme, começava no Pronto Socorro e seguia até o encontro da Protásio com a Carlos Gomes, se é que não ia adiante. O arroio Dilúvio distava menos de cem metros da casa onde eu morava. Quando criança a gente vivia no seu entorno. Para atravessar ao outro lado se utilizava um cano, largo, no qual era possível caminhar por cima, e que até hoje existe nas proximidades da Faculdade de Farmácia da UFRGS. Algumas vezes caí dentro da água. Um dia eu e meu irmão trouxemos para casa um enorme cágado, uma variedade de tartaruga, pego lá. Queríamos criar o bicho no quintal. Minha mãe ficava furiosa com essas brincadeiras no arroio, e ao menor indício de que havíamos estado lá apanhava a vara de marmelo para castigar.  Edifício Santa Cruz, anos 60 (reprodução) Tínhamos um tio meio biruta que morava com a gente, o tio Lulu, aposentado desde jovem, e que por vezes passava a tarde pescando no arroio. De lá trazia um peixe chamado muçum, meio peixe meio cobra, e aquilo se comia. Acho incrível lembrar isso hoje. Na época já era uma coisa um tanto nojenta. Depois que asfaltaram a avenida Ipiranga, era uma atração ir ver os carros que haviam caído no arroio. Isso acontecia especialmente na curva acentuada do arroio que fica na atual esquina com a avenida Princesa Isabel, hoje próxima do Zaffari Ipiranga. A notícia de um carro caído no arroio, naquela curva, logo ali perto, se espalhava pelo bairro tão rápido quanto hoje se espalham as fake news. A retirada dos carros, com o uso de caminhão-guincho e correntes, era um espetáculo de atrair multidões. Envolvia uma logística enorme, e lamentações, “um carro tão bonito”. Além de cair no […]

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