Ensaio

Que outubro queremos?

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Que outubro queremos?
Nos romances do colombiano Gabriel García Márquez o mês de outubro sempre aparece como o “mês mais cruel”. Seu biógrafo e compatriota Dasso Saldívar lembra-nos, em Gabriel García Márquez, Viagem à Semente, uma Biografia, que Aureliano Buendía, personagem de Cem Anos de Solidão, morre numa tarde chuvosa de outubro, enquanto urina sob uma castanheira do seu quintal. Na madrugada, ao ler sobre como o Prêmio Nobel de Literatura de 1982 adjetivava o décimo mês do ano, passei a me perguntar se outubro não será, também, para parte de nós, brasileiros, o mais cruel de todos os meses. Ficará marcado no calendário brasileiro da mesma forma que agosto e março? Pode-se comparar outubro de 2022 com agosto de 1954 e 1961 e março de 1964? A característica comum às três datas é o ataque à democracia. Qual democracia? A que tem, entre os seus princípios, respeitar a divisão de poderes, o estado de direito, a Constituição e o voto dos cidadãos. Todos estes preceitos foram esquecidos naqueles anos e agora. Ex-ditador por 15 anos (1930-1945), Getúlio Vargas foi eleito pelos brasileiros, em 1950, e voltou ao Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, então capital do país. Quase 50% dos eleitores, para ser mais precisa, 48,73% votaram no candidato da aliança PTB/PSP, quando as eleições se decidiam em um turno só. Ganhava quem obtivesse mais votos. O marechal-do-ar Eduardo Gomes, representante de quatro partidos – UDN/PRP/PDC/PL – ficou em segundo lugar, com a preferência de 29,66% do eleitorado. Getúlio enfrentou uma campanha feroz. Entre os líderes da oposição estava o combativo e ultraconservador jornalista Carlos Lacerda, político da UDN. Com total desrespeito ao processo eleitoral, ele pregava com veemência: “O Senhor Getúlio não deve ser candidato; se for candidato não deve ser eleito; se for eleito não deve tomar posse; e se tomar posse não pode governar”. Excelente orador e bom jornalista, Lacerda dedicou-se a destruir o presidente eleito e o jornal Última Hora, de Samuel Wainer, amigo e defensor de Vargas. Para isso, usou o seu jornal Tribuna da Imprensa, a Rádio Globo, de Roberto Marinho, e a TV Tupi, totalmente liberada para o udenista por Assis Chateaubriand, dono dos Diários e Emissoras Associados.  O jornalista tornou-se o inimigo número um de Vargas. Aumentava as verdades desabonatórias ao governo e espalhava mentiras, sem qualquer limite, como acontece atualmente. Afinal, as fake news não nasceram hoje. O ambiente no Rio de Janeiro e no resto do país era de confronto entre getulistas e lacerdistas/udenistas. Uns e outros andavam armados e protegidos por seguranças. O conflito estourou na madrugada de cinco de agosto de 1954. Ao chegar em casa, na rua Toneleros, Lacerda foi baleado e o major Vaz, morto. O militar da Aeronáutica integrava um grupo de oficiais que protegia o Corvo.  O tiro atingiu também o Catete. Ficou provado que o mandante do ataque fora Gregório Fortunato, conhecido como o Anjo Negro de Getúlio. Na madrugada de 24 de agosto, o presidente foi avisado que as Forças Armadas se preparavam […]

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