Sobre nosso comum desamparo

Parto da densa Carta ao pai, de Franz Kafka, recortando apenas um pequeno trecho de uma longa passagem sobre as brigas à mesa:
“Ouve-se então apenas o seguinte: ‘Faça o que quiser; por mim você está livre; você é maior de idade; não tenho conselhos para lhe dar’ — e tudo naquela inflexão terrível e rouca de ira e da completa condenação, diante da qual eu hoje só tremo menos que na infância porque o sentimento de culpa exclusivo da criança foi em parte substituído pela compreensão do nosso comum desamparo (grifos meus).
“Nosso comum de desamparo” — é sobre a noção do desamparo como afeto comum, compartilhado, que busco tecer este brevíssimo ensaio tentando pontuar a relevância desse conceito no incessante diálogo entre psicanálise e política.
Hilflosigkeit: “comum desamparo”
[Continua...]